Apesar de não ser feriado na capital federal, o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado oficialmente hoje (dia 20/11, terça) no Brasil, é lembrado em diferentes âmbitos da cultura no DF. O objetivo é usar a data, que coincide com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, para valorizar e colocar luz sob a produção afrobrasileira. ;O 20 de novembro precisa ser entendido como um grande feriado nacional para que o país reflita sobre as questões de raça e possa construir políticas de combate à erradicação do racismo institucional e cotidiano;, analisa Guitinho da Xambá, vocalista do grupo Bongar.
A banda pernambucana é uma das atrações da Ocupação Baobá, que teve início ontem (dia 19/11, segunda) e segue hoje com programação extensa na Caixa Cultural Brasília. Com mais de 15 anos de carreira, o grupo é formado por seis integrantes, todos percussionistas e cantores, e faz um trabalho de resgate da cultura e da religião de matriz africana Xambá. ;A Ocupação Baobá tem representatividade para ser voz e instrumento do nosso povo negro por meio da arte da música de terreiro. Será um grande espaço para que a gente possa falar sobre esse dia tão importante. É muito bom estar na capital do Brasil para comemorar essa data. Há vários anos, o Bongar celebra o 20 de novembro em cidades fora de Pernambuco, comprovando o reconhecimento do trabalho do grupo. É muito gratificante;, completa Guitinho da Xambá.
Na apresentação em Brasília, marcada para as 20h no teatro da Caixa Cultural, o sexteto traz o show Ogum lê!, inspirado no disco homônimo que une ancestralidade, tradição e contemporaneidade, e contará com a participação da cantora moçambicana radicada em São Paulo Lenna Bahule. Essa será a primeira vez que a artista se apresentará ao lado do Bongar. ;Eles me procuraram e fiquei muito feliz. Eu pretendo cantar as músicas do Bongar e levar uma ou duas canções compostas especialmente para o projeto;, adianta a cantora.
No Brasil há alguns anos, Lenna Bahule acredita que a celebração do Dia da Consciência Negra no país é muito importante, mas, ao mesmo tempo, lamenta que a cultura negra só seja lembrada no período. ;Acho que é um tipo de consciência que tem ser diária, 24 horas por dia. Fico pensando que uma das coisas que o Brasil perde como nação é a oportunidade de reconhecer a sua diversidade. Sinto que o Brasil não se reconheceu afrodescendente. Esse mês abre a oportunidade de conscientizar e relembrar as pessoas que o samba, o funk, o arrocha e tantos outros ritmos tem toda uma história ligada com a ancestralidade negra. Se os negros não tivessem existido, chegado e lutado aqui para permanecer vivo, não teria bossa nova. Não teria nada;, avalia. E ainda completa falando sobre o evento: ;Vamos lembrar e honrar isso, celebrar essa ancestralidade brasileira;.
Ainda hoje, a Ocupação Baobá terá a feira e o desfile Diáspora 009, das 18h às 23h, no foyer da Caixa Cultural, além da apresentação do Tambor de Crioula de Seu Teodoro, às 18h, na calçada do Edifício Matriz.
Diversidade
Em sua oitava edição, a Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça, mais conhecida como SerNegra, é outra programação oficial do Dia da Consciência Negra. A programação teve início ontem (dia 19/11, segunda) e segue até amanhã com palestras, debates, oficinas, shows e espetáculos. Hoje, o evento recebe mesas como Negritude e Direitos Sexuais e Reprodutivos, a partir das 17h, com Jaqueline Côelho, professora de Letras do IFB e estudiosa de análise de discurso crítica sobre aborto; a historiadora e especialista em gestão pública, doula e educação perinatal Elaine Meireles; e a bióloga Fernanda Lopes. A moderação fica com Jaqueline Regis, professora do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade da UnB.
Também hoje, a partir das 12h, o seminário recebe as apresentações dos espetáculos Sacrilégio, que traz fragmentos de obras de Marcelino Freire e Conceição Evaristo, de Caliandra Molotov e Carolina de Souza, e Sujeira Calada Nu TaPeTe, do Coletivo Formativo OniBabel de Arte Contemporânea, que denuncia e propõe formas de enfrentamento da violência doméstica. No encerramento, amanhã, a cantora e percussionista Nãnan Matos apresenta o show em tributo aos 100 anos de Nelson Mandela. A apresentação é a partir das 19h30 na Sala Plínio Marcos, no Complexo Cultural Funarte, no Eixo Monumental.
Já no sábado e no domingo, a Caixa Cultural recebe pela primeira vez o espetáculo Concerto Negro, uma parceria entre Martinho da Vila e o maestro Leonardo Bruno, que une música popular e erudita com referências da cultura afrobrasileira com participação da Orquestra Zumbi dos Palmares e Coral da Família Alcântara. Antes do show no sábado, às 18h30, o foyer da Caixa Cultural terá ainda o Desfile Beleza Negra, um evento que tem como objetivo fortalecer a imagem do negro no mercado da moda. A programação é gratuita e aberta para todos os públicos.
Cinema
O cinema é a temática da 3; edição da Mostra Conexões Ancestrais, que hoje (20/11) tem programação a partir das 19h no Teatro dos Bancários. O evento começa com apresentação do saxofonista João Filho e depois segue com a exibição do longa-metragem No caminho pro Quilombo, de Fabrício Cezar, com Cris Pereira, Nãnan Matos, Lino Ribeiro, Mestre Vila e Mestra Edna Lima no elenco.
O filme mostra a jornada de empoderamento de Sebastião (Lino Ribeiro), que decide fugir para um quilombo contemporâneo após se sentir totalmente perdido e invisível na sociedade. A produção acompanha a superação de obstáculos do protagonista e afirmação da identidade com elementos como samba, danças de matriz africana, capoeira e maculelê.
Serviço
VII SerNegra
Instituto Federal de Brasília (610 Norte ; IFB). Hoje e amanhã (confira, abaixo, a programação completa). Com debates, palestras, oficinas, shows e espetáculos. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Concerto Negro
Teatro da Caixa Cultural de Brasília (SBS, Qd. 4, Lt. 3/4). Sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Com Martinho da Vila, Orquestra Zumbi dos Palmares, Coral da Família Alcântara e maestro Leonardo Bruno. Entrada franca com retirada de ingressos na Caixa Cultural. Classificação indicativa livre.
Conexão Baque Angola
Batalhão das Artes (QI 25, Praça da ACIT ; Taguatinga). Domingo, às 17h. Com oficinas do Conexão Baque Angola (Fundamentos e manutenção de instrumentos; Estudos Baque Angola e Baque Angola DF ; Herança e empoderamento) e apresentações de Lirys Catharina (foto) e Maracatu Leão da Campina. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Exposição Raízes negras
2; Piso do Boulevard Shopping (STN, Cj. B). De hoje até 2 dezembro. Visitação de segunda a sábado, das 10h às 22h. Domingo e feriado, das 13h às 19h. Com fotografias dos colaboradores do shopping. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Mostra Conexões Ancestrais
Teatro dos Bancários (314/315 Sul). Hoje, a partir das 19h. Com show do saxofonista João Filho e exibição do filme No caminho pro quilombo, de Fabrício Cezar. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Ocupação Baobá
Caixa Cultural Brasília e Átrio de Vitrais do Edifício Matriz da Caixa (SBS, Qd. 4, Lt. 3/4). Hoje, das 18h às 20h, feira e desfile Diáspora 009. Das 18h às 18h45, apresentação do Tambor de Crioula de Seu Teodoro. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Hoje, às 20h. Show Ogum lê, com grupo Bongar e Lenna Bahule. Entrada a R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira). Não recomendado para menores de 12 anos.
Confira a programação do VII SerNegra:
Hoje, às 12h, no hall do Bloco C - ;Sacrilégio;. A peça teatral de Caliandra Molotov e Carolina de Souza (DF) consiste em leitura dramática a partir de fragmentos da obra dos escritores Marcelino Freire e Conceição Evaristo, além de poemas das próprias autoras. A encenação trata do desrespeito sofrido por mulheres negras no Brasil. Duração: 25 minutos.
Hoje, às 12h30, Sala 201 C - ;Sujeira Calada NU TaPeTe;. O Coletivo Performativo OniBaBel de Arte Contemporanea (DF) - integrado por estudantes do IFB dos cursos de Dança, ensino médio integrado em informática e técnico em moda - apresenta espetáculo de dança-teatro que denuncia e propõe formas de enfrentamento da violência doméstica que vitimiza grupos vulnerabilizados em nossa sociedade. A plateia será confrontada com seus medos, estabelecendo assim um diálogo político-pedagógico sobre nossa atualidade. Duração de 30 min.
Hoje, às 17h - "Negritude e Direitos Sexuais e Reprodutivos" é outro tema a ser debatido pelas seguintes convidadas: Jaqueline Coêlho professora de Letras do IFB, estudiosa de Análise de Discurso Crítica sobre aborto; a historiadora Elaine Meireles, especialista em Gestão Pública, doula e educadora perinatal; e a bióloga Fernanda Lopes, consultora nas áreas de saúde e direitos humanos, gênero, desenvolvimento e igualdade racial. A moderação será de Jacqueline Regis, professora do Núcleo de estudos de Linguagem e Sociadde da Universidade de Brasília.
Amanhã, das 8h30 às 12h, no Hall do Bloco C - ;Rumo ao Encontro Nacional de Mulheres Negras: 30 anos contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Mulheres Negras movem o Brasil;, também será tema de Roda de Conversa, puxada por ativistas e pesquisadoras como a pedagoga Alessandra Pio, Elaine Meireles, articuladora da Marcha de Mulheres Negras no DF e Janira Sodré, Coordenadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Raça e Africanidades do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. A atividade integra o calendário de mobilizações em torno do Encontro, que e ocorrerá de 6 a 9 de dezembro, em Goiânia (GO). Em discussão, os avanços do movimento de mulheres negras, desafios e perspectivas diante do atual cenário político-social e econômico brasileiro.
Amanhã, às 12h, no Museu da Biblioteca - O aquarelista;. Lançamento do livro de Ana Vieira (DF). O romance é ambientado na África do Sul e nasceu da pesquisa realizada in loco sobre o período do apartheid.
Amanhã, das 14h às 17h, na sala 108 D - A ;Roda de conversa: LGBT;s negras no contexto atual;, fará os recortes de raça e orientação sexual na discussão. A iniciativa é dos ativistas Tarcísio José Ferreira, especialista em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, e do professor de Serviço Social, Gerson Martins de Sousa (DF), pesquisador na área de politicas de saude e população LGBT.
Amanhã, às 15h, no Auditório do Bloco C - ;Casa Rosa Cruz;. A peça teatral é encenada por pessoas com surdez e autismo e discute inclusão social e violência familiar. A direção é de Lucas Teles de Lima (DF) e a classificação indicativa é de 16 anos.
Amanhã, às 16h30 - "Quilombos, Terreiros e Capoeira Angola: equidade de gênero e tradições afrocentradas", é a mesa de debate que vai reunir Givânia Maria da Silva, doutoranda em Sociologia, natural do Quilombo de Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE) pesquisadora da áreas de educação, organização de mulheres e questões agrárias em quilombos; a historiadora e capoeirista Mestre Janja, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, professora da Universidade federal da Bahia e fundadora do Instituto Nzinga de Estudos da Capoeira Angola e Tradições Educativas Banto no Brasil; Mãe Bárbara Mam %u0301etu Kafurengá, sacerdotisa-mor da Comunidade de Terreiro do Campo Bantu-Indígena Caxuté, localizado na Costa do Dendê (Baixo Sul da Bahia); com moderação de Bárbara Olivieira Sousa, doutora em Antropologia.
Amanhã, às 19h30, na Funarte (Eixo Monumental) - ;Nãnan canta África, Tributo aos 100 anos de Nelson Mandela;. A cantora, percursionista e dançarina Nãnan Matos (DF) fará uma homenagem ao maior líder mundial no combate ao racismo e também à Década Internacional dos Afrodescendentes (2015- 2024), instituída pela Organização das Nações Unidas.