Diversão e Arte

Humoristas do Choque de Cultura levam para livro a linguagem do programa

A intenção de '79 filmes pra assistir enquanto dirige' foi escrever para todo tipo de público, inclusive o que nunca assistiu ao programa

Nahima Maciel
postado em 17/11/2018 08:00
Os personagens do Choque de Cultura apresentam críticas e observações um tanto quanto exóticas

Schwarzenegger se cansa da matança e vai morar em Visconde de Mauá com a filha. Free Willy é a história de uma baleia infeliz e Te pego lá fora, um documentário que mostra a questão da violência na escola de um jeito errado. RoboCop poderia ser um musical e E.T. ; O extraterrestre é apenas mais uma história sobre um pet que dá um trabalho do cão. O olhar enviesado faz dos personagens do programa Choque de cultura críticos um tanto duvidáveis e é nesse detalhe que os oito humoristas responsáveis pelo roteiro e pela atuação apostam em 79 filmes pra assistir enquanto dirige.

A linguagem das críticas é a mesma desenvolvida por Caíto Mainier, Daniel Furlan, Leandro Ramos, Raul Chequer na pele dos personagens Rogerinho, Renan, Julinho e Maurílio no programa no qual motoristas de van comentam os filmes de Temperatura Máxima. O mesmo tipo de humor serve de base e nenhum texto escapa ao absurdo que dá o tom do programa. ;A gente sempre escreveu;, conta Leandro Ramos. ;Antes de atuar, todo mundo escrevia e a gente já tinha vontade de fazer um livro, mas não tinha parado pra pensar que livro, como seria isso e tal.; Ramos lembra que, na época que fazia o programa Larica total, no Canal Brasil, em parceria com Caíto, os dois escreveram um livro, mas o material nunca chegou a ser publicado.

A intenção de '79 filmes pra assistir enquanto dirige' foi escrever para todo tipo de público, inclusive o que nunca assistiu ao programaPara 79 filmes pra assistir enquanto dirige, os atores e humoristas contaram também com a participação dos roteiristas do Choque de cultura. David Benincá, Fernando Fraiha, Juliano Enrico, Pedro Leite participaram da escrita em um trabalho colaborativo. Ramos conta que, no início, a ideia era fazer algo na linha de roteiros ou talk shows assinados pelos personagens. Os quatro críticos do programa são inspirados em motoristas de vans e gostam, principalmente, de comentar filmes de ação. ;Depois, achamos que não era isso e viemos com essa ideia de ser crítica de filme. Cada piloto escreveria sua crítica;, diz Ramos.

Foi, também, uma maneira de se libertar um pouco de uma programação, já que o Choque de cultura precisa seguir a lista de filmes programados pela Globo. Na seleção dos humoristas, entraram, além dos filmes de ação que são a cara do programa, alguns cults como Tudo sobre minha mãe, Edward mãos de tesoura, O encouraçado Potemkin e O iluminado. ;Achamos que seria engraçada a visão deles sobre um filme cult;, explica Ramos. A lista foi então distribuída e os humoristas ficaram encarregados de, além da crítica, escrever uma pequena autobiografia. Os roteiristas participaram com interferências nos textos dos personagens, além de produzirem algumas críticas coletivas.

A intenção era escrever para todo tipo de público, inclusive o que nunca assistiu ao programa. ;A gente tenta dar uma cara meio de Choque ao livro. Por exemplo, o Choque tem muito a coisa das vinhetas meio malucas, então a gente incorporou isso no livro. Tentamos colocar as brincadeiras e tem sempre o recado final do Renan, que é um piloto preocupado em trazer uma boa informação no recado final;, avisa Ramos. Ele queria que o público do programa reconhecesse a linguagem do vídeo, mas também se preocupou em tornar o material inteligível para quem não acompanha o Choque de cultura.

A única coisa que ficou de fora foram os silêncios e as expressões dos personagens, impossíveis de serem reproduzidos em livro. ;O vídeo tem uma coisa do tempo morto, tem aquele momento das notas baixas, quando o Renan ou o Julinho falam a maior das barbaridades com uma sinceridade tão grande e com um sorriso muito tranquilo. Muito do humor do Choque tá nisso. E isso, para colocar no texto, é um pouco mais difícil porque tem muito do jeito de falar e tal. Mas acho que rolou;, constata Ramos.


Choque de Cultura ; 79 filmes pra assistir enquanto dirige
De Caíto Mainier, Daniel Furlan, Leandro Ramos, Raul Chequer, David Benincá, Fernando Fraiha, Juliano Enrico e Pedro Leite. Galera Record, 240 páginas. R$ 37,90



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