Ricardo Daehn
postado em 15/11/2018 06:30
O show de bizarrices que desfilará nas telas, em cada sessão do mais novo filme de Lars von Trier, está engatilhado: no ritmo de uma metralhadora desgovernada, a violência povoa toda a existência do protagonista, ninguém menos do que um serial-killer (papel de Matt Dillon). Tudo com a falta de piedade patente no cineasta dinamarquês que nunca renegou as origens tortas brotadas de uma educação severa que inflama muitas das imagens pelas quais se expressa na telona.
;Sempre acreditei que tudo o que pudesse ser mostrado ou ensinado na vida deveria ser mostrado nos cinemas;, explicou, ao The New York Times, o mestre de uma provocação calculada, a cada um de seus filmes. Com A casa que Jack construiu, que chacoalhou sessões de Cannes, nada se faz diferente.
Nazista assumido (com direito à retratação, pela péssima repercussão de ;uma brincadeira;), no 13; filme, von Trier combate o que chama de censura e correção política. Gênio da arrogância, desde a explosão como diretor internacional, com a acolhida ao longa Europa (1991), o diretor não passou batido, pelo julgamento rude da imprensa internacional que acompanhou o lançamento de A casa que Jack construiu.
;Existem poucos momentos (no filme) nos quais a estupidez de von Trier não, por completo, domina e anula o seu talento;, publicou o Time Out. ;O filme foi feito para irritar;, defendeu o ator Matt Dillon, ao site Fox News, na desconfortável posição de protagonista do longa-metragem que tem mais de duas horas e meia. Sem demora, acrescentou o posto para cada espectador: ;Você estará em lugares escuros e perturbadores;. Na telona, Dillon divide o brilho com Uma Thurman, Riley Keough e Jeremy Davies.
Seja com as próprias mãos, seja com cordas, rifle e um macaco de carro, Jack, no filme, se afirma como um arquiteto, um engenheiro da morte, aplicado na taxidermia e em rigorosos rituais, a bordo de uma van vermelha. Se, no passado, já feriu sensibilidades, von Trier agora, com seu novo filme, parece tentado a destroçá-las.
No jogo, quem poderia mais ; o cineasta que, há sete anos, se viu banido da festa do cinema em Cannes (e tachado como ;persona non grata;) ou seus detratores? A depender do poder de fogo do Los Angeles Times, a briga é dura. Classificado como ;maçante;, pela ;profanação de corpos;, entre outros fatores, o filme foi desacreditado, num texto crítico. ;Com um colossal narcisismo, A casa que Jack construiu reclama uma dose de profundidade, mas resulta apenas em um sereno enojamento;.
Uma luz na escuridão
Há seis anos, com o longa A invenção de Hugo Cabret ; detido na exploração da criação e do impacto da arte no dia a dia ;, o diretor Martin Scorsese concorreu a 11 prêmios Oscar. No manejo de um universo similar ao de Scorsese, o brasileiro Cacá Diegues tenta, com o mais novo filme, já exibido no Festival de Cannes (em caráter especial), chegar ao feito de uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O Grande Circo Místico, que tem no elenco nomes como Antonio Fagundes e o brasiliense Juliano Cazarré.
Numa coprodução que une Brasil, Portugal e França, O Grande Circo Místico é o 18; longa-metragem assinado por Cacá Diegues, um dos nomes sacramentados na cultura nacional, dada a importância que teve no despontar do Cinema Novo. Membro da Academia Brasileira de Letras, com o filme, Diegues adaptou (com o roteirista George Moura) uma extensa poesia de Jorge de Lima que já tinha dado base para obra do Balé Teatro Guaíra, musicada pela dupla Edu Lobo e Chico Buarque.
[FOTO4]
No filme escolhido para representar o Brasil numa pré-seleção do Oscar, via Academia Brasileira de Cinema, Cacá conta trama estendida entre 1910 e a contemporaneidade. O cineasta de longas como Bye bye Brazil e Quilombo, com O Grande Circo Místico, se detém no cotidiano da família Kieps, explorado pela narrativa do personagem Celaví (Jesuíta Barbosa).
A aquisição de um circo, herdado e repassado por cinco gerações de personagens de uma família aristocrática, dá o pontapé inicial ao enredo que traz personagens como a trapezista Margarete (Mariana Ximenes), a contorcionista Beatriz (Bruna Linzmeyer) e outros papeis interpretados por Catherine Mouchet (do recente drama Marvin), Vincent Cassel e Marcos Frota. O longa teve a direção de fotografia assinada por Gustavo Hadba (Faroeste caboclo).
Outras estreias
; A prece
; Um segredo em Paris
; Sueño Florianópolis
; A rota selvagem
; Entrevista com Deus
; Verão
; Tudo acaba em festa