Combater o poderio de um império estabelecido, repleto de heróis populares e alinhados sobre o selo de qualidade da DC Comics, foi a tarefa delegada a um homem de imaginação ilimitada: Stan Lee. À frente da Marvel, concorrente imediata da sólida DC, o editor, criador de personagens e diretor artístico Stan Lee é símbolo de uma revolução: além de arrojado autor de enredos, fez a ponte que hoje em dia rende potes de ouro para a indústria de cinema. O desdobramento multimídia de quadrinhos, migrados para a tevê e revertidos em múltiplas conexões para produtos da telona refletem a sagacidade do ícone pop Stan Lee, dono do legado de criar ou cocriar personagens de histórico imbatível, numa lista que agrega Homem-Aranha, X-Men, Hulk, Thor, Homem de Ferro e Pantera Negra.
[SAIBAMAIS]Os super-heróis e os fãs de quadrinhos ficaram órfãos na manhã de ontem, quando o principal nome do gênero no mundo escreveu seu último capítulo. O norte-americano Stan Lee, morreu, aos 95 anos, no Cedars-Sinai Medical Center, hospital em Hollywood (EUA). A causa da morte não foi revelada, porém ele estava com a saúde debilitada há algum tempo.
Além dos problemas de saúde, no último ano, Lee teve várias pertubações. Ficou viúvo em junho do ano passado, quando a mulher Joan, 93 anos, morreu após sofrer um derrame cerebral. Na época, o quadrinista também teve de lidar com acusações de assédio sexual contra ele e ainda de que estaria sendo vítima de abuso por parte da filha Joan Celia Lee, 68. Lee negou os dois casos.
Apesar de ter conquistado fama criando os mais famosos personagens da Marvel, foram as produções audiovisuais que o levaram a um patamar ainda mais alto. A maioria dos longas de sucesso na última década são da Marvel, empresa que Stan Lee catapultou com criações, como Os Vingadores, Homem de Ferro, Thor, Homem-Aranha e X-Men, em parceria com a Disney. Além disso, o currículo cinematográfico o tornou a principal figura pública da Marvel, com aparições em convenções e também nos filmes da empresa, que viraram um marco e um momento muito aguardado pelos espectadores
Um mundo à parte
Não se tratava de um molde ou uma fórmula, mas Lee ficou famoso pelo emprego do método da Marvel, na qual passou a trabalhar, ainda em fins dos anos 1930, quando a empresa levava outro nome. Passada a saraivada de ideias tidas em conjunto com parceiros (entre os quais os cocriadores de celebridades do mundo Marvel Steve Ditko e Jack Kirby), uma sinopse era criada e, a partir dos desenhos, e dos espaços na o texto, Lee exercia sua mágica.
Injetar humanidade e incertezas em personagens entre os quais os integrantes do Quarteto Fantástico (que ele criou, em 1961) estava nas habilidades de Stan Lee, capaz de talhar complexidade nas tramas das histórias em quadrinhos. Com Bill Everet, Stan Lee se aplicou em apresentar, por exemplo, um justiceiro cego que se afirmou empoderado, em O demolidor. O descontrole com uso de ousadias, no ano de 1971, foi uma das ousadias junto ao personagem Harry Osborne explorado no animado universo de Lee.
Um tanto encolhido entre as glórias de engenheiros e médicos, coube a Stan Lee definir a estatura de sua arte, numa entrevista para o Chicago Tribune: “Achava que fazia histórias fictícias de pessoas detentoras de feitos extraordinários, em ações loucas, e que usavam fantasias. Percebo agora, entretanto, que o entretenimento não é algo facilmente descartável”. Se alguém achava que, por si, a vida de Stan Lee (descrita por ele na autobiografia de 2002 Excelsior! The amazing life of Stan Lee) renderia uma série de quadrinhos, ele mesmo tratou de agir: em setembro de 2016, ajudou dois colegas na escrita dos quadrinhos Incrível, fantástico, inacreditável: a biografia em quadrinhos do gênio que criou os super-heróis da Marvel.
Nascido em 1922, com o nome de Stanley Martin Lieber, o homem que, em 1963, viria a responder pelo parto artístico do fenômeno batizado Os v ingadores, teve uma vida inicial modesta, vivida no Bronx (Nova York). Aos 19 anos, galgou o posto de editor da futura Marvel. Entre os feitos anteriores, debutou num apêndice de duas folhas criadas para Capitão América (número 3), de Jack Kirby e Joe Simons.
Nos anos de 1940, foi recrutado para o Exército, no qual teve aproveitada a capacidade de rascunho de manuais e desenho de táticas. Bem antes de chegar ao império de uma herança estimada em US$ 70 milhões, Stan Lee se afirmou como editor da Marvel, nos anos de 1970, recebendo a seguir a missão de progressivamente, nos anos de 1980, se aproximar da almejada Hollywood, já estabelecido em Los Angeles. Uma das estratégias de contato entre quadrinhos e a tevê resultou na série de televisão para a CB,S O incrível Hulk.
Tendo perdido a esposa Joan, numa união de 71 anos, Stan Lee amargou recente fase de declínio pessoal (com processo prometido para os colaboradores da temporária empresa dele, a POW! Entertainment e até acusação de assédio). Além do irmão Larry Lieber (empregado da Marvel), Lee deixa, para sempre, nos fãs a impressão do velhinho descolado, que usava tênis nas inúmeras convenções de heróis, e que — de tão pop — foi incorporado pelo mundo paralelo de Os Simpsons.
Repercussão
A morte de Stan Lee mobilizou a comunidade geek. Astros de diferentes países foram às redes sociais para lamentar a perda. No Brasil, os youtubers PC Siqueira e Felipe Neto lembraram a importância do editor. “É muito, muito, muito triste a notícia da morte de Stan Lee. Porém, fico muito feliz em saber que ele viveu o suficiente para ver suas obras tornado-se amadas pelo mundo inteiro, em todas as idades. Obrigado por tudo, Stan Lee! Um dos maiores gênios da história do entretenimento”, escreveu Neto.
Siqueira postou: “O Stan Lee foi o maior herói da minha infância. A maior inspiração que me levou a querer (e) trabalhar com histórias em quadrinho. Tá aí um cara que cumpriu seu papel na humanidade: criou heróis, inspirou artistas e fez o que amava até seus últimos dias. Excelsior!”.
Internacionalmente, Lee foi lembrado por nomes, como Chris Evans, o Capitão América do universo Marvel. “Nunca haverá outro Stan Lee. Por décadas, ele providenciou aventura, escapismo, conforto, confiança, inspiração, força, amizade e alegria para fãs mais velhos e mais jovens. Ele espalhou amor e gentileza e deixará sua marca por muitos e muitos anos. Excelsior!”, publicou no Twitter.
Outros dois nomes que trabalharam com Stan Lee nos cinemas também se pronunciaram. Ryan Reynolds, o intérprete do personagem Deadpool, agradeceu ao trabalho do cartunista: “Descanse em paz, Stan. Obrigado por tudo”. Assim como Kat Dennings, que trabalhou nos filmes do Thor: “Stan Lee. Um homem educado e um gênio. Foi uma honra ser uma pequena parte desse universo. Descanse em paz”.
*Estagiários sob supervisão de José Carlos Vieira