Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Cinebiografia de Chacrinha é retrato de um louco encantador

Longa de Andrucha Waddington apresenta Chacrinha como um ícone pop

Ex-aluno de medicina; baterista, quase ao acaso, de uma banda de navio ou simplesmente um dos maiores comunicadores que o Brasil já conheceu. Qualquer um destes predicados resvala na mesma figura pública batizada de Chacrinha, mas que, por trás de toda uma estrutura de festejos e alegria, presentes no dia a dia profissional, carregava sonhos e frustrações de todo e qualquer homem. É nesta dualidade que se apega o roteiro de Chacrinha: O Velho Guerreiro, filme em cartaz a partir de hoje em cinemas de todo o país, sob a criativa lente do cineasta Andrucha Waddington. Escalados para viverem Chacrinha, em diferentes fases da vida, Stepan Nercessian e Eduardo Sterblitch despontam no protagonismo do longa-metragem.

;Chacrinha é um ícone pop, talvez o maior do século 20 na cultura brasileira. Um cara absolutamente irreverente que começou a vida com uma mão na frente e outra atrás, vindo de Surubim, passando por Recife e que veio parar no Rio de Janeiro, tentando a carreira como locutor de rádio. Nessa condição: ele tinha sotaque, era rouco, feio e fanho. Ninguém esperava que ele tivesse uma carreira promissora, e ele criou uma forma irreverente e única de fazer rádio que depois carregou para a tevê;, comenta Waddington, em entrevista ao Correio. Locutor de rádio, José Abelardo Barbosa (o Chacrinha), como esperado, na trama desenvolvida para o cinema, traz um novelo de referências e de personalidades que se cruzam nas telas, ao menos na esfera sonora. Daí, o filme abraçar músicas de universos tão diversos quanto as de Raul Seixas, Sidney Magal, Odair José e Noel Rosa.

;Ele tinha um pilar fundamental: uma admiração e uma apreciação pela diversidade. A tolerância e o amor à diversidade faziam a identificação enorme com todo o público que idolatrava ele. O dom era ser o maior Diskey Jockey que o Brasil teve. Chacrinha, por ser tão eclético na sua curadoria musical, conseguiu ultrapassar todas as barreiras e conquistar o público de A a Z, de todas as idades, de todas as classes sociais;, pontua o cineasta, conhecido por sucessos como Eu, tu, eles (2000), Sob pressão (2016) e Os penetras (2012). Morto em 1988, aos 70 anos, o Velho Guerreiro, que é visto por Andrucha Waddington como um ;anarquista calculado;, dada a plenitude de realização na carreira, rendeu a primeira incursão de Andrucha como diretor teatral em Chacrinha, o musical (2014).

Símbolos indissociáveis à figura de Chacrinha, entre os quais a buzina, os calouros e as chacretes, se juntam, na telona, a talentos reconhecíveis pelo público moderno que estão em cena no filme, como é o caso de Criolo, Daúde, Luan Santana e do português António Zambujo. Cantando Amor quando é amor e Canto das três raças, a atriz baiana Laila Garin (de Elis, o musical) assume o papel de Clara Nunes, na fita. A personagem da vida real desperta uma das questões ;delicadas; do filme, segundo o diretor. O enredo, que atravessa o período entre 1939 e 1982, ficou a cargo do roteirista Claudio Paiva, que, no império do Chacrinha, como cartunista, respondeu até por parte do cenário do popular programa de tevê.



Um caso sério?

;Não existiam questões espinhosas a serem contornadas. Houve sim a versão de que Clara Nunes e Chacrinha tiveram um caso, e isso nunca será elucidado. Claudio Paiva e eu nos preocupamos em manter a possibilidade de o caso ter acontecido ou não. É óbvio que houve um envolvimento artístico entre ambos muito forte. Não seríamos nós, Claudio e eu, que definiríam se o caso existiu ou não. Os rumores existiram e, como todos, atrapalham a vida pessoal. Mostramos, no filme, que fofocas têm consequências nas vidas das pessoas;, comenta o diretor.

Num papel duplo na tela, vivendo os irmãos gêmeos Leleco e Nanato (os filhos de Abelardo Barbosa), Pablo Sanábio responde por outro momento difícil na trajetória do Velho Guerreiro. ;O acidente do Nanato, em 1971, que mudou a rotina de vida de toda a família ; trouxe um trauma enorme, também está no filme. Não queríamos um filme chapa-branca, mas um filme que contasse quem era o Abelardo e quem era o Chacrinha. Como eles se relacionavam entre si e com o entorno deles;, conclui o diretor.




Outras estreias


Millennium: A garota na teia de aranha
; Agora dirigida por Fede Alvarez, a aventura que envolve a hacker Lisabeth Salander alcança planos nada amistosos de americanos e suecos. Claire Foy (O primeiro homem) estrela.


Operação Overlord
; Com produção de J.J. Abrams, o longa é assinado por Julius Avery. Na trama, um local ocupado por nazistas se torna palco de ação para paraquedistas norte-americanos.


Moacir ; O santista que conquistou os argentinos
; O diretor Tomás Lipgot dá vazão à vontade do protagonista Moacir dos Santos, egresso de hospital psiquiátrico: quer ver a fantasia da consagração com a música realizada neste documentário.


Todas as canções de amor
; Joana Mariani conduz a fita romântica em que a rotina de dois casais se conecta, com duas décadas de distanciamento. A descoberta de uma fita K7 serve como ponte para o estreitamento das relações de personagens defendidos por Marina Ruy Barbosa, Bruno Gagliasso e Luiza Mariani.


O Grinch
; Codiretor de Pets ; A vida secreta dos animais, Yarrow Cheney se junta ao cineasta Scott Mosier para contar dos desgostos acirrados do protagonista: o Grinch (dublado por Lázaro Ramos) detesta, com todas as forças, o Natal; daí, se acha no direito de invadir a cidade de Quemlândia, na qual os moradores têm ruidosas celebrações ligadas ao aparecimento de Papai Noel.


Museu
; De Alonson Ruizpalacios, o filme conta episódio da história mexicana recente: em 1985, na véspera do Natal, dois jovens executaram o plano de roubar peças do importante Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México.