Diversão e Arte

CCBB traz mostra com obras de um artífice do cinema: Philippe Garrel

Atuante desde os anos de 1960 no na sétima arte, o realizador francês Philippe Garrel, aos 70 anos, passa por redescoberta no Brasil, com direito à mostra no CCBB

Ricardo Daehn
postado em 30/10/2018 07:15
Desde os anos de 1980, o diretor francês Philippe Garrel ocupa lugar de destaque nos festivais de cinema
Na vida real, pai do ator Louis Garrel, o cineasta francês Philippe Garrel teve uma estrada fértil e inspirada até ser simplificado, por parte da mídia, como o pai do astro de Os sonhadores e O formidável. Trabalhando com o avô de Louis, Maurice, um ator e cineasta, Phillipe teve a carreira balizada, ainda em meados dos anos de 1960, por filmes que quebravam modelos familiares, apostavam na liberdade (Jovens desajustados, de 1964) e se espantavam com dados do consumismo desenfreado. Reunindo 28 obras (a maior parte assinada por Philippe Garrel), a mostra O cinema interior de Philippe Garrel descortinará, no cinema do CCBB (SCES, Tr. 02), uma cinematografia algo obscura pelos brasileiros.
;Vários filmes que não tinham sido nunca lançados em nosso mercado exibidor, em formato original, foram resgatados. É o caso de O leito da virgem (1969), Altas solidões (filme de 1974, mudo e com a musa Jean Seberg) e Ela passou algumas horas sob a luz do sol (1984). Estas cópias restauradas vieram dos arquivos da Cinemateca Francesa e até precisaram de uma autorização do próprio cineasta para se destinarem ao Brasil;, conta a curadora da mostra Maria Chiaretti (parceira do curador Matheus Araújo).

Os espectadores que forem mais aplicados na descoberta dos filmes de Garrel, que versam sobre alienação e engajamento, além de investirem em alegorias que alcançam até mesmo a imagem de Jesus, depois do comparecimento em cinco sessões, terão direito a um exemplar do caprichado catálogo da mostra (que tem ingresso a preço fixo de R$ 5).
Até 18 de novembro, além da exibição de 15 cópias em 35 mm, um dos diretores franceses mais absolutamente influenciado pela nouvelle vague ganha expressão renovada, diante da mostra do CCBB. Autor de peso ; a ponto de, em 1968, ter filme e a constante trupe de cinema assimilada em making of desenvolvido por Frédéric Pardo ; Garrel, atualmente com 70 anos, será homenageado com blocos de exibições que incluem a fase dos títulos muito mais narrativos (românticos e realistas), mas não ignoram fontes rudimentares de criações, como é o caso de O berço de cristal (1975). Vocalista do Velvet Underground, Nico (que extrapolou a condição de musa de Garrel), com porção atriz, representou a fase alternativa, incluída na mostra do CCBB, que traz ainda obras de Andy Warhol (fonte para interação de Garrel), entre as quais Screen tests e Imitação de Cristo (1967)

Alguns destaques

O ciúme (2013)
Hoje (30/10, terça), às 18h.
Singelo, trata de complicações para o amor de Claudia (a sensual Anna Mouglalis) e Louis (Louis Garrel). Na trama, ele deixa para trás a dona de casa Clotilde (Rebecca Convenant), machucada pela azaração promovida pelo ex. Há um caráter biográfico do cineasta que expõe dramas do próprio pai. Inquietos e abalados, os personagens não logram de grande sorte amorosa. Atente para o rigor de detalhes que cercam a entrada em cena de um gorro e de sanduíche, elementos discretos, mas importantes na captação da atmosfera.
Um verão escaldante: título recente assinado por Garrel
Um verão escaldante (2011)
Dia 11 de novembro, às 19h20
Algo entediante, a rotina do pintor Frédéric (Louis Garrel) está por acabar: logo, ele estará morto. Melodramático, o filme vem em cores, contrariando corrente anterior do cineasta de títulos como Amantes constantes e A fronteira da alvorada. No enredo ambientado na Itália, a estrela de cinema Ang;le (Monica Bellucci) mantém um chocho contato com Frédéric, que vê a relação piorar, diante da acolhida dos amigos Paul (Jérôme Robart) e Elisabeth (a ótima Céline Sallette, de L;Apollonide). Os atores, pouco empenhados, quase afundam o longa que concorreu ao Leão de Ouro, em Veneza, e que toca em questões reservado aos imigrantes na Europa.

Amante por um dia (2017)
Amanhã (31/10, quarta), às 20h10.
Duas roteiristas, ao lado do diretor e do respeitadíssimo Jean-Claude Carri;re (cúmplice, em filmes de Andrzej Wajda e Luis Buñuel) criaram uma trama enxuta e que examina, com lupa, fases do amor. Jeanne (Esther Garrel, irmã de Louis, e filha do diretor), sob a atenção do pai Gilles (Éric Caravaca), se vê desprezada pelo namorado (Paul Toucang), mas terá nova chance no amor. Gilles, por erros e acertos na convivência com a jovem Arianne (Louise Chevillotte), servirá de modelo de imaturidade sentimental, numa eterna ciranda de traições vista no filme.

À sombra de duas mulheres (2015)
Hoje (30/10, terça), 20h.
A equidade de gêneros parece ser um foco, nas beiradas do filme. Os atores Clotilde Courau, Stanilsas Merhar e Léna Paugam interpretam, respectivamente, o casal Manon e Pierre, e estagiária Elisabeth, interesse sentimental de Pierre. A intensidade de emoções permeia o volume de traições de Manon e Pierre. O desfecho do filme é muito envolvente.


Duas perguntas // Maria Chiaretti, curadora

Qual o grande diferencial dos antigos filmes de Garrel, e que espaço de projeção ele ocupa no cenário internacional?
Os primeiros longas de Garrel, de caráter marcadamente experimental, revelam uma sensibilidade original no contexto do cinema francês moderno, no rastro da Nouvelle Vague. Naquela época, estes filmes chamaram a atenção da melhor crítica europeia e de cineastas atentos. De lá para cá, o seu prestígio só fez crescer. A partir dos anos 1980, seus filmes passaram a circular nos festivais de prestígio como os de Veneza e de Cannes. Desde os anos 1990, os filmes de Garrel tiveram uma distribuição em maior escala e repercutiram por alcançar a as salas de cinema do Brasil.

Que críticos e ou cineastas mais celebram o cinema de Garrel?
Dentre os críticos que celebraram os filmes de Garrel desde o início estão aqueles que colaboraram com a Cahiers du Cinéma, como Jean Douchet, Adriano Aprà, Henri Langlois (fundador da Cinemateca Francesa), Jacques Aumont e Philippe Azoury (que publicou um livro monográfico sobre Garrel na França). Alguns destes críticos estão representados no catálogo que acompanha a mostra de Brasília.

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