Um privilégio e tanto. Sabe de quem Tavinho Moura é parceiro? De ninguém menos que Carlos Drummond de Andrade. A assinatura dos dois consta de Cabaret Mineiro, poema do mestre de Itabira, musicado pelo compositor nascido em Juiz de Fora, para a trilha sonora do filme homônimo de Carlos Alberto Prates.
A canção é também uma das faixas de O anjo na varanda, álbum que Tavinho lança em Brasília, quinta-feira (25/10), às 21h30, ao se apresentar no Feitiço Mineiro. No show, que faz parte da programação comemorativa dos 29 anos do bar e restaurante da 306 Norte, há a participação do cantor e compositor Sthel Nogueira e dos violonistas Jaime Ernest Dias e João Marinho.
O anjo na varanda é dedicado a Fernando Brant, parceiro de Tavinho em incontáveis músicas, morto há três anos. No disco, com direção e produção do violonista Beto Lopes, o cantor tem como convidados os músicos mineiros Wilson Lopes, Nelson Angelo, Paulinho Carvalho, Chiquito Braga, Barbara Barcelos e o brasiliense Gabriel Grossi; além das cantoras Mariana Brant e Barbara Barcelos e do Trio Amaranto.
Das 14 faixas do CD, a maioria é fruto da parceria de Tavinho com Brant: O fruto do ouro, Casa de barro, Encontro das águas e A grande graça, repertório do musical Fogueira do Divino, criado pelos dois em 2000. Há ainda O sono do rio, do mesmo ano; Clara Clara Clara, de 2006; e as mais recentes A música e o circo e Dona do olhar. Outros parceiros são Ronaldo Bastos, co-autor de Eu e mais você, O anjo na varanda e Menino de Bente Altas; e Chico Amaral, em Serra da lua. Há ainda as regravações da citada Cabaret mineiro e de Morte da Zambi, da peça Arena canta Zumbi, de Edu Lobo.
Tavinho Moura
Show do cantor e compositor quinta-feira (25/10), às 21h30, no Feitiço Mineiro (306 Norte) com a participação de Sthel Nogueira, Jaime Ernest Dias e João Marinho. Couvert artístico R$ 30. Não recomendado para menores de 18 anos. Informações: 3272-3032.
Entrevista // Tavinho Moura
Ao lado de Fernando Brant, você apresentou o espetáculo Conspiração dos poetas várias vezes no Feitiço Mineiro. Depois de três anos de ausência, volta sem ele. Como vai ser o show?
O Fernando e eu fizemos o Conspiração dos poetas mais de 10 vezes no Feitiço, onde inclusive lançamos o disco com as músicas do show. Agora na volta, mesmo sem a presença física, ele estará ali comigo, até porque estou lançando o CD O anjo na varanda, que gravei em homenagem ao meu querido amigo e parceiro.
Que lembranças guarda de Brant?
Fomos amigos por 50 anos. Nesse período, era raro o dia em que não conversávamos. Compomos algo em torno de 40 músicas; e perdi a conta de quantas vezes dividimos o palco com o Conspiração dos poetas, desde que estreamos no teatro da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1993. Nos apresentamos em todas as regiões do país, em capitais e cidades do interior; e na França. Ele está presente na minha vida quase material. Toda noite antes de dormir converso com o Fernando, para falar dos meus conflitos.
Quais são as músicas compostas por vocês, que o público consagrou?
Posso citar Paixão e fé, Cruzada e Como vai minha aldeia, como nossos maiores sucessos. Mas há outras que as pessoas gostam muito, entre elas As meninas do trem de Sabará, Conspiração dos poetas e Meu jeito sonhador.
Quantas composições formam sua obra?
Não vou lembrar com exatidão, mas acredito ter composto umas 200 músicas com parceiros diversos, entre eles Milton Nascimento, Ronaldo Bastos, Márcio Borges. Algumas delas foram gravadas por Milton, Beto Guedes, Almir Sater, Sérgio Reis, Simone, Zizi Possi, Pena Branca & Xavantinho, Boca Livre e 14 Bis. Mas a maioria foi eu mesmo que gravei, em meus 19 discos, além das que fizeram parte de trilhas de 15 filmes.
Entre essas trilhas, quais você destaca?
As que fiz para os longa-metragens Cabaret Mineiro e Noites do sertão, ambos de Carlos Alberto Prates. Com essas duas trilhas conquistei o Candango, prêmio atribuído pelo Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Anjo da varanda, seu novo álbum, tem canções de vários períodos. Como foi reuni-las no repertório?
Antes de qualquer coisa, é um disco com presença marcante de Fernando Brant.Oito da 14 faixas registram parcerias nossas. A que dá título ao trabalho, que fiz com Ronaldo Bastos eu dediquei a Vera Brant, escritora mineira com quem Fernando tinha forte ligação; e de quem me tornei amigo, depois de ser apresentada por ele. Quando estávamos em Brasília, sempre íamos visitá-la e usufruíamos de sua hospitalidade, de sua conversa e dos manjares que ela preparava.
E do Jorge Ferreira, que recordações você guarda?
Ao longo da convivência que tivemos, tanto no Feitiço quanto nos jantares que ele nos oferecia em sua casa, firmou-se uma grande amizade. É imensa a falta que ele faz para Brasília e para os artistas. Vou homenagear o Jorge no show com João ninguém, de Noel Rosa, samba de que ele gostava bastante.