Música, artes plásticas, grafite são formas de expressão de jovens artistas independentes em São Sebastião. O afrofuturismo, que combina estética pré-diáspora africana com elementos fantásticos e tecnologias digitais, é material para negros e negras da região rebelarem-se contra a falta de visibilidade desses grupos minoritários.
Com mais de 100 mil habitantes e escassas opções de entretenimento, São Sebastião parece terreno pouco fértil para a arte, mas abriga imaginação de jovens com vontade de se manifestar.
A dupla de mulheres transexuais Felisha Fuzz inspiradas pela filosofia faça-você-mesmo da cultura punk criam canções contestadoras munidos de guitarra e bateria. ;Fazemos música como forma de levantar bandeira, de falar de nossas dores, também falamos de coisas de amor, não só revolta à violência contra trans;, conta Sophia Santos (baterista), de 29 anos, que classifica o próprio som como uma referência ao afro cyber punk.
Sophia começou a se aventurar no rock de forma independente em 2004, em Recife. Em Brasília, está desde 2017, quando se juntou a Lully Naledi, 20, paulista criada em Brasília.
;É uma representação de quem sou, uma pessoa negra e pobre e é isso. Quero ver mais pessoas como eu produzindo coisas com que possam se identificar. Quero que pessoas pretas estejam em museus não só como serviçais;, diz o artista plástico Pablo Johnson, 23 anos, estudante de filosofia. Ele classifica sua arte como intuitiva, já que não teve educação formal na área, e influenciada pelo afrofuturismo.
Ele espalha a arte por São Sebastião para, ao mesmo tempo, transformar a cidade e passar sua mensagem. ;Nossos trabalhos são muito invisibilizados pelos branquelos do Plano;, contesta. ;Faço minha arte pela cidade, espalhando-a pelos muros. Não quero que as pessoas vejam só os problemas sociais. Quero levar beleza pelas ruas de lá como forma de escape. Uma fuga da realidade, ao mesmo tempo em que demarco alguns espaços;.
Entre os artistas que Pablo admira, vários são de São Sebastião. Ele destaca o trabalho de Carli Ayô. Aos 31 anos, a artista plástica de Minas Gerais e moradora da região leva pra muros de lá a estética que desenvolve, com características dos traços e da cultura negra.
;Os traços e os corpos alongados lembram a arte da diáspora africana, servem para reforçar a representação negra e reforçar cada vez mais o olhar sobre nossas raízes. Ao mesmo tempo traz os grafismos indígenas e representa essa mistura brasileira, critica o apagamento da história negra e indígena, critica a falta de representatividade na mídia, fala sobre a história do corpo como painel, como tela, como forma de expressão;, relata.
*Estagiário sob a supervisão Severino Francisco