Formado em física na Universidade de Brasília (UnB), o músico Roberto Corrêa retorna à Universidade no qual despertou a paixão pela viola caipira para apresentar o espetáculo cênico visual O violeiro. A exibição, com entrada franca, no Auditório do Departamento de Música da UnB, será hoje, às 12h. A apresentação faz parte do projeto ;Pesquisa e arte na invenção da viola caipira contemporânea;, realizado com apoio do FAC, no qual o mineiro radicado em Brasília conta suas experiências como violeiro e pesquisador.
;A ideia de uma aula-espetáculo surgiu da vontade de mostrar cenicamente o percurso da viola no Brasil, desde as crenças envolvendo o instrumento passando por sua inserção nas práticas populares tradicionais até seu reconhecimento como instrumento identitário e contemporâneo. Nossa vontade era mostrar isso tudo com música e de forma poética, aliando o meu trabalho como violeiro e pesquisador. Elaboramos para o público uma cartilha com o programa da apresentação e também textos que complementam as informações sobre o universo da viola;, conta Roberto Corrêa.
Recheada de elementos da cultura caipira e interiorana, Roberto Corrêa criou a aula espetáculo, sob a direção de João Antônio, para levar ao público a emoção da arte da viola caipira e propagar a história. O violeiro narra a vida de um homem caipira, desde o despertar até a velhice e morte. ;É um espetáculo que mostra um Brasil pouco conhecido, o Brasil caipira. O curioso é que está cultura está muito próxima de nós, aqui em Brasília. Na verdade, falamos de tradições presentes na região do Distrito Federal antes da construção da capital;, comentou o violeiro.
Para a montagem da narrativa, Roberto convidou Badia Medeiros, mestre da viola e guia de folia do Divino, e Hérik Sousa, seu parceiro de dupla caipira. ;Estou muito feliz. Foi na UnB, no ano de 1977, que eu comecei minha história com a viola caipira. Enquanto estudante fiz várias apresentações no auditório da UnB e agora, depois de quatro décadas, retorno com um espetáculo que conta a trajetória de um violeiro, usando informações das pesquisas que comecei a fazer ali. É como um retorno ao início. Com a satisfação de sentir que valeu a pena o caminho percorrido;, Roberto Corrêa relatou ao Correio a felicidade em retornar à Universidade para se apresentar
O músico se aposentou da vida docente, na qual deu aulas por mais de 33 anos na Escola de Música de Brasília (EMB), e foi o criador da disciplina de viola caipira. Para se despedir montou uma aula espetáculo. Roberto deixou o universo da docência, para adentrar por completo no da composição. Com ajuda do diretor João Antônio, que foi professor de artes cênicas da UnB, e da produtora e coautora Juliana Saenger, o espetáculo foi criado. Ambos trabalharam no roteiro ao lado de Corrêa.
Com 40 anos de estrada como pesquisador da viola caipira, Roberto aborda em sua criação cênica musical histórias e lendas de violeiros. O violeiro traz no repertório músicas instrumentais, cantos de trabalho, modinha, lundu, moda de viola, recortado, guarânia, rasqueado, cateretê, incelenças, além de canções inéditas como: Cantiga ao luar, de Clodo Ferreira; Derradeira despedida, de autoria do próprio Roberto, e composições em parceria, Nos arames da viola com Climério Ferreira, Éramos eu e meu pai com Néviton Ferreira e Décima do cerrado, com Túlio Borges.
O texto ganha contornos de poesia com o vocabulário caipira, quando Roberto Corrêa apresenta ao público gírias como: Poribia (proibir); parpitava (palpitava); guapo (bonito, habilidoso); diferençar (mudar); esbrangir (espalhar); mais erado (mais velho); e envem (lá vem).
Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
O violeiro
Auditório do Departamento de Música da UnB. Hoje, às 12h. Com entrada gratuita e livre para todos os públicos.