Diversão e Arte

Filmes feitos com smartfones facilitam o acesso à produção

Custos são menores e possibilitam produções para quem tem menos recursos

Mariah Aquino*
postado em 01/10/2018 06:30
O longa Unsane, de Steven Soderbergh, foi todo produzido com um iPhone
No começo deste ano, o longa Unsane (Distúrbio, em tradução para o português) chamou atenção do público do 68; Festival Internacional de Cinema de Berlim. Dirigido pelo estadunidense Steven Soderbergh e estrelado por Claire Foy (The Crown) e Joshua Leonard (A Bruxa de Blair, Se eu ficar), tem 1h38min de duração e foi inteiramente produzido com um iPhone. O método, ainda visto com receio por grandes nomes da indústria, tem aparecido cada vez mais em diferentes produções. A utilização de um aparelho móvel para gravar o longa permitiu que o assédio sexual, tema abordado pelo filme, fosse explorado de maneira mais intimista e com absoluto imediatismo, como definiu o próprio diretor.

No Brasil, um dos primeiros filmes produzidos inteiramente com celulares foi Charlote SP, de Frank Mora, lançado nos cinemas em setembro de 2016. O longa conta a história de uma modelo internacional que volta ao Brasil para redescobrir sua identidade em São Paulo e embarca em uma jornada ao lado do amigo cineasta. A produção inovadora, contudo, encontrou obstáculos na captação de áudio e em outros detalhes técnicos que mostraram que ainda havia um caminho mais longo a ser percorrido e desenvolvido.

Com a popularização dos smarthphones, produzir tornou-se mais acessível para quem não tem condições de ter todo o aparato técnico que envolve o campo audiovisual. Para Julyana da Costa Duarte, sócia da produtora brasiliense Dona Filmes, formada apenas por mulheres, acredita que neste novo cenário, quem começa pode experimentar mais. ;Os estudantes, por exemplo, têm mais oportunidade de errar, de desenvolver experimentações e trabalhos autorais e, a partir daí, desenvolver e ter segurança de partir para trabalhos financiáveis;, ela explica.

Ela também ressalta a possibilidade que a internet e o fácil acesso à informação abriram na formação de novos realizadores: ;Se você junta as duas coisas, a tecnologia do celular e a da internet, o marketing digital te ensina a criar novas carreiras;. Além disso, ela ressalta a importância desses novos recursos como ferramenta de democratização. ;O cinema até pouco tempo não era para todo mundo, a gente que é da periferia sabe disso;, ela explica. ;É a simplificação do acesso relacionado ao financeiro, ao preço das coisas e também o acesso relacionado à mobilidade. Acesso em todos os sentidos;

Julyana ministrou, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e na Bienal Brasil do Livro e da Leitura, uma oficina de criação e edição de vídeos por celular. O primeiro passo, para ela, é compreender a linguagem audiovisual. ;Se você domina a linguagem, você já está um passo à frente para criar um material de qualidade;. A partir daí, é possível ter mais segurança e investir em criar e editar por aplicativos disponíveis, como o Open Camera, o Adobe Clip e o Filmora Go.

Brasília sediará, de 16 a 18 de novembro, o Filmaê - 1; Festival de Cinema Móvel. A ideia surgiu depois que Fernando Campos, idealizador do evento, realizou uma oficina de vídeo numa escola pública do Guará, ensinando os alunos a filmar e editar pelo celular ou pelo tablet. Ele ministrou, em 2017, a oficina ;Um dia, um filme;, com o mesmo propósito, e acredita que apesar do caráter ;amador; que alguns acreditam que essas produções tenham, o formato diferente possibilita explorar outros aspectos: ;A relação com os atores, a ambientação, uma relação mais minimalista. A imagem pode não ser tão boa quanto a de uma câmera profissional, mas se ganha em outros pontos.;

; Saiba mais
; As meninas do Dona Filmes produzirão artigos e dicas sobre o assunto no site donafilmes. com, confira!

; Filmaê - 1; Festival de Cinema Móvel
16 a 18 de novembro
Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul)
; Inscrições abertas para envio de filmes até 15 de outubro
; O festival incluirá mostra competitiva nacional e mostra paralela, com produções internacionais. Além disso, a programação inclui oficinas e debates como Técnicas de gravação com dispositivos móveis; Edição de imagens, pós-produção e finalização em tablets; Produção de música e trilhas sonoras em dispositivos móveis; O jornalismo que usa o telefone como câmera e a conexão 4G como canal ao vivo e muito mais.

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