Nahima Maciel
postado em 14/09/2018 15:15
O grafite colorido e social da dupla alemã Various & Gould poderá ser visto em Brasília a partir deste sábado (15/9). Habituados a tatuar os muros de cidades como Berlim, Istambul e Nova York com desenhos que abordam temas como imigração, gênero, religião e crise global, eles desembarcam na capital para participar do projeto Conexão Berlim-Brasília, uma parceria do Goethe-Zentrum e do Sesc-DF. Além de oficinas, a dupla realiza uma intervenção na parada de ônibus da 504 Sul.
O bicentenário do nascimento de Karl Marx motivou o tema da intervenção programada para o Plano Piloto. Boa parte do trabalho do Various & Gold é realizada com serigrafia, mas as intervenções urbanas podem se transformar em performances. Os temas sociais também são uma característica. ;A arte urbana está em locais pelos quais as pessoas passam todos os dias. Logo, é um excelente meio para falar de temas sociais. Mas também temos um monte de trabalhos que são puramente estéticos, o que é ótimo. Afinal, é arte de graça;, explicam os alemães, que respondem à entrevista em dupla. ;Nós vamos pintar uma estação de ônibus na qual muita gente para e espera todos os dias. Com nosso mural, queremos modificar a parada e transformá-la um local bonito, mas com significado. Haverá um mix de elementos abstratos multicoloridos e um desenho simples e figurativo no topo.;
Em Berlim, um dos centros da arte urbana hoje na Europa, há grafites do Various & Gold nos bairros mais emblemáticos da produção artística da cidade. É na capital alemã que eles desenvolvem boa parte de seus projetos, como a série Facetime, na qual criam rostos a partir de colagens de recortes de fotografias reais para falar de identidade e diversidade, ou City skins, na qual cobrem monumentos famosos das cidades com seus desenhos. Em entrevista ao Diversão & Arte, a dupla fala sobre o trabalho e a importância da arte urbana nas metrópoles contemporâneas.
Entrevista: Various & Gold
Que diferença pode fazer o grafite no cotidiano da cidade?
Grafite e arte urbana são criações para o espaço público. A principal mensagem é participação, um valor muito democrático. Os artistas podem mostrar suas vozes e suas imagens. É uma espécie de diálogo público. E a arte das ruas é arte para as pessoas. É não exclusiva e é de graça. Está lá para tocar os corações e para dar um pequeno impulso à reflexão.
Vocês escolheram uma temática que tem a ver com o bicentenário de Marx. Como o ele vai aparecer nos trabalhos?
Queremos explorar a relação entre a humanidade e o trabalho. E vamos fazer isso de forma artística e imaginativa. Em Brasília, não vamos fazer um retrato de Marx e não vamos celebrar Marx. Mas vamos nos inspirar por sua análise científica das condições do trabalho e dos processos de produção. Queremos pintar um jogo, uma peça metafórica sobre a relação do corpo humano com as partes das máquinas. O trabalho está mudando muito nos dias de hoje devido ao progresso mecânico e digital. Há boas mudanças e mudanças ruins. E as pessoas precisam se adaptar a isso.
O que motiva vocês hoje a produzir?
Apesar de, às vezes, ser difícil, nós somos otimistas. Nós sempre queremos criar imagens novas e colocar em prática novos conceitos. Trata-se sempre de compartilhar ideias.
Intervenção artística com Various & Gould
Sábado (15/9), a partir das 10h, no Sesc 504 Sul.