O projeto Cine Beijoca está de volta à programação da capital. Após dois anos sem edições, o evento retorna com a mostra LA Rebellion, que será realizada de 10 a 12 de agosto no Espaço Cultural Renato Russo, recém-reaberto na 508 Sul. ;Depois da exibição de Vazante, no Festival de Brasília do ano passado, se acendeu um debate não só sobre a representação como também da produção negra. Nesse sentido, era importante fazer algo sobre isso, debater cinema negro;, revela Pablo Gonçalo, idealizador da atividade e curador do Cine Beijoca.
O nome da mostra é uma referência ao Los Angeles Rebellion, um movimento cinematográfico idealizado por cineastas negros da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) na década de 1970. ;Os diretores do LA Rebellion introduzem uma vitalidade e uma experimentação com a linguagem importante para o cinema americano, não há nada paralelo;, reconhece Rodrigo Sombra, curador e um dos participantes da mostra.
Composta por dois longas e seis curtas está edição do cineclube terá três sessões. A primeira, na sexta (10/8), a partir das 19h, exibe o curta Um bocado de amigos e o longa O matador de ovelhas, ambos de Charles Burnett, seguidos de um debate com o crítico e curador Rodrigo Sombra.
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No sábado, também às 19h, serão exibidos o curta Escola da liberdade da comunidade, de Don Amis, e o longa Bush mama, de Haile Gerima. ;Os filmes mostram uma realidade atroz, uma coisa muito peculiar da comunidade negra;, comenta o curador. No último dia da mostra, ela começa às 16h e exibe apenas curtas, com os títulos Chuva, Diário de uma africana, Ilusões e Ciclos.
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Sobre os filmes escolhidos para a mostra, Sombra completa: ;Esse grupo de filmes representa um adentramento nos personagens afro-americanos, na vida subjetiva deles;.
Cine Beijoca
Idealizado em 2006 pelos professores Alex Calheiros, Raquel Imanishi e Claudio Reis, do departamento de filosofia, o Cine Beijoca surgiu à la UnB: uma iniciativa que deixaria Darcy Ribeiro orgulhoso. Os debates e exibições eram realizados no memorial dedicado ao antropólogo na universidade, popularmente conhecido por Beijódromo.
O nome do projeto e do memorial refletem uma fala conhecida de Darcy, em que ele revela que o projeto para a universidade era ;um espaço ao ar livre, na grama, nos degraus ; um espaço bem a gosto de Brasília, em que se podia fazer seresta, as pessoas poderiam estar em volta se beijando, namorando;.
O projeto ultrapassou as barreiras físicas da instituição para seguir uma característica típica dos cineclubes: o contato direto com a comunidade. ;O projeto precisa interagir tanto com a cinefilia quanto com a rua;, ressalta Pablo Gonçalo.
Como participar
Os alunos da UnB interessados em participar do projeto de extensão devem contatar o professor Pablo Gonçalo, da Faculdade de Comunicação, pelo e-mail pablogoncalo@gmail.com.
Movimento Los Angeles Rebellion
Em um contexto pós-movimentos por direitos civis da comunidade negra nos Estados Unidos, jovens como Charles Burnett, Julie Dash e Haile Gerima começaram a observar as comunidades afro-americanas da periferia de Los Angeles. As produções perpassam diversas questões como relações domésticas, efusão do ativismo black power, busca pela ancestralidade africana, denúncia de mecanismos de exclusão social e ascensão às classes mais altas.
O modo de produção era, por vezes, precário. O LA Rebellion foi considerado como uma forma antagônica dentro do formato hollywoodiano, contrária aos regimes estéticos hegemônicos. As influências dos cinemas modernos da África e Ásia e do cinema novo brasileiro resultaram numa forma de representação completamente nova do afro-americano.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel