"É uma união que a gente não vê todo dia, mas é uma união muito bonita, que ensinou muita coisa, acho que para os dois lados;. Pelas palavras da diretora artística Paula Sayão, o espetáculo O casamento de Matheus e Catirina ganha uma definição assertiva para o ambicioso projeto de juntar a coreografia da dança clássica e o forró de quadrilha nordestina. A apresentação final da performance ocorrerá amanhã, às 19h, no Complexo Cultural Funarte Brasília (Eixo Monumental).
Inspirada na lenda do boi ressuscitado, a história do bumba meu boi encantou o folclore brasileiro por décadas e é pra lá de conhecida: Catirina é a mulher grávida que deseja a língua do boi mais vistoso do patrão do marido e conta com a dedicação do companheiro, que mata o animal preferido do patrão. Quando este descobre o feito, chama um padre para ressuscitar o boi. Variando dos tons cômicos ao drama, e presente em várias regiões do país, o boi ressuscitado mascarou durante décadas outro detalhe da história, que o espetáculo se propõe a tratar: como o casal apaixonado se conheceu e subiu ao altar.
Simbolizando outro casamento, o grupo de quadrilha Arroxa o Nó (do Paranoá, e atual campeã nacional da Confederação Brasileira de Entidades Juninas) se encontra com o grupo Ballet de Brasília para contar ;a dança que a história não dançou; no folclore popular.
;É um casamento entre o balé e a quadrilha, para mostrar que são duas vertentes que geralmente não se encontram, mas que geraram muito conhecimento uma na outra. A gente fez esse roteiro com partes do balé e da quadrilha, as meninas com as pontas e eles com as chinelas de couro;, explica Paula Sayão.
A apresentação faz parte do Seminário Internacional de Dança de Brasília, que há mais de duas décadas ocorre com o objetivo de integrar dançarinos do mundo todo. Amanhã, além de O casamento de Matheus e Catirina, ainda haverá apresentação com o grupo de Brasília Reginaldo Moreira e Cia. de Dança e o cerimonial do Centenário de Claudio Santoro.
Na equipe técnica, O casamento de Matheus e Catirina conta com Willy Costa (responsável pela coreografia), Gis;le Santoro (na direção do Ballet de Brasília), Wagner Teixeira (como vice-presidente e diretor do Grêmio Recreativo da quadrilha Arroxa o Nó) e Maria de Lourdes como figurinista.
Desafios
Juntar bailarinas e uma quadrilha de festa junina não foi fácil, mas parece que o amor pela dança entre os dois grupos superou qualquer desafio prévio, destaca Paula Sayão. ;Eu acho que uma coisa muito legal dessa iniciativa foi a logística de ensaio, não foi fácil para gente porque, mesmo fisicamente, existia uma cidade de distância. As meninas do balé estavam no Plano Piloto essencialmente, e a sede deles no Paranoá, mas decidimos ir revezando sempre um em um lugar, e outro momento no outro;, comentou.
Além da distância, Paula também lembra que madrugadas de treino fizeram parte dos ensaios e não esconde a admiração pela determinação do grupo de quadrilha: ;Os ensaios eram da meia-noite às 2h da madrugada, porque muitos dançarinos trabalhavam de dia, e eles ainda estão no meio de um campeonato de quadrilhas, mas sempre estiveram muito dispostos, muito animados de levar esse projeto para frente, com vontade de unir esses gêneros que nem sempre têm a chance de ficar juntos. Inclusive, dançarinos da quadrilha procuraram o balé, tiveram interesse nesse tipo de dança, acho que todos nós ganhamos muito com a experiência;.
Experiência
A tecla da integração também é a mais importante para o vice-presidente do grupo Arrocha o Nó. Ao Correio, Wagner Teixeira explicou que a experiência de integração com o balé se tornou absolutamente positiva: ;Fizemos uma grande mistura entre o popular e o clássico, da quadrilha do Arroxa o Nó com o balé da Paula. A ideia partiu de um encontro sem pretensão, batemos um papo e vimos que seria diferente e, principalmente, que poderia acrescentar à cena cultural de Brasília. Acho que deu muito certo, e agora o público poderá conferir;.
E se uma parede de limitação entre os gêneros foi quebrada com o espetáculo, Wagner também sustenta que um maior entendimento sobre a arte um do outro foi um importante resultado de O casamento de Matheus e Catirina. ;Eu sempre vi o pessoal da quadrilha se dedicando muito, tendo de, literalmente, pagar para dançar, para mostrar nossa arte, e não imaginava que outros também tivessem tantos desafios, mas o que eu percebi com essa experiência é que o pessoal do balé também tem de se dedicar muito, gastar muito suor, e que, independentemente de qualquer preconcepção, são pessoas que amam a dança como nós;, acredita Wagner.
O representante do Arrocha o Nó lembrou que, muitas vezes, o que impede grandes uniões como essa é o preconceito: ;Eu acho que não ocorre mais porque temos o costume de separar o que não precisa ser separado, você vê o pessoal do balé dançando com tanto amor à dança, que é exatamente o que fazem os componentes da nossa quadrilha há 20 anos. Aos que forem assistir, terão isso: uma mistura bem gostosa de amor pela dança;.
*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira
O casamento de Matheus e Catirina
Domingo, às 19h, no Complexo Cultural Funarte Brasília (Eixo Monumental). Entrada franca. Classificação indicativa livre.