Irlam Rocha Lima
postado em 18/07/2018 07:30
Ao vencer o 1; Festival Nacional de Poetas Repentistas, em 1997, no Memorial da América Latina, em São Paulo, Oliveira de Panelas foi chamado de ;O Pavarotti do Sertão; por um crítico musical paulistano. O epíteto surpreendeu o popular cantador pernambucano, mas provocou reação de Ariano Suassuna.
O mestre paraibano, ao seu modo, rebateu: ;Acho que Luciano Pavarotti bem que gostaria ser Oliveira de Panelas. Enquanto Pavarotti só faz gorjear, Oliveira é cantor, ator, violeiro, repentista e sabe como poucos usar a voz, o olhar, as mãos, o corpo ao declamar versos e interpretar canções em suas cantorias. É um artista completo;.
Dono de um vozeirão imponente, colocado a serviço da cultura popular do Nordeste, Oliveira Francisco de Melo nasceu em Panelas, no Agreste Central de Pernambuco em 1946. Há mais de quatro décadas mora em João Pessoa e é detentor do título de cidadão honorário da Paraíba. A arte do cantador já foi apreciada nos Estados Unidos, França, Portugal, Cuba, Colômbia, Equador e, claro, em quase todo o Brasil.
Hoje, ao retornar a Brasília, Oliveira faz apresentação, às 20h, no Teatro da Caixa, pelo projeto Solo Música. ;O show será uma cantoria didática, recheada de canções, declamações, humor, em que focalizo temas diversos, do lírico ao social, além de improvisos criados em cena;, anuncia. ;Sempre fico na expectativa da participação do público;, acrescenta.
Em outros tempos, ele vinha bastante à capital, mas está ausente há cinco anos. ;Brasília é uma cidade bem projetada, com largas avenidas e um céu muito bonito. Já fiz versos exaltando-a;, destaca. ;Certa vez, quando o José Aparecido era o governador, cantei na residência oficial para Mário Soares, então primeiro-ministro de Portugal;, conta. ;Entre os presentes estavam Ulysses Guimarães, José Sarney, Humberto Lucena e Saulo Ramos;, recorda-se.
Nos Estados Unidos, Oliveira esteve em setembro de 2001. ;Uma semana antes do ataque e destruição das Torres Gêmeas, eu estava em Nova York, onde cumpri temporada de cinco dias no Lincoln Centar;, lembra. Quatro anos antes, ele havia ido a Cuba. ;Cantei para Fidel Castro no Teatro Jose Heredia, em Santiago de Cuba;, revela.
Já a convite do ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, o consagrado cantador se apresentou na Feira do Livro do Brasil em Bogotá, na Colômbia. ;O papa João Paulo II me ouviu pelo rádio. ;Quando a Argentina e a Inglaterra entraram em conflito pelas Ilhas Malvinas, Sua Santidade, ao se dirigir para Buenos Aires, fez escala no Aeroporto do Galeão. Eu estava participando do Programa Adelson Alves, na Rádio Globo, cuja transmissão chegou àquele local.;
Sabendo do que estava ocorrendo naquele momento, Oliveira improvisou alguns versos. Num deles, ele dizia: ;Põe sinal nesta guerra Margareth/ Poupa ingleses e libras esterlinas/ Galtieri não ponha em holocausto, carne e sangue de vidas argentinas/ Ninguém deve trocar seres humanos por pedaços de ilhas pequeninas;.
Com 60 anos de carreira, 38 discos ; entre LPs e CDs ; e 18 livros lançados, além da participação em quase 300 festivais, sendo vencedor em 185 deles, Oliveira de Panelas não tem muito do que reclamar. O mestre, porém, faz uma ressalva: ;Nunca participei do São João de Campina Grande e de Caruaru, por uma simples razão. Para mim querem pagar cachê insignificante; enquanto duplas sertanejas são regiamente remuneradas;, conclui o mestre.
Oliveira de Panelas
Show do cantador, violeiro e repentista pernambucano, pelo projeto Solo Música. Hoje, às 20h, no Teatro da Caixa Cultural (Setor Bancário Sul). Ingressos: R$20 e R$ 10 (meia-entrada). Não recomendado para menores de 12 anos. Informações: 3206-6456.