Quando se fala em rock no Brasil, a referência óbvia é o movimento dos anos 1980. A chamada “Era de ouro do rock nacional” revelou nomes como Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Capital Inicial e Plebe Rude e ficou marcada pela forte crítica presente nas letras das músicas desses grupos.
Essa subversão do rock dos anos 1980 ajudou a confirmar a “atitude roqueira” da juventude. Desde então, ela tem sido cobrada das demais gerações, principalmente, após a diminuição do protagonismo do estilo musical no mainstream. Frases como o “rock morreu” e “o rap é o novo rock” viraram comuns. No entanto, nos últimos anos, com bandas como Scalene, Dona Cislene, Far From Alaska e Supercombo, o gênero voltou a ter um espaço na música ao apostar em outras referências e características.
Na véspera do Dia Mundial do Rock, é possível fazer uma avaliação da trajetória do rock no Brasil. O musicólogo brasileiro Ricardo Cravo Albin avalia que o gênero e suas diferentes vertentes sempre tiveram espaço na música nacional. “O rock chega ao Brasil de maneira muito tímida depois do vulcão Elvis Presley, com a brejeirice e a leveza de Celly Campello, que fazia um rock muito mais pop do que aquele plantado por Elvis, que, digamos, tinha uma malícia corporal”, explica.
Para Cravo Albin, dois artistas foram fundamentais por disseminar o rock como ele ficou conhecido no mundo: Elvis Presley — voz, rebolado e atrevimento — e Little Richard, pela dramaticidade e performance com a guitarra. “É verdade que o ritmo pertenceu a uma vertente de energia e erotismo. Isso não são coisas comuns dentro da história da música brasileira”, justifica o pesquisador. “O que é muito interessante é que o rock teve uma cara nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, especialmente com os Beatles, que vêm de Liverpool, e depois em Brasília, que é uma Liverpool, um berço do rock nacional”, define.
Diferentes influências
Sobre o rock atual, o pesquisador analisa que não é que ele perdeu a inquietude, mas passou a ter outras características. “Acho que existe um temperamento, digamos, mais conformado do que deveria ter. O rock sempre foi movido por uma eletricidade e acho que não senti ainda com a veemência que desejaria nos roqueiros de agora”, destaca e polemiza ao dizer que vê essa característica em nomes de outros gêneros, como a funkeira Anitta e a cantora de axé music Ivete Sangalo.
Ricardo Cravo Albin lembra ainda da Jovem Guarda, quando os roqueiros dos anos 1960 não tinham a crítica política enraizada na música: “Erasmo, Roberto, Wanderléa e a Jovem Guarda faziam música pop, mas que tinha um braço formal ou informal no rock”.
A nova geração do rock faz críticas, mas essa não é a sua principal característica. Hoje, a diversidade nas influências sonoras, a veia independente e empreendedora e o estilo de vida estão entre as marcas dos grupos que têm se firmado no cenário musical. O exemplo disso é a presença desses nomes em grandes festivais, como Lollapalooza, CoMA e João Rock.
Guilherme de Bem, guitarrista da Banda Cislene, avalia que o rock passou por mudanças ao longo dos anos até chegar ao que é feito hoje pelos artistas da nova geração. “O rock se abriu e está muito grande. Antigamente, era ligado a algo pesado, às distorções, aos gritos e berros, às pessoas vestidas de preto. Hoje é liberdade, é soul, dá para fazer em qualquer lugar”, afirma.
Apesar de ter a cabeça mais aberta em relação ao estilo, o guitarrista sabe que ainda existe uma resistência de alguns artistas e também admiradores do gênero. “Tem gente que não gosta (das mudanças), acha que tem que ser mais clássico e relembrar sempre o passado. Mas o rock está em constante evolução, é uma música viva”, analisa. Guilherme de Bem ainda completa: “O rock hoje no Brasil está procurando novos ares, mas entendo que ainda está tudo muito nebuloso. Cada banda está procurando seu estilo e se encontrando. Nós, da Dona Cislene, estamos construindo nosso rock, que é um estilo com vertentes grandes e densas”.
Origem da data
O Dia Mundial do Rock surgiu por conta do festival Live Aid, realizado simultaneamente em Londres e na Filadélfia (EUA) em 13 de julho de 1985. Os dois eventos tiveram a presença de Phill Collins, então na banda Gênesis, declarou a data como “o dia do rock” e a partir daí, o período passou a ser considerado uma celebração ao estilo musical, principalmente entre o público brasileiro.
Programe-se
Dia mundial do rock com U2 Elevation
• Velvet Pub (102 Norte, Bl. B). Amanhã, às 23h. Show com U2 Elevation e DJ Ferris. Entrada: a partir de R$ 20. Valor referente à meia-entrada e sujeito a alteração. Não recomendado para menores de 18 anos.
Dia mundial do rock no Bar Brahma Brasília
• Bar Brahma Brasília (201 Sul). Amanhã, das 19h às 22h. Tributo ao Rock com banda MenTechs. Couvert: R$ 10. Classificação indicativa livre.
Dia mundial do rock na Corina
• Corina Cervejas Artesanais (SOFN Q. 1, cj B, lt 11). Amanhã, a partir das 17h. Show com Veda Classic Rock. Entrada franca. Não recomendado para menores de 18 anos.
Dia mundial do rock na Hop Capital Beer
• Hop Capital Beer (SIA, Tc. 17, Lt. 160). Amanhã, às 17h. Show com Hop’n Roll. Entrada franca. Não recomendado para menores de 18 anos.
Dia mundial do rock no O’Rilley
• O’Rilley (409 Sul, lj 36). Amanhã, às 19h. Shows com Adriano Faquini e Kiko Peres, AB/CB, Magoo, Beto Peres, entre outros. Entrada: a partir de R$ 20. Valor referente a meia-entrada e sujeito a alteração. Não recomendado para menores de 18 anos.
Rock Cei — Ocupação da Casa do Cantador
• Casa do Cantador (AE G, Ceilândia). Sábado, a partir das 17h. Shows com Cálida Essência, Blue Butterfly, Poetisa Dissecada, entre outros. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Toinha Rock Pub
• (Qn 208, Samambaia Norte). Amanhã, às 21h. Show com Ledbetter. Entrada: a partir de R$ 15. Valor referente à meia-entrada e sujeito a alteração. Não recomendado para menores de 18 anos.
Toinha Brasil Show
• (SOF Sul Q. 9, lts. 5/9; 98616-5097). Amanhã, às 21h. Shows com Dream Theater Tribute, Queen Greteast, Planno, entre outras. Entrada: R$ 50 (pista) e R$ 70 (camarote). Valores referentes à meia-entrada e sujeitos a alteração. Não recomendado para menores de 18 anos.
Veja onde curtir rocke em Brasília
Conhecida como a capital do rock nos anos 1980, Brasília favoreceu a ocupação do gênero na cidade. Locais como o Teatro da Escola Parque da 307/308 Sul, Teatro Garagem, Gilberto Salomão, Gate’s Pub e o Cafofo (407) — local onde o Aborto Elétrico ensaiava —, eram espaços para os grupos de rock se apresentarem. Com tempo e com a inserção de novos gêneros, os locais dedicados exclusivamente para o rock foram ficando cada vez mais escassos, e as bandas brasilienses, órfãs de espaços exclusivos para o ritmo. No entanto, três décadas depois do ápice do rock na capital, alguns locais ainda resistem e insistem na ocupação do gênero, como Toinha Brasil Show, O’Rilley e UK Music Hall.
*Estagiário sob supervisão de José Carlos Vieira
Toinha
• Há oito anos na capital, o Toinha se consolidou como um dos principais estabelecimentos dedicados exclusivamente ao rock. A primeira unidade, o Toinha Rock Pub, em Samambaia, surgiu com a proposta de unir o confortável ambiente dos pubs ao som do rock, com shows de bandas autorais da cidade, além de tributos a consagrados grupos do gênero. Seguindo a mesma linha do primeiro estabelecimento, o Toinha Brasil Show, no Setor de Oficinas Sul, surgiu com um sonho ainda maior, receber atrações nacionais e internacionais de peso. Inaugurada no início de 2018 e com capacidade para receber 1.500 pessoas, o local já recebeu nomes como Paulo Ricardo e Glenn
Hughes.UK Music Hall
• Há duas décadas, o UK permanece vigoroso na 411 Sul. O estabelecimento, que passou por duas grandes reformas, foi chamado de Music Hall Café e UK Brasil Pub e, desde 2011, é conhecido como UK Music Hall. Com uma programação semanal de shows com bandas de diferentes estilos como rock, soul e metal, a casa mescla música, comida e variados drinques.
Velvet Pub
• Inaugurado em 2009, o Velvet Pub, na 102 Norte, é um dos espaços de referência no cenário do rock brasiliense. O local já recebeu variadas bandas autorais da cidade. Com capacidade para 290 pessoas, o espaço dispõe da maior pista de dança dos pubs de Brasília, além de uma decoração rocker com pôsters distribuídos pelo salão.
O’Rilley
• Para quem gosta de reviver lendárias bandas de rock como Led Zeppelin, AC/DC e Aerosmith, o O’ Rilley (409 Sul) é uma ótima opção. Com o objetivo de mesclar um espaço para a degustação das tradicionais cervejas irlandesas e inglesas, ao som das melhores bandas de rock pop de Brasília, a casa conta com uma programação de quinta a sábado dedicada ao gênero desde a tributos a shows de bandas autorais.