<div><img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2018/07/11/694131/20180711081824697489i.jpg" alt="A escritora Amara Moira (à esquerda) e o poeta Esteban Rodrigues (à direita) são atrações no evento literário" /><br /></div><div> </div><div>"Tantas mãos, tantas linhas incertas/ tantas vidas cobertas, sem ninguém pra sentir/ Tantas dores, tantas noites desertas/ tantas mãos entreabertas, sem ninguém pra acudir". Esses versos escritos pelo poeta trans Anderson Herzer parecem que foram feitos agora. Porém, por mais contemporâneo que seja, o poema João Ninguém foi publicado em 1982 no único livro do autor, A queda para o alto, escrito em plena ditadura militar.</div><div><br /></div><div>Ele, um poeta transexual paraense, deu vida aos pensamentos na forma de poesia quando estava apreendido em uma unidade feminina da Fundação do Bem-Estar do Menor (antiga Febem) em São Paulo, e é ele o homenageado da primeira edição da Jornada de Poesia LGBT%2b. </div><div><br /></div><div>"Anderson Herzer foi um jovem poeta trans que faleceu há 36 anos. Homenageamos ele, pois Hezer acreditava na poesia como uma força potente capaz de afirmar o significado das vidas tão estimadas", afirma Felipe Areda, diretor do Instituto Cultura Arte Memória LGBT e um dos organizadores do evento.</div><div><br /></div><div>A jornada ocorre nesta sexta-feira e sábado, na Casa de Cultura da América Latina (CAL). Com o objetivo de potencializar a arte LGBT e propor a poesia como uma forma de mudança da realidade, o projeto traz oficinas que dão voz e mostram as vivências de pessoas da comunidade LGBT no Brasil, país que mais mata por preconceito no mundo. </div><div><br /></div><div>"A poesia tem uma capacidade de provocar estranhamento, ao mesmo tempo em que ela nos permite entrar em uma dimensão nova, criando sentidos, valores, percepções do mundo, das outras pessoas e de si mesmas", argumenta Areda.</div><div><br /></div><div>Além das oficinas, o evento conta com rodas de conversa, saraus e performances. Uma das atrações é Amara Moira, travesti, doutora em teoria e crítica literária pela Universidade de Campinas (Unicamp) e autora do livro autobiográfico E seu eu fosse puta. </div><div><br /></div><div>"Literatura pode ser tanto um instrumento de manutenção das coisas como estão quanto um elemento perturbador dessa ordem, e é nesse sentido que aprecio a produção poética da comunidade LGBT: um fazer comprometido com a transformação da sociedade", acredita Amara, que fará parte da roda de conversa Anderson Herzer e a escrita trans no Brasil.</div><div><br /></div><div>A autora avalia que a jornada de poesia não é um evento somente destinado ao público LGBT. "Ao falar sobre nós, falamos também sobre a sociedade, sobre a maneira como somos moldados a pensar, a sentir, a viver, um nós que abrange não apenas LGBT,s mas todos", afirma Moira.</div><div><br /></div><div>Outra atração importante do evento é o poeta e fotógrafo baiano Esteban Rodrigues, que lançará o primeiro livro, Sol a gosto, durante o evento. "O livro conta a realidade de um transgênero numa cidade onde existe uma enorme população LGBT e um absurdo silenciamento da mesma", diz Rodrigues. "As sensações e sentimentos de um homem transgênero em ambientes que lhe diminuem e lhe desrespeitam são angustiantes, desesperadoras, que se não transformadas em palavras, se tornam caos acumulado", argumenta ele, que vai lançar o livro com obras de outros autores como Tatiana Nascimento, Pedro Ivo, Kika Sena, Nanda Fer Pimenta e Claudes Pessoa.</div><div><br /></div><div><strong>* Estagiária sob supervisão de Severino Francisco</strong></div><div><br /></div><div><strong>Uma pergunta / Amara Moira</strong></div><div><strong><br /></strong></div><div><strong>O Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade LGBT no mundo. O que deve ser feito para que isso mude?</strong></div><div>Podemos começar pensando na criação das próximas gerações não em termos de medo, mas em termos de liberdade, a própria pessoa descobrindo de que forma faz sentido viver o afeto, o desejo, o amor. O medo que incutimos desde cedo nas pessoas é o grande responsável por essa taxa absurda de violência. As pessoas se sentem ameaçadas diante da nossa presença, por conta da nossa mera existência, pois é como se fôssemos prova viva de que é possível existir de outras formas.</div><div><br /></div><div><strong><br /></strong></div><div><strong>Uma pergunta / Esteban Rodrigues<br /><br /></strong></div><div><strong>Você acha que também é importante que outras pessoas além do público LGBT possam ir para a jornada de poesia?</strong></div><div>Extremamente. Não só pela questão da visibilidade já antes discutida, mas também pela percepção de que também existe cultura dentro da comunidade LGBT. Que existem grandes escritores, grandes artistas e grandes nomes que não se enquadram no sistema imposto. E, além disso, por uma questão social, para perceber o outro como seu semelhante, como alguém que tem dores e amores, ambições, expectativas e vivências.</div><div><br /></div><div> </div><div><strong>Serviço</strong></div><div><strong>Primeira Jornada de Poesia LGBT</strong></div><div>Casa da Cultura da América Latina (SCS Q. 04, Ed. Anápolis). Sexta, às 14h e sábado, às 10h. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Inscrições pelo site <a href="http://publica.new.correiobraziliense.com.br/app/noticia/#h2href:eyJ0aXR1bG8iOiJFeHRlcm5vOiBodHRwczovL2RvaXR5LmNvbS5ici9wb2VzaWFsZ2J0IiwibGluayI6Imh0dHBzOi8vZG9pdHkuY29tLmJyL3BvZXNpYWxnYnQiLCJwYWdpbmEiOiIiLCJpZF9zaXRlIjoiIiwibW9kdWxvIjp7InNjaGVtYSI6IiIsImlkX3BrIjoiIiwiaWNvbiI6IiIsImlkX3NpdGUiOiIiLCJpZF90cmVlYXBwIjoiIiwidGl0dWxvIjoiIiwiaWRfc2l0ZV9vcmlnZW0iOiIiLCJpZF90cmVlX29yaWdlbSI6IiJ9LCJyc3MiOnsic2NoZW1hIjoiIiwiaWRfc2l0ZSI6IiJ9LCJvcGNvZXMiOnsiYWJyaXIiOiJfc2VsZiIsImxhcmd1cmEiOiIiLCJhbHR1cmEiOiIiLCJjZW50ZXIiOiIiLCJzY3JvbGwiOiIiLCJub2ZvbGxvdyI6IiIsIm9yaWdlbSI6IiJ9fQ==">www.doity.com.br/poesialgbt</a>. </div><div> </div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>