Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Conheça a história de algumas músicas que embalaram a nossa Seleção

O escrete canarinho e a torcida sempre adotaram canções para empolgar os jogadores durante a Copa do Mundo


Desde sempre, músicas têm sido utilizadas para embalar a Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo. A maioria foi composta com o intuito específico, mas há outras que, mesmo sem esse propósito no ato de criação, acabaram incorporadas ao universo festivo, responsável por promover a sinergia entre a arte com o e chamado esporte bretão.

Das feitas claramente com o objetivo de reverenciar a Seleção, a que se mantém mais viva no imaginário dos brasileiros é Pra frente Brasil, de Miguel Gustavo, tocada e cantada à exaustão durante a Copa de 1970, no México, e após a conquista do tricampeonato mundial. O verso inicial diz: ;Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil, do meu coração/ Todos juntos vamos/ Pra frente Brasil, salve a Seleção...;

Mas, essa marchinha, convertida no hino semioficial do escrete canarinho e transformado num clássico indiscutível, à época chegou a ser contestada. A razão para isso foi a alegada apropriação dela, pela ditadura militar, então sob o comando do general Emílio Garrastazu Médici, que, aproveitando o clima de euforia no país, buscou propagar a união nacional.

Outras músicas criadas para saudar a Seleção e ouvidas em outros campeonatos mundiais obtiveram maior ou menor sucesso. Em 1950, ano em que o Brasil sediou a competição, Lamartine Babo (autor dos hinos dos grandes clubes cariocas) escreveu para Marcha do Scratch Brasileiro versos ufanistas: ;Salve, salve nosso estádio municipal/ No Campeonato Mundial/ Salve nossa bandeira/ Ela é ouro verde e anil/ Brasil, Brasil, Brasil!”.

A conquista, na Suécia, do primeiro título num Mundial pelo país foi saudada por Wagner Mauger, Maugeri Sobrinho, Vitor Dagô e Lauro Müller em A taça do mundo é nossa: ;A taça do mundo é nossa/ Com brasileiro não há quem possa/ Ê ê esquadrão de ouro/ É bom de samba/ É bom de couro...;. Já em 1962, Jackson do Pandeiro gravou e levou os brasileiros a cantar Frevo do bi, em que parte da letra traz: ;Vocês vão ver como é/ Didi, Garrincha e Pelé dando seu baile de bola/ Quando eles pegam no couro/ Nosso escrete de ouro/Mostra o que é nossa escola;.

Polêmica


Em 1974, soou como crítica ao time brasileiro, na Copa da Alemanha, Camisa 10 da Seleção, de Luís Wagner e Helio Mateus: ;Desculpe Seu Zagalo/ Mexe neste time que está muito fraco/ Levaram uma flecha e esqueceram o arco/ Botaram muito fogo e soltaram o furacão/Que não saiu do chão...;. Já Alberto Luis e Amélia Meireles eram puro otimismo em Avante Brasil, composta para a Seleção de 1978, para a disputa na Argentina: ;Corrente 78/ Formamos na rede emoção/ E quando o tango tocar/Eu vou pra rua sambar/ Vamos nessa minha gente/ Empurrando a Seleção;.

Na Copa de 1982, que teve a Espanha como anfitriã, o Brasil exibiu um belo futebol, mas não chegou à final. Antes, Memeco e Nonô do Jacarezinho fizeram Povo feliz, que fez muito sucesso como Voa canarinho, voa, na voz de Júnior, lateral-esquerdo do Flamengo e da Seleção. Ele e os torcedores cantaram: ;Voa Canarinho, voa/ Mostra pra esse povo que és um rei/ Voa Canarinho, voa/ Mostre lá na Espanha o que eu já sei...;.

Tema da Seleção em 1990, na Copa da Itália, com assinatura de Michael Sulivan e Paulo Massadas, não chegou a acontecer. Pouco se ouviu no rádio, na televisão ou nas ruas os versos de Papa essa Brasil: ;Estamos juntos outra vez/ No mesmo sonho outra vez/ Dessa vez tem que ser pra valer/ Vai ser agora, , quero ver/ Chegou a hora de torcer....;.

Quatro anos depois, Coração verde-amarelo, parceria de Tavito e Aldir Blanc, se tornou outra música chiclete, pela exposição obtida na programação da TV Globo no decorrer da Copa em que a Seleção conquistou o tetra campeonato, nos Estados Unidos, após disputa de pênaltis com a Itália. Naquele período a torcida enchia os pulmões para cantar: ;Eu sei que vou/ Vou do jeito que eu sei/ De gol em gol/ Com direito a replay/ Eu sei que vou/ Com o coração batendo a mil/ É taça na raça Brasil...;.


Incorporadas


Há, porém, aquelas incorporadas ; por motivos diversos ; às comemorações, mesmo sem terem sido feitas com esse objetivo. Um a zero, de Pixinguinha e Benedito Lacerda foi, sim, composta para a Seleção Brasileira, mas, em razão de uma vitória por esse placar sobre o Uruguai, no Campeonato Sul-Americano de 1919, no Rio de Janeiro. Onze anos após, embalaria o Brasil quando da participação na primeira Copa do Mundo, em Montevidéu. Curiosamente, só na década de 1990 esse choro histórico ganhou letra, escrita pelo mineiro Nelson Ângelo, integrante do lendário Clube da Esquina.

Em 2002, a Seleção conquistou o pentacampeonato, no Japão, ao vencer a Alemanha na final por 2x0. Durante o mundial, o técnico Luiz Felipe Scolari usava A festa (Anderson Cunha), sucesso de Ivete Sangalo, para motivar os jogadores. Esses, no entanto, nas batucadas que costumavam fazer, cantavam Deixa a vida me levar, de Serginho Meriti e Eri do Cais.

;Para mim, Deixa a vida me levar tem sido uma música generosa. Ao ser gravada por Zeca Pagodinho, também deu nome ao disco lançado por ele em 2002 e se tornou sucesso imediato. O Ronaldinho Gaúcho, a quem eu não conhecia, gostou muito desse samba e passou a cantá-lo, com outros jogadores da Seleção Brasileira, em batucadas durante a Copa no Japão. Hoje, recebo direitos autorais até do exterior;, comemora Serginho, radicado em Brasília desde 2017.

Xande de Pilares e seu parceiro Gilson Benini fizeram em 2009 Tá escrito, um dos sambas mais conhecidos e elogiados do repertório do grupo Revelação, que traz mensagem de esperança: ;Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/ Manda essa tristeza embora/ Basta acreditar que um novo dia vai raiar/ Sua hora vai chegar;. Resultado: virou tema da Seleção de 2014 que, infelizmente ,frustrou a torcida na Copa organizada pelo Brasil.
; A do momento
Na campanha em busca o hexacampeonato na Rússia, a Seleção Brasileira vem sendo embalada por Único penta é o Brasilzão!, música composta por Luiz Carvalho, paulista de Guaratinguetá. A letra que evoca os títulos conquistados pela nossa Seleção e jogadores que se destacaram diz: ;Ééééé cinco oito foi Pelé/ Em meia dois foi o Mané/ Em sete zero o esquadrão/ Primeiro a ser tricampeão/ Único penta é o Brazilzão! Ôôôô 94 Romariiôôô/ 2002 Fenomenôôô/ Primeiro tetracampeão/ único
penta é o Brasilzão!”.