Fechado desde 2013 por causa de uma série de problemas que iam das instalações elétricas ao revestimento do piso, o Espaço Cultural Renato Russo reabre as portas neste sábado (30/6) com uma festa que tem início às 14h e ocupa boa parte dos espaços reformados com a participação de artistas que celebram a história do local.
Na praça central e nas galerias Rubem Valentim e Parangolé, a exposição Onde anda a onda 3, realizada anualmente no Museu Nacional da República, reúne 20 galerias da cidade e do Entorno. Cada uma selecionou uma média de cinco artistas cujas obras representam a produção recente de Brasília.
;Tem uma limitação de espaço e tivemos que diminuir o número de artistas de 10, como fazíamos no Museu, para cinco;, avisa Wagner Barja, coordenador e idealizador da mostra. ;Essas galerias sempre foram uma referência na cidade. O Espaço Cultural é voltado para a formação e isso se dá nesse conjunto de linguagens que convivem ali dentro: música, artes, literatura, teatro, cinema. Essa característica se mantém com a reabertura.;
Barja lembra que muitos dos artistas da cidade se formaram nos ateliês do Espaço Cultural e depois mostraram seus trabalhos, pela primeira vez, na Parangolé e na Rubem Valentim. ;E como o processo vem colado no produto, as galerias adquiriram uma pegada de experimentação e ousadia. Isso tem uma ressonância incrível na cidade,m porque muitos artistas que passaram pela formação no espaço também expuseram nas galerias;, aponta Barja.
O governador Rodrigo Rollemberg destaca que a reabertura do espaço cultural ;é uma conquista de todos os artistas da cidade, de todos os movimentos culturais. Pelo Renato Russo passaram todas as formas de arte que a cidade já conheceu;.
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A Referência Galeria, por exemplo, apresenta obras inéditas de artistas da cidade que alcançaram projeção nacional e internacional. Alguns, inclusive, têm as galerias Rubem Valentim e Parangolé como estágios importantes da carreira. É o caso de Gê Orthof e Ralph Gehre, que estão na mostra ao lado de David Almeida, João Angelini e Virgílio Neto, expoentes da nova geração. ;Sempre foi um lugar de liberdade, no qual a gente podia testar coisas, fazer coisas com a cara a coragem;, conta Orthof, cuja primeira exposição depois de retornar do doutorado nos Estados Unidos foi realizada na 508.
A partir das 14h, cerca de 50 artistas vão grafitar os espaços externos do Renato Russo, uma tradição que, antes da reforma, fez do local um dos mais coloridos do Plano Piloto. Convidado para participar da empreitada, o grafiteiro Daniel Toys sempre sonhou em ver seus desenhos tomarem conta do espaço. ;É um ótimo local para fomentação da arte urbana, exposições e até mesmo pintura dos murais. A W3 é uma das mais importantes da cidade e ali transitam milhares de pessoas diariamente. Isso é ótimo para a cultura em geral, colocar em um local acessível a todos;, diz Toys.
O grafiteiro ainda não sabe ao certo o que vai pintar e conta com a intuição para guiá-lo. ;Sempre tento fazer uma conversa do ambiente ao redor. Estou com algumas ideias e estudos sobre a parede, quero fazer meu personagem em alguma situação urbana do local, mas também criar uma situação lúdica e mágica com as cores;, avisa o artista, que representa a nova geração de grafiteiros da cidade. Food trucks e DJ vão acompanhar a festa na parte externa da 508. DJ Barata, do Criolina, também vai comandar o som entre 17h e 20h.
Às 16h, tem início a programação oficial com a inauguração de Onde anda a onda 3, e, às 18h, o coletivo Instrumento de ver apresenta a Intervenção circense, seguida da performance Memória presente, de Hugo Rodas. Júlia Henning, integrante do coletivo, garante que o Espaço Cultural Renato Russo foi fundamental em sua formação. ;O coletivo nasceu lá, nossa primeira apresentação foi lá e muitos dos nossos espetáculos foram criados lá;, garante. ;Sempre foi um espaço meio improvisado, mas tinha essa abertura para artistas iniciantes que estavam começando. Acho que a gente não existiria sem ele.;
Ellen Oléria é outra que tem o Renato Russo com referência. ;Há muito tempo almejamos por essa revitalização. Ter novamente esse lugar pra ferver e transformar nossas histórias é mais que a força imensa que a gente sente quando tocamos no nome de Renato Russo. Não se trata de um prédio. Estamos remontando é a força da gente quando nós nos unimos;, comemora Ellen, que faz show no Teatro Galpão a partir de 19h30 e tem como convidados Renato Vasconcellos, Leonel Laterza e Rodrigo Bezerra.
Na sala Marco Antônio Guimarães, haverá projeção do filme Rock Brasília e debate com o diretor Vladimir Carvalho e, no mezanino, Renato Mattos faz a performance Ziriguidum do além, com o grupo Udi Grudi.
A reforma do espaço teve início em 2016 e incluiu uma revisão das instalações hidráulicas e elétricas, troca de piso, obras de acessibilidade, instalação de elevador e de equipamentos de som e iluminação no teatro, nas galerias, no auditório e nas salas e ateliês. No total, incluindo as obras e as máquinas, foram investidos R$ 6,2 milhões. A forma de gestão do local também será diferente a partir deste ano.
Um chamamento público foi aberto para propostas de organizações da sociedade civil e o resultado deve ser divulgado em dez dias. A organização vencedora será responsável pela manutenção e gestão do Espaço Cultural, assim como pela programação. ;O investimento feito no primeiro ano de gestão de parceria com a sociedade civil é de R$ 800 mil para um ano de trabalho, para montagem de equipe e desenvolvimento de atividades. Esse pessoal vai receber um recurso para contratar equipe, técnico, colocar gente lá dentro, desenvolver programação e abrigar a produção de Brasília que vai encontrar de novo a casa dela;, explica o secretário de Cultura, Guilherme Reis.
;O Espaço Cultural da 508 sul já teve tantos nomes e cada um deles é um diferente marco do encontro de linguagens e da formação cultural da nossa cidade. E, sim, a gente quer de volta todos os nossos espaços de fruição;
Ellen Oléria, cantora e compositora
;Pelo Renato Russo passaram todas as formas de arte que a cidade já conheceu;
Rodrigo Rollemberg, governador
;Para mim, pessoalmente, é um espaço bem importante. Quando comecei a fazer grafite, sempre prestava atenção na W3 e percebi que ali tinha vários grafites e um movimento artístico. Teve um evento lá que marcou várias gerações no grafite de Brasília porque vieram muitas pessoas de fora e do Brasil todo para pintar o espaço. Era um sonho pintar lá;
Daniel Toys, artista urbano
;Quando cheguei à Secretaria de Cultura, havia um projeto já licitado, executado, feito o contrato, pago e recebido de renovação daquele espaço. Só que o projeto derrubava o prédio e construía outro centro cultural naquele espaço. Nenhum dos espaços tradicionais da 508 era mantido. Nada mudou, tudo está mantido, respeitada a história e a tradição daquele espaço;
Guilherme Reis, secretário de Cultura
LINHA DO TEMPO
1974
; O Teatro Galpão foi o primeiro equipamento cultural inaugurado na região, com a peça O homem que enganou o diabo e ainda pediu troco. O Galpão se tornaria palco obrigatório para as trupes da cidade
1977
; É inaugurado o Centro de Criatividade, primeiro nome do Espaço Cultural da 508, acoplado aos teatros Galpão e Galpãozinho e as galerias
1993
; Passa a se chamar Espaço Cultural Renato Russo e a ter uma programação que inclui todas as linguagens ; cinema, música, dança, teatro, exposições, literatura. A intensa movimentação e circulação da produção jovem da cidade passou a encontrar refúgio no local
2001
; Criação da musicoteca
2013
; Depois de anos de falta de manutenção, com instalação elétrica e hidráulica caindo aos pedaços, o Espaço Cultural é interditado por determinação do Ministério Público e Corpo de Bombeiros
2016
; Tem início a reforma do espaço