Dois espetáculos de dança contemporânea ocupam os palcos de Brasília nesta semana. Para representar a capital, a montagem Mira e anda será apresentado gratuitamente no Teatro Paulo Gracindo, sob direção de Reginaldo Moreira. Enquanto isso, o Ballet Stagium, a mais antiga companhia de dança em atuação no país, desembarca com o espetáculo Figuras e Vozes, sob direção de Marika Gidali e Decio Otero.
A inspiração para o trabalho em cena mostra a diversidade criativa dos grupos, que transitam entre a busca pelos conflitos nas relações humanas e a quebra dos códigos vigentes na sociedade contemporânea.
A Stagium se inspirou no estado de espírito dadaísta para construir novos movimentos em cena. Durante a primeira grande guerra, o dadaísmo surge com a clara intenção de destruir todos os sistemas e códigos estabelecidos no mundo. Marika Gidali conta que o grupo mergulhou em uma pesquisa profunda sobre o movimento artístico e a coreografia foi construída sob a liberdade de ação de cada bailarino.
;No palco, quando entra a parte teatral, há uma coreografia bastante sincronizada e, ao mesmo tempo, com muita liberdade de ação. Os bailarinos estudaram muito para construir um diálogo com a direção;, destaca.
A ideia é dialogar com o público de maneira simples e emocional. Em cena, cada bailarino dança através de seus valores e raízes. Para os trabalhos do grupo, a coreógrafa lembra da força da criação a partir de sua própria cultura, sem copiar o que vem de fora.
Marika lembra que, através da coreografia, a companhia mostra uma forma diferente de dança entre figuras e vozes que interferem durante toda a narrativa. ;A montagem é irreverente, assim como o dadaísmo, que propôs uma forma quase infantil de demonstrar a insatisfação do momento. Posso dizer que a nossa situação atual nos leva a essa forma de pensar;, afirma a artista.
No espetáculo, o acaso e o inesperado surgem como contraponto ao mundo institucionalizado e movido pela rapidez das informações. A companhia, que acumula uma rica e ampla trajetória na dança contemporânea, foi criada em 1971. Na história do grupo, uma relação de profundo envolvimento com a cultura brasileira e as raízes de seu território tão diverso.
Prata da casa
Enquanto isso, o coreógrafo Reginaldo Moreira dirige o espetáculo brasiliense Mira e anda, inspirado em contos da psicóloga Ana Virgínia Queiroz. A montagem discute os conflitos nas relações humanas através da interpretação de cinco bailarinos. A narrativa não linear mostra personalidades psicossociais e busca criar um diálogo sobre desafios emocionais.
;Eu gosto de relacionar o processo criativo ao ser humano, trabalhar com a emoção das pessoas, as angústias, sentimentos, tanto as dos bailarinos quanto as do público;, afirma Reginaldo. No palco, a trama se desenrola entre a infância e a velhice da personagem Miranda. Ela passa por diferentes processos de perda mas, no fim, a mensagem que fica é a de que vale a pena seguir em frente.
Reginaldo lembra que o grupo brasiliense se baseia no princípio de que a dança contemporânea nasce fundada na liberdade dos bailarinos e criadores. Cada artista constrói o trabalho de acordo com as suas vivências e histórias.
A partir da mistura de relações, significados e inspirações pessoais, a narrativa é construída. O coreógrafo destaca que o espetáculo fala do ser humano em sua essência, um retrato do que se vive em diferentes momentos da existência.
A liberdade criativa da dança contemporânea reflete na variedade de estéticas e histórias levadas ao palco. Inspirados pelas sensações humanas ou pelas relações sociais contemporâneas, cada artista busca criar um diálogo de reflexão e imersão com o espectador. Os dois espetáculos cumprem curta temporada na cidade e estão em cartaz somente nessa semana.
Figuras e vozes, com o Ballet Stagium
Na Caixa Cultural Brasília (SBS Q. 4 Lt. 3/4). De 28 a 30 de junho e 1; de julho. De quinta a sábado, às 20h e domingo, às 19h. Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). A classificação indicativa é livre.
Mira e anda
Com Reginaldo Moreira, no Teatro Sesc Paulo Gracindo (Gama). Quarta (27/6) e quinta-feira (28), às 20h. A entrada é a franca e a classificação indicativa é livre.