Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Em novo disco, rapper Vera Verônika retrata as vivências da mulher negra

'Afrolatinas' é uma continuação do álbum Mojubá, lançado em 2017


;Mulheres fortes, empoderadas, destemidas/ Somos guerreiras, pretas de N;zinga/ Fortes, contundentes, determinadas/ Parceiras coligadas de longa estrada/ Vem de longe nossos passos, nossa história propagada/ Vozes ao alto, pelos gritos de Teresa de Benguela;. É enaltecendo e mostrando a realidade da mulher negra que a rapper brasiliense Vera Verônika, pioneira no cenário hip-hop, começa o álbum Afrolatinas.

O disco é uma continuação do álbum Mojubá (2017) e é formado por 12 faixas, que, em sua maioria, tratam de temas ligados às mulheres, seja o empoderamento, como em Marchemos, sejam as lutas diárias de minorias, como as encarceradas e os nomes do cenário hip-hop no Brasil, citadas, respectivamente, em Sem poder voar e Mulher de aço. ;Todas as minhas músicas sempre têm uma temática. O CD já começa falando do empoderamento da mulher negra resgatando o 25 de julho, dia de Teresa de Benguela e da mulher afro-latina-americana e caribenha;, explica a cantora.

No álbum, Vera Verônika ainda aborda outros assuntos como as religiões de matriz africana em Osun, quando exalta a ancestralidade por meio da orixá dona das águas; os problemas políticos e educacionais do Brasil nas faixas A posse e Pátria amada; e até o início de Brasília com a migração de homens e mulheres de Norte a Sul em De volta às origens.

Trajetória


Afrolatinas faz parte da comemoração dos 25 anos de trajetória de Vera Verônika no rap brasiliense. Por ser um material comemorativo, a rapper conta com participações especiais, como Martinha do Coco e Barbatuques em Marchemos, Rapadura e Rafinha Bravoz em De volta às origens; Moara na música Diversas; e Hadda na parceria em A posse. ;Foram participações muito importantes, porque são pessoas que, em algum momento desses 25 anos, fizeram parte. Foi muito prazeroso;, define.

Em 25 de julho, as canções de Mojubá e Afrolatinas se juntam no DVD dos 25 anos de carreira de Vera Verônika que será disponibilizado no YouTube. O material foi gravado no ano passado no Complexo Cultural da Funarte, no Eixo Monumental. ;Será um compilado das músicas do DVD. Quisemos lançar o Afrolatinas antes para as pessoas poderem se identificar com as músicas e conhecerem o CD;, explica sobre a estratégia de lançamento do material.

Início


Há 25 anos, Vera Verônika deu os primeiros passos no rap. Um desafio e tanto, já que naquela época havia poucas mulheres nesse cenário no Brasil, principalmente em Brasília. ;Demorei para ter mulheres como referência. Conheci o rap em 1990 e comecei a cantar em 1992. Eu não tinha curso de música e canto, mas como o rap significa ritmo e poesia, eu conseguia contar a história da periferia sem muita métrica de musicista;, lembra.

Ela entrou nesse mundo graças ao amigo Dino Black, que apresentou-lhe as músicas de grupos como Racionais MC;s e Câmbio Negro. ;Ficamos maravilhadas com o teor do protesto. Era tudo que estávamos passando nas periferias do DF. Comecei com a Marcia e a Debora no grupo Missionárias, só que eu nunca parei. Sou a única dessa época que ainda está na ativa. A maioria das mulheres parou por diferentes circunstâncias;, afirma.

Para Vera Verônika, foi o rap o responsável por tudo que a vida lhe proporcionou. Hoje, aos 40 anos, além de cantora, ela é pedagoga e mestra em educação, professora universitária, comanda um orfanato e a ONG Acesso, que tem trabalhos itinerantes pelo Distrito Federal.

Afrolatinas
De Vera Verônika. Independente, 12 faixas. Disponível nas plataformas digitais.