Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Carnaval é tema de evento com palestras e shows no Museu Nacional

O Seminário Carnaval traz à cidade Martinho da Vila e Teresa Cristina


A 260 dias do carnaval, Brasília recebe um evento voltado para a maior festa brasileira. Organizado pela Rede Carnavalesca, grupo formado por foliões e agentes culturais que procura organizar e fomentar as manifestações na cidade, o Seminário Carnaval ; Patrimônio Cultural da Humanidade vai ser realizado, com entrada gratuita, no Museu Nacional hoje e amanhã.

Serão dois dias com bate-papos, palestras e shows musicais. Entre os convidados para conversar com o público sobre carnaval estão representantes desta festa no Distrito Federal, como a Liga dos Blocos Tradicionais, representantes das escola de samba e blocos independentes da cidade. Também vão debater o tema artistas de fora de Brasília, como Martinho da Vila, Teresa Cristina e BNegão.

Os temas que vão permear essas discussões são o carnaval como patrimônio cultural da humanidade, a relação de outras nações com eventos similares, como o carnaval de Callao, na Venezuela; o de Oruro, na Bolívia; e o de Barranquillas, na Colômbia ; e maneiras de melhor realizar essa festa aqui em Brasília. Além disso, ao final de cada dia de evento, vai haver apresentações musicais.

A ideia é construir um diálogo entre vários participantes da festa para que o carnaval do DF possa crescer de forma organizada. Uma das integrantes da Rede Carnavalesca, Juliana de Andrade explica que a iniciativa teve início quando perceberam que a festividade na capital estava crescendo exponencialmente. Porém, ela complementa: ;a gente notou a expansão, ao mesmo tempo em que houve o desmonte das políticas públicas para fomentar o carnaval;.

Outro fator que os criadores do evento levam em consideração é o fato de Brasília precisar de mais ordenação. ;Por ser a capital federal, o que é feito aqui reverbera para toda o país. Então, convocamos a turma da cidade junto com pessoas que não são daqui para ajudar-nos a elaborar as nossas próprias políticas públicas para o setor, não somente se espelhar no que vem de fora;, comenta Juliana de Andrade.
Patrimônio imaterial

Um dos grandes expoentes do samba carioca, que tem como escola do coração a Vila Isabel, Martinho da Vila vai dividir a mesa com Martinha do Coco, pernambucana radicada em Brasília e uma das responsáveis por disseminar samba de coco, maracatu e ciranda. A dupla vai falar sobre a importância de o samba ter sido elevado à categoria de patrimônio imaterial brasileiro.

O sambista adora o carnaval e, na opinião dele, a festa ;é necessária porque, na vida, tem de haver sempre descontração; e a maior comemoração do país leva a uma ;descontração nacional;. Martinho compôs sambas-enredos para a Vila Isabel e desfilou junto à escola inúmeras vezes, mas confessa preferir os anos nos quais realmente participa dos preparativos para a passagem da agremiação pela Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. ;A escola de samba é um elemento cultural. Ela tem que divertir, emocionar, informar e manter viva a história;, defende.

A presença do artista no evento é comemorada por Juliana de Andrade, que também atua na organização do seminário. ;Martinho da Vila é um grande intelectual popular. Precisamos cuidar desses mestres da cultura e ouvi-los;, declara, afirmando ainda que a participação do sambista é uma honra.

Representante das escolas de Brasília, Moacyr de Oliveira, mais conhecido como Moa, é o presidente da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro, a Aruc. Ele vai participar da discussão sobre a questão patrimonial do carnaval, pois a agremiação que dirige foi a única a receber o título de patrimônio imaterial do Distrito Federal. ;Esse registro, inicialmente, é um reconhecimento das atividades culturais que a Aruc proporcionou nesses 57 anos de história. Além disso, é uma forma de firmar novas parcerias;, avalia.

Há quatro anos não há desfile de escolas de samba em Brasília, mas isso não impediu a Aruc de estar sempre presente nos festejos da capital. A agremiação desfila junto com os bloquinhos da cidade e mostra, segundo Moa, que ;não há essa dicotomia. Tanto as escolas de samba quanto os blocos carnavalescos fazem a festa em prol da cultura e para divulgar as manifestações artísticas;.
No segundo dia de seminário, amanhã, umas das participantes do debate sobre carnaval e cidadania será a cantora e compositora Teresa Cristina. A carioca se considera uma foliã e, há mais de 15 anos, desfila com o bloco Cordão do Boitatá, que sai no centro do Rio de Janeiro, e com a escola de samba do coração, a Portela. Ela vê, na festa, tanto um momento de regozijo quanto de crítica social.

No Rio de Janeiro, o carnaval é vital e apesar de o governo local, assim como o de Brasília, afirmar que não tem dinheiro para investir no evento, Teresa Cristina lembra que, ;além de empregar muita gente, é reconhecido no mundo todo;.

A cantora disse que assim que acaba o carnaval de um ano, já começa a se preparar para o do próximo. Em 2019, vai desfilar na escola do coração, que trará no enredo uma homenagem a uma das grandes portelenses, Clara Nunes.

Apresentações musicais

No primeiro dia do seminário, depois da palestra de abertura, vários artistas brasilienses fazem um carnaval fora de época. A bateria Ritmo Quente da Aruc traz sambas-enredos, assim como Martinha do Coco mostra uma variação do ritmo, o samba de coco. O grupo de batuque Filhas de Oyá e os DJs da Rede Carnavalesca também vão agitar a noite.

Amanhã, depois dos bate-papos e para encerrar os dias de evento, também vão se apresentar mais dois artistas. O cantor BNegão, que faz parte do projeto Navio Pirata e durante o carnaval sai pelas ruas de Salvador ao lado do grupo Baiana System. E o bloco brasiliense Aparelhinho, que é composto pelo coletivo de DJs Criolina e mistura ritmos brasileiros com de outras partes de mundo.

* Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader

Seminário Carnaval ; Patrimônio Cultural da Humanidade
Área externa do Museu Nacional. Hoje, a partir das 19h, e amanhã, a partir das 9h.

; Programação

Hoje
19h - Abertura oficial palestra Carnaval: Patrimônio cultural da humanidade. Palestrantes: Martinho da Vila e Martinha do Coco.

21h30 - Bateria Ritmo Quente (Aruc), Martinha do Coco, Filhas de Oyá e DJs da Rede Carnavalesca.

Amanhã
9h - Mesa: Carnaval e patrimônio - Realidade transnacional. Palestrantes: membros das representações diplomáticas. Mediação de Lydia Garcia.

11h - Carnaval e Patrimônio: Identidade, ação, memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Palestrantes: Moacyr de Oliveira, Luciene Velez, Ellen Krohn
e Elizabeth Cintra.

14h - Carnaval e cidadania. Palestrantes: BNegão, Teresa Cristina e Thomas Cooper Patriota. Mediação: Gabriela Tunes.

16h20 - Carnaval do DF, possibilidades e perspectivas. Palestrantes: presidente da Liga das Escolas de Samba do DF e protagonistas dos blocos Mediação: Naira Altoé Daltro.

19h - Encerramento. Show de BNegão e bloco Aparelhinho.