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Filmes 'Não se aceitam devoluções' e 'João de Deus' estreiam nesta quinta

'Não se aceitam devoluções', com Leandro Hassum, é destaque nos cinemas. Confira também documentário sobre João de Deus


Estudante de artes cênicas no famoso Teatro Tablado, o ator carioca Leandro Hassum, hoje, aos 44 anos, goza de raro prestígio nas telas nacionais. Ele é o protagonista de Não se aceitam devoluções, uma comédia sobre a paternidade, remake de filme mexicano, interpretado e dirigido por Eugênio Deberz.

Na trama, Juca Valente (Hassum) terá desafios como o de virar dublê de cinema numa tumultuada realidade criada pelo súbito aparecimento da filha Emma (papel de Manuela Kfouri). Como diz o título da comédia ; Não se aceitam devoluções, o produto de um amor pode ser inesquecível.

Saído de Brasília há 21 anos, o músico e diretor de cinema André Moraes teve na capital, até os 20 anos, o apoio e a formação para as artes, com estímulos importantes como o da convivência com o pai, o diretor Geraldo Moraes. Na nova empreitada, ao lado do astro Leandro Hassum, André abrasileira comédia do ator Eugênio Deberz, que seria uma espécie de Didi Mocó mexicano: ;Tivemos dificuldades na adaptação, mas fizemos o filme mais brasileiro, com a cara do Hassum;, conta André. "O tom é leve e colorido". Confira as entrevistas para o Correio.


De bem com as bilheterias
A partir dos anos 2000, Hassum ampliou a visibilidade, pela exposição na tevê, onde despontou com as participações nos programas humorísticos Zorra total e Os caras de pau. Depois de participações breves na telona, chegou à impressionante marca dos 10,7 milhões de ingressos, com a trilogia de Roberto Santucci Até que a sorte nos separe, exibida nos cinemas entre 2012 e 2015. O candidato honesto e Vestido para casar foram outros êxitos do ator, que participou do primeiro filme 3D nacional Se puder... dirija (2013). Recentemente, Hassum encenou novos dois projetos:
Malasartes e o duelo com a morte e Dona Flor e seus 2 maridos, ambos longas-metragens.

Três perguntas para Leandro Hassum, ator


Você tem se redescoberto como um ator mais dramático? Digo, por causa de algumas cenas de Não aceitamos devoluções.

Não, não. Eu sempre fui um ator. Há dramaturgia pesada e há a comédia ; tem o drama, tem a tragédia e, num ator, tem isso correndo dentro, em paralelo. Para um comediante, digo que é mais simples chegar na emoção, no drama, às vezes, até mesmo mais do que para aquele colega que trabalha em tom mais dramático. Não se trata de desmerecer, mas digo isso pelo fato de o comediante ter que ir tão fundo na verdade a ponto de acreditar no absurdo da piada. Então, virar a chave pro drama se torna muito mais simples.

Acha que com o novo filme perseguimos um humor mais argentino ; mesclando mais drama e comédia?

Acho que não, até porque o roteiro vem de origem mexicana. Ainda assim, demos uma tropicalizada neste filme, numa adaptação. Isso para ter uma pegada mais brasileira, e não mexicana ou de qualquer outra língua latina. Mas a gente preserva nosso humor: rimos de coisas diferentes, mesmo fazendo um remake. Caso contrário, bastava ter legendado o outro filme.

Ter conhecido Jerry Lewis (e contracenado com ele) mudou algo na tua percepção de interpretar comédia? Adotou mais equilíbrio entre escracho e comédia agridoce?

Acrescentar, acrescentou sim. Trabalhar com um gênio como ele foi sensacional. E a gente aprende só de olhar. O equilíbrio entre o escracho e qualquer outra coisa vem muito da personalidade da gente e do trabalho que está realizando. Servir àquilo que o trabalho nos pede. Adotar o escracho e o agridoce é coisa que a gente decide junto com a direção. Ter conhecido Jerry Lewis não mudou meu tom de comédia, só acrescentou ; porque olhar um gênio, e não tentar aprender com ele, seria uma estupidez da minha parte.

A vida de João de Deus



Feito com recurso independente, o longa-metragem João de Deus ; O silêncio é uma prece não pode ser medido, em termos de orçamento, pelo que conta o diretor do longa Candé Salles. ;Para mim, não era só um filme ; era uma experiência de vida;, explica o carioca de 42 anos. Com carta branca para filmagens ilimitadas, desde 2011, ao longo de visitas mensais, por cinco anos, registrou o cotidiano de João Teixeira de Faria (conhecido como João de Deus); trabalho complementado pela temporada de seis meses como morador da sede de atendimento do famoso médium (a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, no interior goiano). ;A verdade do João de Deus está no amor. Durante todo o período do documentário, estive embevecido de amor. O filme é sobre o trabalho na casa dele, com alguns momentos de sua vida pessoal. Não é um filme sobre a vida dele;, adianta.

Fenômenos de cura descolados da racionalidade ganham registro no filme que propiciou uma viagem de autoconhecimento para o cineasta. ;Sou muito privilegiado, por conviver com João e por ter sido escolhido para levar a mensagem dele adiante. Valorizo muito este brasileiro, que está vivo e perto da gente;, diz Candé Salles. Nada cético, o realizador elencou, na fita, ações beneficentes atreladas a João, além de contemplar o registro de pessoas curadas com banhos de cristal, tratamentos em cachoeira, em operações espirituais e por meio de rezas. ;Eu acredito em tudo. Fui tocado por Deus, luz e situações de bem, com muita troca de energia. Aliás, as pessoas me pedem coisas, pela proximidade que tenho com João de Deus. Isso é lindo: receber telefonemas de agradecimento, dadas muitas possibilidades de cura;, comenta.

A própria definição de ;missionário; a serviço da cura ofertada por Deus é uma constante na vida de João de Deus. ;Quando busquei a presença do João, não tinha nenhum problema físico ou aparente. Aliás, desde que tive contato com ele, nunca mais fiquei doente. Tinha, antes do contato, algumas questões internas;, explica o diretor. Uma das coisas que impressiona o artista é a sabedoria e o rigor culto de algumas entidades que acompanham o médium, sabidamente analfabeto funcional, e que, sistematicamente, aconselha que seus seguidores não abandonem consultas ou tratamentos médicos.

Intervenções espirituais
No roteiro criado por Edna Gomes, houve espaço até para dados do passado, como o encontro de João com o amigo Chico Xavier (em imagem de arquivo). Sem perdas de pacientes, nas intervenções espirituais que já realizou, João de Deus se define como um servo de Deus, apregoando modificações na vida das pessoas, a partir de ajustes na alma. Com aval até mesmo de profissionais da medicina, as curas espirituais seguem beneficiando muitos.

A quem duvida da autenticidade dos feitos de João, Candé Salles poda a desconfiança, com uma brincadeira: ;Digo a amigos que só se ele fosse um ator como o Jack Nicholson ; e ele não é ; para interpretar tantas entidades;. E João teria defeitos? Sem intenção de julgar, Candé revela que sim: ;Ele pode ser rude, em algumas broncas ou exigências. Mas é igualmente sensível, chora e abraça também. É um homem carinhoso e sensível;.

Duas perguntas André Moraes, diretor


De que forma Brasília contribuiu para sua formação de artista?

Brasília, para mim, é uma inspiração de vida. Porque é a cidade em que nasci e onde me criei. Foi a cidade que me fez ter as condições, o tempo e as inspirações para me moldar como artista. Desde muito cedo, tive a chance de praticar em casa guitarra, violão, com todo o tempo do mundo, afinei a dedicação aos instrumentos. Isso me fez crescer cada vez mais como artista. Brasília é uma cidade de inspiração profunda. Você vê o céu, de onde estiver ; e o sol é muito presente. Você convive com artistas, com políticos, com diplomatas, e, ao mesmo tempo, convive com empresários que trazem novas visões de futuro. E Brasília é ainda uma cidade muito esotérica. Meu guru foi Raul de Xangô, que também era de Brasília. Me fiz com ele aí, como pessoa: Brasília me fortalece, é a minha raiz.


Foi difícil dar novo tratamento para um filme que teve outras versões?

O filme mexicano eu considero muito bom. O Eugênio Deberz (comediante e diretor de cinema) é um grande artista, entusiasta e empresário. No México, ele é um Didi Mocó ; simplesmente fantástico. O filme dele é lindo, lindo, lindo; sou apaixonado por aquela versão. Independentemente das outras versões de cinema. Essas não me inspiraram, por ter visto depois. A versão francesa é extraordinária, com mudanças de roteiro muito originais. Na nossa versão, tínhamos que abrasilieirar o filme. Trouxe comigo parte do elenco ; Maria Bia, Zéu Britto, Ana Carol Machado. O Leandro Hassum, claro, era um cara de confiança total. Além de ser um gênio da comédia, é um ator de mão cheia. É amigo dos meus amigos. Então, eu estava muito em casa. É um filme de casa: a produtora que todos conhecemos, Walkíria Barbosa, começou nos anos 1980, com orientações do meu pai. Tivemos dificuldades e desafios de adaptação, mas deixamos o filme mais brasileiro, com a cara do Hassum. O tom é leve e colorido. O personagem leva referências do Brasil, até mesmo quando vai morar fora.