Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Artistas animam o cotidiano de passageiros nos transportes públicos do DF

Phillip Sales encontrou alento na música e deixou o emprego formal. Hoje, ele toca nas estações do metrô da cidade

Ônibus cheios, correria nas estações de metrô e engarrafamentos intensos na hora do rush no trânsito brasiliense. O cotidiano de quem utiliza transporte público é agitado. Entretanto, em meio à multidão que circula nos veículos públicos, artistas contornam a pressa do dia a dia, levando cultura até os passageiros. Da música à poesia, as artes que passam pelos transportes de Brasília não tornam só a vida dos viajantes mais leve, mas também a dos profissionais que a produzem.

Há seis anos, o artista paulistano Phillip Sales encontrou alento na música. ;Eu estava em depressão na época, e fui convidado com uns amigos para um bar. Lá, tinha um músico tocando. Aquilo me inspirou;, conta Sales. Desde então, ele deixou o emprego formal, num escritório, e passou a viver de arte. Phillip leva o som que produz para as estações de metrô Central, Galeria, Praça do Relógio e Águas Claras. Ele toca sucessos internacionais e nacionais do pop rock, desde clássicos dos anos 1950 até canções contemporâneas.


Phillip explica que entregar um pouco de arte aos usuários do metrô é gratificante. ;É um sentimento gostoso de mexer com o coração das pessoas. É muito bom ver o pessoal vindo de longe, tirando o fone de ouvido para escutar meu trabalho ou dando um sorriso;, conta o artista. Para ele, as tecnologias influenciam no individualismo cotidiano. O artista afirma que a música é uma alternativa de união e interação entre as pessoas. ;Antes do celular e das redes sociais, as pessoas tinham um relacionamento mais frente a frente. A música é um instrumento universal. Percebo que, quando toco, forma-se uma roda, as pessoas ficam conversando e dançando juntas. Promove um sentimento.;


As estações de metrô do Distrito Federal também são palco do cantor Jim Coelho. O brasiliense toca nos espaços Galeria, Central, Park Shopping e Taguatinga Sul. Há oito meses, o músico apresenta versões em reggae de músicas clássicas da MPB. Cansado de empregos em que era desvalorizado, decidiu seguir a carreira musical. Hoje, Jim se apresenta em estações e bares da cidade. ;Eu sinto uma boa recepção do público. O feedback é muito bom. Às vezes, a pessoa está na correria e aquela música já muda todo o dia dela;, comenta Jim.

Não para por aí. Inspiradoras, as estações de metrô do Distrito Federal viraram até tema de canção. O videoclipe Sete dias foi gravado nos túneis de trem de Brasília. A faixa é autoria de Jim e do amigo Regnaldo Neto, que, juntos, formam a banda Projeto Dois Coelhos. Quem utiliza os trens da cidade tem grandes chances de se identificar com a letra. Versos como ;quantas estações eu vou sorrir, com o jeito que ele olha e olha pra trás?; narram a história de um amor, iniciado no metrô da cidade. ;Quem nunca teve uma paixão no metrô? Depois que gravamos, as pessoas vieram nos dizer que gostaram. Muita gente se identificou;, conta Jim.

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Poesia no busão

O metrô de Brasília não é o único palco de apresentações artísticas: os ônibus também recebem atividades culturais. Protesto e poesia é a combinação utilizada por Rafael Cruz para disseminar arte nos coletivos. Baiano, de Salvador, Cruz já rodou o país espalhando o trabalho. ;A poesia é uma forma totalmente aceitável para representar meu povo negro e o povo pobre. Minhas poesias são sobre isso;, explica o artista, que entra nos ônibus da cidade e declama os textos.

Uma série de temáticas que se entrelaçam com a realidade de Rafael e de parte da população são abordadas nas obras. ;Escrevo sobre justiça, sobre o sistema capitalista, sobre o Nordeste e sobre o cotidiano. São temas importantes;, explica o poeta. Cruz conta que escolhe a poesia que declamará de acordo com o público que está no coletivo para que as pessoas se identifiquem com o trabalho. ;No começo, eu ficava pensando qual seria a reação de uns e o comportamento de outros. Sempre sou muito cauteloso na hora de escolher as poesias;, afirma.

Orgulhoso, Rafael explica que a ideia por trás do projeto é fazer com que as pessoas reflitam sobre a importância dos assuntos declamados nas poesias. ;Eu só quero reproduzir a conscientização de um mundo melhor;, completa. A retribuição para o trabalho feito por Rafael é dada pela própria capital candanga. ;É uma cidade que me inspira. Foi o lugar onde mais escrevi poesias. Brasília me deu muitos frutos;, afirma.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Severino Francisco

Acompanhe
Phillip Sales

A página do músico no YouTube é assinada com o nome e sobrenome do artista. No canal, Phillip publica vídeos de suas apresentações.

Jim Coelho
No Youtube, os trabalhos da banda
Projeto Dois Coelhos podem ser encontrados no endereço Youtube.com/user/projeto2coelhos. Lá, a dupla publica os videoclipes gravados.

Rafael Cruz
O baiano Rafael Cruz divulga o trabalho na página
STI ; Sociedade de Tráfego de Ideias, no Facebook. O poeta posta vídeos declamando as poesias em diversos locais do Distrito Federal.