Neste ano, Tonico completa 50 anos de carreira ; ;profissional e mais séria;, como ele mesmo gosta de dizer. E é exatamente quando celebra o marco iniciado com as experiências no Grupo Laboratório de Teatro, na Universidade Federal Fluminense, que enfrenta o maior desafio da trajetória: fazer o primeiro monólogo da carreira, o espetáculo O julgamento de Sócrates, que terá sessões sábado e domingo no Teatro dos Bancários, na Asa Sul.
;Eu já tinha sido convidado várias vezes (para fazer monólogos) e nunca tive coragem, porque eu acho que precisa de muitas coisas. Mas esse (O julgamento de Sócrates), por se tratar dos meus 50 anos de carreira, aceitei em comemoração, além do Sócrates, que é um pensador, um filósofo por quem eu tenho muita admiração e identificação;, revela.
Apesar de inicialmente achar que fazer um monólogo seria mais difícil que qualquer trabalho até agora, Tonico Pereira diz que se surpreendeu positivamente: ;Engraçado que eu achei menos difícil do que as outras coisas que eu já fiz. Principalmente, porque eu estou sozinho ; em termos, porque o espetáculo se dá com atores e plateia. Então, é uma relação que eu gosto muito, que estou aprendendo a gostar a partir desse espetáculo;.
Na peça, a figura de Tonico se mistura com a de Sócrates por meio da adaptação do texto Apologia de Sócrates, de Platão, com direção de Ivan Fernandes, responsável também pelo roteiro. ;Eu sou naturalmente um provocador e Sócrates muito mais do que eu até ou, pelo menos, com muito mais embasamento filosófico. Então, acho que é um casamento gostoso e que eu fico muito à vontade;.
Relação com Brasília
Essa é a primeira vez que o monólogo chega a Brasília e Tonico acredita ser um espetáculo que tem bastante a ver com a realidade da capital federal, onde morou por oito meses quando vivia um relacionamento com uma jornalista que morava aqui. ;Brasília foi uma cidade que eu me relacionei bem também, como todas as outras que eu me relaciono. Brasília, de uma certa forma nesse espetáculo, ela não é citada diretamente, mas ela é contextualizada a partir do momento do poder, dos poderes (Executivo, Judiciário e Legislativo). Eles estão presentes porque é o Sócrates comentando um momento que a gente vive;, explica.
Até por isso o ator conta que pelas passagens pelo Brasil, ao fim do espetáculo, há reações políticas da plateia. ;Envolvem os gritos de ;Lula livre; e, às vezes, ;Lula preso;. A gente vai jogando nesse campo dividido e muitas vezes minado;, completa. Tonico, inclusive, é um ator que costuma se pronunciar politicamente sem medo. ;Acho o seguinte que o Brasil está muito mal, aliás, o mundo está mal. Mas o Brasil tá muito muito muito mal e diria que nos três poderes. Agora a preponderância do Judiciário é muito grande nos destinos do Brasil. Eles têm desenhado um destino muito trágico. Eu não sou petista, apesar de você estar pensando isso. Nem lulista, eu sou até hoje brizolista. Mas eu estarei sempre do lado daqueles que reivindicam para o povo. Agora está muito difícil. Eu sei em quem não vou votar;, conta.
Trajetória de ator
Os primeiros trabalhos de Tonico Pereira como ator foram no teatro e no cinema. Na televisão, a estreia foi em Gabriela, como Chico Moleza, mas a grande repercussão veio com o papel Zé Carneiro no Sítio do Pica-pau amarelo, série que ficou de 1977 a 1985. No currículo tem passagem por novelas como Roque Santeiro, Anos dourados, Que rei sou eu?, Fera ferida, Pátria minha, Malhação e as mais recentes A regra do jogo (2015) e A força do querer (2017).
;Tanto em A força do querer quanto em A regra do jogo, os personagens foram muito bem recebidos. Eu tenho uma coisa com os meus personagens, como dizia um pensador futebolístico Neném Prancha, que por acaso é também da minha terra: o jogador de futebol tem que ir na bola como um faminto vai no prato de comida. É como eu vou aos meus personagens, mesmo porque a minha subsistência são eles que me dão. Eu costumo dizer que eu tenho uma quadrilha, que é chefiada por mim, mas todos os meus personagens me sustentam, sustentam meus filhos, as minhas loucuras...;, revela.
Diferentemente de muitos atores, Tonico Pereira leva a carreira de uma forma diferente, ele se define como um ator de aluguel e recusa o título de artista: ;Sou ator de aluguel, não sou artista. Não quero ser artista, não desejo ser artista e critico quem se diz artista. Eu sou ator. A minha regulamentação da profissão não é de artista, é de ator;.
Depois de A força do querer, o ator está afastado das telas para se dedicar aos palcos com o monólogo. Pelo menos, por enquanto. ;Eu estou me dedicando ao monólogo, mas eu sou funcionário da TV Globo, então eu fico na expectativa sempre. Eles podem me chamar a qualquer momento. Tenho feito participações pequenas, mas novela não me chamaram objetivamente não;, explica. E ainda emenda sobre desejos de futuros trabalhos: ;Eu não tenho escolhas. Posso escolher dentro dos convites que me fazem, mas eu não tenho projeto nenhum. Aquele que me sustentar de forma digna, eu tô dentro;.
O julgamento de Sócrates
Teatro dos Bancários (314/315 Sul). Sábado (25/5) e domingo (26), às 19h. Com Tonico Pereira. Direção de Ivan Fernandes. Ingressos: R$ 50 (meia) e R$ 100 (inteira). Assinantes do Correio têm 60% de desconto no valor da inteira. Não recomendado para menores de 14 anos.