Diversão e Arte

Morre Julio Pomar, artista português entusiasta de Brasília

Julio Pomar se apaixonou por Brasília em 1986 e fez os azulegos da Biblioteca Nacional

Silvestre Gorgulho - Especial para o Correio
postado em 24/05/2018 07:30

O jornalista ao lado do então embaixador do Brasil em Lisboa, Alberto da Costa e Silva

Trinta e dois anos separam a descoberta e o amor de Júlio Pomar por Brasília. Foi em 1986, em Lisboa, quando Brasília foi apresentada ao pintor e mestre do neorrealismo português, por José Aparecido de Oliveira, então governador do Distrito Federal.

A visita de Aparecido a Pomar, no seu ateliê-museu, tinha um objetivo: pedir que ele produzisse uma série de azulejos com temas circenses, para decorar a parte externa do Gran-Circular que, com autorização de Lucio Costa, a trapezista Elaine Ruas plantou ao lado do Touring Club, na Esplanada dos Ministérios.

Os azulejos, tão lindos quanto divertidos, mostravam a fauna brasileira em algazarra. Macacos e outros bichos batendo tambor, tocando flautas e fazendo malabarismos. Com o fim do Gran-Circular, a obra foi totalmente destruída.

Em 1987, Júlio Pomar foi visitar Pirenópolis, onde assistiu às Cavalhadas. Dali nasceu outra obra de peso, considerada uma das 10 mais importantes de sua lavra: ;Os mascarados de Pirenópolis;, com uma série de 15 pinturas, de grande pujança cromática, revelando a festa em vários rituais.

Apaixonado pela cultura brasileira, no ano seguinte, em 1988, Pomar passa dois meses entre os índios do Alto Xingu, aldeia Yawalapiti, e produz mais do que outra série de pinturas. Lança o livro Xingu, um álbum que reúne extensa seleção dos cadernos de desenhos produzidos na Amazônia.

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Em 2009, pelas mãos de duas figuras portuguesas de primeira grandeza cultural, o embaixador Francisco Seixas da Costa e o adido Adriano Jordão, o projeto dos bichos circenses foi retomado com outra destinação: a criação da Praça da Língua Portuguesa, no pilotis da Biblioteca Nacional.

Assim, desde aquela visita do governador Aparecido, em 1986, quando Júlio Pomar tinha acabado de fazer 60 anos, o Brasil passou a frequentar os sonhos do artista.

Com o falecimento de Júlio Pomar, Brasília precisa render uma homenagem ao artista. Eu sei da paixão do atual diretor da Biblioteca Nacional, Carlos Alberto Xavier, pela Praça e pelo seu autor. Sei também o quanto o Brasil gostaria de reverenciar Portugal e seu filho-artista mais importante do século 20. Quem sabe Brasília conclui agora, definitivamente, a Praça da Biblioteca Nacional e, com justiça, renomeia-a para sempre como Praça da Língua Portuguesa Júlio Pomar.

Silvestre Gorgulho é jornalista e ex-secretário de Estado da Cultura

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