O disco A mulher do fim do mundo, de dezembro de 2015, foi o ressurgimento de Elza Soares na música. E que renascimento. Com uma fênix, a cantora retornou ao cenário musical com ainda mais importância do que antes, levou diversos prêmios pelo material, conquistou um novo público e debateu temas atuais.
Seguindo essa mesma linha, Elza lança agora Deus é mulher. Assim como o sucessor, o novo álbum tem produção de Guilherme Kastrup. Mas não é uma mera continuação de A mulher do fim do mundo. Pelo contrário, nesse disco, a artista buscou diferenças. A começar pela atmosfera que ronda o álbum. ;Este álbum é abusado mesmo! Mas a gente estava com muita preocupação. Queríamos um trabalho que igualasse ou superasse A mulher do fim do mundo. A galera é a mesma, os músicos são os mesmos. Só que a mensagem é mais solar, é mais clara, tem mais clareza, é mais aberta. Estamos saindo daquela coisa dark;, conta Elza.
[SAIBAMAIS]Esse clima mais solar, inclusive, também está impregnado na artista como um todo. Foi extremamente animada que Elza atendeu ao Correio para falar sobre as 11 canções inéditas que integram Deus é mulher e também o atual discurso da artista, que vez ou outra, responde as perguntas com os trechos das faixas do álbum.
Processo criativo
Isso reflete o processo criativo e artístico do disco. Se em A mulher do fim do mundo, o álbum chegou quase pronto para Elza, em Deus é mulher (que tem o nome inspirado na faixa Deus há de ser), ela colocou a mão na massa e participou de todo o processo. Ao lado de Guilherme, ela recebeu 60 músicas. ;Foi uma dificuldade muito grande (escolher). Eram todas músicas maravilhosas, feitas com muito carinho, então selecionar apenas 11 foi difícil. O Guilherme tem um ritual. A gente coloca todas no chão, joga no chão e vai buscando. Ficou bom, a gente tira;, lembra.
As 11 faixas trazem discursos que são a cara de Elza Soares. Nas músicas, ela trata de temas como empoderamento feminino, liberdade sexual e religiões de matrizes africanas. ;Acho que é a agora (que o feminismo) tem que ser cantado. Agora é que a gente tem que dizer: ;com licença, eu tô aqui, cheguei!” Está chegando o momento da mulher, com muita luta, sacrifício e empoderamento, essa guerra é nossa. A vitória é nossa. Não que eu seja a dona da verdade, mas todos os caminhos que já trilhei, sei que estou no caminho certo;, defende fazendo uma referência à faixa Dentro de cada um.
E, para que o discurso das músicas pudesse atravessar a barreira dos decibéis, Elza os trouxe para o trabalho. Nesse disco, ela quis transformar a equipe envolvida no projeto mais feminina. Dessa forma, há uma participação maior de mulheres, com canções, por exemplo, de composição de Tulipa Ruiz (Banho), Mariá Portugal (Um olho aberto) e Alice Coutinho, que faz uma dobradinha com Romulo Fróes em Língua solta. Na canção Dentro de cada um, Elza convidou o coletivo Ilú Obá De Min, formado por mulheres tocando os tabores para o orixá Xangô. ;Como eu estava tão envolvida com as mulheres, eu queria mais participação de mulher. Então, a gente criou essa coisa dos tambores e trouxe mais mulheres para dentro desse trabalho;, explica.
Brasília
Deus é mulher foi lançado na última sexta-feira, mas, na próxima semana, Elza Soares sobe aos palcos com a turnê do disco. Questionada sobre como tem tanta energia aos 80 anos, ela diz: ;A gente aguenta. Não tenho isso de idade não. Nem conheço isso, na verdade (risos). Sei nem onde ela está. Ainda tenho muito para dar, para ajudar, quero dar para você, quer comer você (embala Elza citando a faixa Quero comer você);.
A estreia será em São Paulo com quatro dias de show, com início em 31 de maio. E essa apresentação já está confirmada em Brasília, como adiantado com exclusividade ao Correio. Elza será uma das principais atrações do festival CoMA ; Convenção de Música e Arte ;, que ocorre de 10 a 12 de agosto em estrutura montada entre o Complexo Cultural da Funarte e o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no gramado do Eixo Monumental.
;Para nós é uma honra ter Elza (Soares), principalmente, com o show do disco novo. Acho que vai ser muito importante trazer esse show para Brasília e perpetuar a mensagem dela;, analisa Tomás Bertoni, da banda Scalene e um dos organizadores do festival CoMA.
Deus é mulher
De Elza Soares. Deck Disc, 11 faixas. Disponível nas plataformas digitais.
Festival CoMA
Em sua segunda edição, o evento será realizado de 10 a 12 de agosto, mantendo uma programação parecida com a estreia com dois dias de shows e três dias com painéis e seminários. ;O CoMA tem alguns nortes bem claros. Nós queríamos fomentar a música e cultura nacional focado em artistas que participam do mercado de forma ativa e não só musicalmente. Também temos a missão de fomentar a cena de Brasília, que integra metade do line-up do festival;, revela Bertoni.
No primeiro dia, em 10 de agosto, o festival contará com painéis e a festa de abertura. Sábado e domingo são os dias de show e também de conferência. A grande novidade neste ano é que, além do tema principal, que é a música e o mercado em torno dela, o festival contará com o universo dos games. ;Tem muita coisa em comum (entre esses dois universos). A música pode aprender com os games e os games com a música. Acho que esse será o pulo do gato;, completa.
Parte das atrações será divulgada amanhã nas redes sociais do evento. Mas, a partir de hoje, os ingressos da pré-venda promocional do passaporte estarão à venda pelo site www.festivalcoma.com.br/ por R$ 30 (meia) e R$ 60 (inteira), com direito aos dois dias de show. No dia 23, será aberta a venda de ingressos individuais e passaportes para os shows e para a conferência no valor de R$ 20 (meia) e R$ 40 (inteira).