Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 10/05/2018 07:33
Criado entre a vontade de experimentar novas formas do fazer teatral e transformar o cotidiano da cidade de maneira poética, o Teatro do Concreto se consagra como um dos coletivos mais inventivos da cidade. Entre ruas, praças, ônibus, curvas e calçadas, o grupo de artistas reinventa a experiência cênica por meio de uma pesquisa dedicada por novas éticas e estéticas.
Após 15 anos de estrada, a companhia comemora a produção criativa com uma circulação de um de seus espetáculos mais conhecidos, Entrepartidas. O público inicia sua jornada a bordo de um ônibus conduzido pela trupe.
A ideia é que o espectador possa vivenciar propostas contemporâneas do fazer artístico, que passeia pelo teatro, artes visuais, intervenção urbana e performance. Entre as ruas da cidade, a plateia transita por sete histórias regidas sob os temas do amor e do abandono, que se cruzam na fragmentada estrutura da sociedade contemporânea. A peça é uma experiência que convida o espectador a se abrir para outras possibilidades de relação com a cena e com sua própria cidade.
Francis Wilker, diretor da montagem, lembra que esse dispositivo da encenação, que trabalha com a ideia de uma viagem e também envolve caminhada pelas ruas, coloca o espectador com o olhar mais sensível para os espaços do cotidiano.
;Cada um é mobilizado a lançar um olhar poético para o conhecido dia a dia. Além disso, o tema da peça que conta com a dramaturgia tão poética do Jonathan Andrade, fala de amor e abandono, um tema universal e que nunca fica velho, são cenas de encontros e desencontros;, destaca.
A identificação com os personagens e a experiência de um espetáculo que transita cria uma atmosfera imersiva e criativa para quem compartilha o momento da apresentação. Francis lembra que, a cada cidade, Entrepartidas se transforma e passa por novas ruas, novas praças e sotaques. O elenco precisa se permitir recriar a cada apresentação e absorver na narrativa as características específicas de cada lugar.
Nei Cirqueira, um dos atores da montagem, conta que o grupo precisa, muitas vezes, redefinir as cenas de acordo com a arquitetura de cada local. ;Além disso, outro fator que nos provoca e estimula para a composição cênica é o movimento da cidade, sua própria dinâmica. Para isso sempre que chegamos aos locais exercitamos o olhar para sermos atravessados pelo tecido urbano;, destaca.
Para Micheli Santini, atriz do espetáculo, o principal é que todos se mantenham abertos ao novo palco-cidade. ;A busca incansável é pela presença, o afeto, o compartilhar, a troca;, afirma.
A ideia é perceber como os moradores ocupam as praças, como cuidam de suas casas, como o trânsito de carros, ônibus e pedestres se articula. Neste ano, o espetáculo transita por diferentes regiões, com Goiás, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Francis Wilker destaca que, em sua essência, o grupo guarda um forte desejo de troca e diálogo com outros projetos e artistas da cidade. Além disso, o coletivo carrega uma criação que se baseia na inspiração em múltiplas linguagens, processo colaborativo e o diálogo constante com o espaço urbano.
Novos projetos
O Teatro do concreto se prepara para o lançamento, em 2018, do livro Do concreto, em formato de inventário fotográfico para comemorar mais de uma década de teatro, com imagens de Thiago Sabino. Organizado de forma cronológica, a publicação apresenta imagens de sete espetáculos, concebidos pelo coletivo ao longo de dez anos de intenso trabalho dedicado às artes cênicas. Uma justa homenagem a um dos grupos mais importantes do cenário teatral brasiliense.