Alexandre de Paula
postado em 25/04/2018 07:00
Esqueça a visão estereotipada de música nordestina. Repleta de multiplicidade, a região vai além dos ritmos tradicionais e oferece sons de estilos e pegadas diversos. Bandas com destaque no cenário independente, Validuaté, Soulvenir e Camarones Orquestra Guitarrística mostram, por exemplo, que o Nordeste pode surpreender ainda mais.
;A renovação é constante. Os festivais que acontecem em cidades como Recife e Natal sempre são vitrine para esses novos nomes da música independente brasileira. Artistas como Selvagens à procura de lei, Seu Pereira e o Coletivo 401, Baiana System, Far from Alaska, por exemplo, dão um panorama de como a música feita aqui no Nordeste é rica, diversa;, opina o vocalista da piauiense Validuaté, José Quaresma.
O lirismo e a poesia chamam a atenção na música produzida pelo grupo. A banda mistura sonoridade pop a letras mais elaboradas e reflexivas. ;Fazer uma música pop com um texto mais compromissado com poesia dá esse equilíbrio interessante, que deixa uma melodia na cabeça e uma letra pra ficar martelando os pensamentos;, explica o vocalista José Quaresma.
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O grupo, que lançou recentemente o disco Manual de instruções para, conseguiu se destacar no cenário nacional também por meio da internet. ;A Validuaté nasceu num período em que já era possível dialogar com um público pelas redes sociais;, lembra.
Para Quaresma, a internet auxilia no rompimento de fronteiras geográficas. ;Depois vieram as outras redes sociais e as plataformas de distribuição digital, o Youtube como ferramenta de difusão de música, com uma política de monetização atrativa. Sem dúvida alguma, hoje é possível fazer nossa música chegar a todos os cantos do país e a muitos lugares do mundo;, acredita.
Palco para novas bandas
Os festivais também tornaram-se palcos fundamentais para a divulgação e a consolidação de novas bandas. Tecladista e guitarrista da Camarones Orquestra Guitarrística, Anderson Foca é um dos fundadores e organizadores do festival DoSol, que ocorre em Natal (RN) e é um dos principais eventos brasileiros voltados para bandas autorais.
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;Já estamos na 15; edição. Festivais são uma plataforma imprescindível para quem quer divulgar sua música. Sem contar que promovem muitos encontros, então as bandas locais se misturam com as de fora, geram outros produtos, novas turnês;, comenta Foca.
Com 10 anos de estrada, a Camarones se tornou referência sem nunca se mudar de Natal. Anderson Foca avalia essa permanência como uma das razões para manter a identidade. ;Eu nunca achei que morar no Rio ou em São Paulo fosse aumentar ou piorar nossas vivências com música. É importante estar nas nossas cidades base, é importante ter uma certa identidade com a cidade (e para a cidade) e isso termina reverberando no Brasil inteiro;, afirma.
Para Anderson, a região está num bom momento, em alta, com bandas se destacando e uma cena em efervescência. ;O nordeste está num momento incrível, muito legal, de reestruturação, aparecendo muitas bandas. A gente vê algumas delas já ganhando muito corpo fora daqui.;
Internacional
À primeira vista, o som da banda maranhense Soulvenir pode parecer o mais distante possível do que se convencionou chamar de música nordestina (ou mesmo brasileira). As letras em inglês e atmosfera que remete a bandas internacionais (como Muse), no entanto, guardam citações regionais.
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;Nós buscamos muitas referências, inclusive em ritmos maranhenses. Como exemplo posso citar o Tambor de Crioula e o Bumba-meu-boi. Nos espelhamos em algumas estruturas, apesar de quase não utilizarmos instrumentos que produzam os sons característicos desses ritmos;, explica o tecladista Sandoval Filho.
O grupo conquistou espaço fora do nordeste, internacional e nacionalmente. ;Agora estamos em busca de conquistar uma vaga no Isle Of Wight (Inglaterra), que é um dos maiores festivais da Europa, por onde passaram nomes como The Doors, Jimi Hendrix, The Who e outros;, conta.
Sandoval acredita que hoje é possível chegar a muitos centros sem precisar sair da terra natal. ;Geograficamente falando, é claro que lugares como São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro viabilizam as rotas aéreas, mas viver em São Luís, até o momento, nunca nos prejudicou;, diz.