Expoentes da música popular brasileira, o paulistano Toquinho e o carioca Ivan Lins são artistas de uma mesma geração ; a surgida na década de 1970 ; com trabalho reconhecido pelo público e pela crítica, após terem o talento referendado por dois nomes icônicos que lhes antecederam: Vinicius de Moraes e Elis Regina.
Toquinho tornou-se parceiro de Vinicius, numa das fases mais produtivas da trajetória artística do Poetinha, quase toda ela desenvolvida no longo período em que ambos se instalaram no charmoso bairro de Itapoã, em Salvador. Já Ivan, ainda em começo de carreira, recebeu o aval de Elis, que transformou a canção Madalena em um estrondoso sucesso.
Com uma série de apresentações pelo país, desde 2017, os dois estão celebrando 50 anos de música. Amanhã, acompanhados pelo percussionista João Parayba, eles fazem dois shows em Brasília ; um, às 19h30; e o outro, às 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Nesse espetáculo comemorativo, os dois revisitam músicas que são marcantes em suas respectivas obras. Assim, o público vai ouvir, por exemplo, Aquarela, Como dizia o poeta, O caderno, Regra três, Pra viver um grande amor e Tarde em Itapoã, cantadas por Toquinho, com os arpejos do seu violão; Começar de novo, Depende de nós, Desesperar jamais, Lembra de mim e, claro, Madalena, na interpretação de Ivan ao piano.
Toquinho e Ivan Lins
Show comemorativo dos 50 anos de carreira amanhã, às 19h30 e 21h30, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 50 (poltrona superior), R$ 70 (poltrona especial) e R$ 75 (poltrona vip golden). Assinantes do Correio tem 50% de desconto na compra de dois ingressos de inteira. Pontos de venda: G2 do Brasília Shopping (Avenida W3 Norte) e Fnac (ParkShopping)
Condecoração
Hoje, às 19h, Antonio Pecci Filho, o Toquinho, receberá a a comenda Grande Ufficiale dell;Ordine della Stella d;Italia (Grande Oficial da Ordem da Estrela da Itália), em cerimônia na Embaixada da Itália. A condecoração representa um reconhecimento pela contribuição do cantor, compositor e músico brasileiro para o fortalecimento das relações culturais que unem a Itália e o Brasil.
Entrevista/ Toquinho
Se tivesse que fazer um balanço de 50 anos de carreira, que saldo teria?
Creio mesmo que são 50 anos especiais! A vida me deu oportunidades para desenvolver meu talento como instrumentista, compositor e intérprete colocando em meu caminho, pessoas que me ajudaram a me aperfeiçoar a cada estágio do percurso. Perdura a sensação de uma constante renovação e de um contínuo aprimoramento. Cada ano robustece o seguinte e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma. E a música será sempre uma chama a aquecer minha dedicação ao violão. Estudo todos os dias na procura de novos temas e harmonias. Amo fazer o que faço, o palco é a extensão de minha casa. Nele, sou simples e íntimo da plateia. Há apenas uma diferença entre aquele jovem que surgiu pela primeira vez num palco, no Teatro Paramount, em São Paulo, e o Toquinho de hoje: a experiência dos 50 anos de carreira. O que conspira para viver ainda o destemor de muitas vezes repetir os caprichos e a obstinação da juventude. E o maior trunfo é o reconhecimento popular, sempre renovado. Se perceber que deixei de fazer alguma coisa, tentarei fazer daqui para frente. Sempre é tempo de realizar ou refazer. E de comemorar!
Quais seriam os momentos mais marcantes?
Em mais de 50 anos de trajetória artística, evidentemente que aconteceram fatos e circunstâncias que ficaram cicatrizados por emoções maiores. A emoção dos primeiros discos, a atuação em shows memoráveis, como aquele do Canecão do Rio de Janeiro, em 1977, ao lado de Miúcha, Tom Jobim, Vinicius de Moraes; o show dos 10 anos de parceria com Vinicius; o sucesso estrondoso de Aquarela, canção que me consolidou como artista internacional; o enorme prazer de ter dividido o palco com Andrea Bocelli, em sua terra natal, Lajatico, na Itália. Junte-se a isso a homenagem que receberei, antes do show em Brasília, na Embaixada da Itália. O fato mais triste certamente foi a morte de Vinicius, pelas circunstâncias em que aconteceu. Eu, ali, ao lado dele, impotente diante daquela verdade inexorável!
Comemorar data tem que importância?
Imagine se eu não comemoraria meus cinquenta anos de carreira, especialmente nessa profissão tão complexa que é a de músico? Considero-me um sujeito de sorte, mas também de muito envolvimento com meu trabalho e minha profissão, especialmente com o apoio de meu companheiro inseparável, meu violão. Agradeço imensamente a todos aqueles que me apoiaram nesse caminho. Ah! sim, comemoro com muita alegria o fato de estar vivo, com saúde e fazendo sucesso aos 70 anos de idade e 50 de música. São marcas que me fazem muito feliz.
Entrevista / Ivan Lins
Se tivesse que fazer um balanço de 50 anos de carreira, que saldo teria?
Bom, o balanço é altamente positivo por ter conseguido chegar aos dias de hoje produzindo uma música de qualidade e com a atual liberdade possível que eu sempre quis ter, quando comparamos ao período da ditadura. Tenho compromissos com a beleza, mas também com questões políticas do interesse dos brasileiros e do meu país.
Quais seriam os momentos mais marcantes?
Vários momentos foram marcantes. Posso começar com a gravação de Madalena, de Elis Regina. Logo a seguir, recebi a aprovação do público no 5; Festival Internacional da Canção com Amor é o meu país. Não posso esquecer a minha parceria com Vitor Martins; nem de citar a participação no primeiro Rock In Rio, em que eu tive o reconhecimento maravilhoso do povo brasileiro em relação à música que eu fazia. Em setembro de 1981, em Portugal, a festa oficial do jornal Avante, que era o órgão oficial do Partido Comunista Português, eu reuni 100 mil pessoas. Depois de cinco bis elas não queriam me deixar sair do palco. Este, outro momento muito importante para mim.
Comemorar data tem que importância?
Em relação à carreira é muito importante a gente poder celebrar, principalmente pelo envolvimento que o público tem com o meu trabalho. Quando você celebra 50 anos de carreira, você não está apenas celebrando os 50 anos em si, mas comemora também o apreço do público em 50 anos. Isso é o resultado do que você se propõe, que é levar a música ao seu povo. Quando o povo te abraça e aceita a arte que você faz, é para se celebrar mesmo.