Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Exposição traz peças de Francisco Brennand a Brasília

Francisco Brennand - Mestre dos Sonhos recebe mais de 30 peças em mostra que celebra os 90 anos do mestre


Reproduzir a diversidade que hoje ocupa a mítica Oficina Brennand, em Recife, foi um dos objetivos que guiou a curadora Rose Lima ao conceber a expografia de Francisco Brennand ; Mestre dos Sonhos, em cartaz a partir de hoje na Caixa Cultural. Com 31 peças, todas trazidas do templo de Francisco Brennand, ela recriou o universo de um dos mais longevos e produtivos artistas brasileiros contemporâneos. A intenção da mostra é comemorar os 90 anos de Brennand e os 100 anos da oficina, inaugurada pelo pai do artista, Ricardo, originalmente como uma olaria.

Rose conta que idealizou o formato da mostra depois de pesquisar outras exposições consagradas ao artista. ;O Brennand tem uma obra fantástica, uma pessoa com 90 anos que até hoje produz, significa que tem uma obra incrível;, diz a curadora. ;Queríamos contar a trajetória de vida dele, porque Brennand já teve outras exposições, inclusive internacionais, onde ele mostrava o que estava fazendo na época ou então a mulher na obra de Brennand. Mas o que quisemos fazer nessa exposição foi realmente uma celebração da vida dele. Então, contamos a trajetória do artista;.

Além de desenhos, pinturas e esculturas em cerâmica e em bronze, Rose reuniu um grande número de fotografias que mostram o artista desde a infância até hoje. ;Conseguimos pinçar um pouco de tudo que ele já fez, não só de material, de linguagens diferentes, mas também de épocas distintas;, avisa a curadora. Há, por exemplo, um lote de desenhos realizados quando Brennand tinha 20 anos e morava em Paris, onde estudou pintura e onde descobriu que seu ídolos, Picasso e Gaugin, também trabalhavam com cerâmica.

Ao retornar de Paris, Brennand passou a encarar a cerâmica como material nobre e começou a incorporá-la em suas criações e a trabalhar junto ao pai, na olaria. ;Mostramos, por exemplo, quando ele começa a pintar com suporte cerâmico;, avisa Rose. ;E também contamos a história dele com os amigos.; O pintor Cícero Dias, radicado em Paris naquelas anos 1940, foi o cicerone de Brennand na capital francesa. Dias introduziu o escultor às vanguardas à frente de movimentos como o cubismo e o modernismo. Brennand também era muito amigo de Ariano Suassuna e chegou a ilustrar poemas do escritor. Na exposição, o público poderá conhecer um desenho do manto de nossa senhora, parte do figurino criado para o Auto da compadecida. ;Ele criou o primeiro figurino para a peça;, conta Rose.

Influência baiana


O artista também tinha uma relação muito íntima com a Bahia e foi muito amigo de Lina Bo Bardi, que morou em Salvador nos anos 1960 e projetou alguns prédios para a capital baiana. Ela também organizava exposições e salões dos quais Brennand participava. Rose levou para a exposição uma pintura de São Francisco selecionada por Lina para um salão.

A mitologia da qual saíram os temas recorrentes na obra do artista também tem lugar especial na mostra. Símbolos como o peixe, o ovo, a serpente, a mulher e a fecundidade estão presentes, além de uma planta do espaço Francisco Brennand, em Recife, que ajuda o visitante a compreender a dimensão e a importância desse material na obra do artista. ;O espaço que ele ocupa hoje, para onde ele foi em 1971, que era a antiga cerâmica do pai, ele cria como um grande templo, com inspirações variadas. Alguns acham que é um templo grego, outros, que é um templo fenício. Na verdade, ele diz que a mitologia sempre foi um tema que o agradou muito e que, a partir das várias inspirações e do conhecimento que adquiriu sobre isso, ele cria uma mitologia própria;, explica Rose.

Na Bahia, o pernambucano também teve contato com o candomblé e se encantou com o Ifá de Oxossi, cujos símbolos do arco e da flecha passaram a representar a própria Oficina Brennand. Uma entrevista com o artista, gravada em Pernambuco, acompanha a mostra. ;Tem tudo a ver com ele, que é aquele homem que está dentro daquele espaço que, na verdade, é uma grande reserva na Mata Atlântica. A oficina está dentro dessa região e lá ele meio que um Oxóssi que toma conta da mata;, compara Rose. Uma série de autorretratos dos 19 aos 87 anos e alguns clássicos da produção do artista, como a esculturas Joana d;Arc, Lígia, Antígona e Torre de Babel, também integram o acervo mostrado na Caixa.

Francisco Brennand ; Mestre dos Sonhos
Abertura hoje, às 19h, na Caixa Cultural (SBS ; Quadra 4 ; Lotes 3/4 - Brasília ;DF). Visitação até 20 de maio, das 9h às 21h, de terça a domingo.