Eles falam, basicamente, de sentimentos. De emoções cultivadas nas relações, da vida a dois e de todas as suas idiossincrasias. Mas falam sem palavras, com o corpo, com gestos, expressões, olhares e intenções. Convidada para participar da 21; Semana da Francofonia, a Companhia Mangano-Massip apresenta hoje Diga-me a verdade; E outras histórias, um conjunto de cinco cenas extraídas do repertório de espetáculos da dupla Sara Mangano e Pierre-Yves Massip.
Sara e Pierre-Yves fazem teatro de mímica. Não aquele que manipula objetos e cria ilusões, mas o que coloca o corpo em evidência. Ex-integrantes da companhia de Marcel Marceau, responsável por revitalizar a mímica no século 20, a dupla traz da experiência com o mestre a exigência e a entrega. A isso, Sara e Pierre-Yves acrescentaram uma coleção de experiências e formações que vão da dança contemporânea e do contato e improvisação ao circo. Os dois também estudaram na escola de Marceau no final dos anos 1990 e por lá se tornaram atores profissionais. Desde então, têm forte comprometimento com experiências pedagógicas e ministram oficinas em todas as áreas com frequentadores que vão de profissionais a amadores. Em Brasília, eles passaram as duas últimas semanas trabalhando com alunos do Liceu Francês François Miterrand, com os quais preparam um espetáculo que tem a sustentabilidade e o meio ambiente como tema.
Há muita delicadeza e emoção na dinâmica da dupla. Entre as obsessões com as quais confessam trabalhar, estão as relações a dois, a necessidade humana de estar junto, mas também o sufocamento que isso pode causar, assim como a fusão de identidades e a dependência. Para a apresentação em Brasília, eles escolheram trechos de cinco espetáculos realizados ao longo dos 10 anos da companhia. ;Vamos fazer um recital de formas curtas com temáticas diferentes, obsessões que temos e às quais nos apegamos muito;, avisa Sara. ;São espécies de grãos de outros espetáculos que fizemos.;
A poesia é um dos guias da dupla e Diga-me a verdade, umas das cenas do espetáculo, nasceu de um poema de Jacques Prévert. No palco, os artistas falam da relação de dependência entre um casal, da ternura, mas também da dor, da ruptura, dos papeis de vítima e carrasco interpretados ora por um, ora por outro. Traço é mais amplo reflete sobre as marcas deixadas pela humanidade no planeta. Pierre-Yves trabalha com argila, material maleável, para falar desses traços, desses caminhos percorridos pela espéci.
No centro do palco está o homem como criatura e criador incessante e incansável de um mundo que se repete e se consome. ;Queremos tornar visível o invisível;, avisa Pierre-Yves. ;O fantasma, a emoção, a memória, a marca. São questões físicas e metafísicas.; E também muito conceitual, embora haja uma preocupação genuína da dupla em não tornar as criações muito herméticas, em sempre aproximá-las do público, mas nunca em detrimento da complexidade do tema no qual se inspiram.
Remanescência, a terceira cena, combina dor, perda e memória. ;Não é dito explicitamente, mas sabemos que um dos dois morreu. É sobre a memória, que nos faz avançar. É sempre essa temática do casal que nos anima;, avisa Sara. The blue frame faz parte de um espetáculo criado para uma turnê no Irã. Aqui, a dupla se debruça sobre os limites aos quais os indivíduos podem ser submetidos. Claustrofobia, vertigem diante do vazio e segurança são algumas das sensações propostas em uma sequência de metáforas que falam de um mundo real.
Para encerrar, a Mangano-Massip faz uma homenagem a Marcel Marceau com O sonho. É a única cena na qual manipulam uma marionete, um boneco que representa o próprio Marceau. Dele, Sara e Pierre-Yves garantem terem herdado as noções de disciplina e de generosidade.
DIGA-ME A VERDADE; E OUTRAS HISTÓRIAS
Recital mudo de formas curtas da Companhia Mangano-Massip. Amanhã, às 19h30, no Auditório do Lycée Français François Mitterrand (SHIS QI 21 Bloco D, Lago Sul). R$ 30. Classificação indicativa livre.