Diversão e Arte

Morto há exatos 20 anos, Tim Maia continua no repertório dos brasileiros

O rei do black brasileiro deixou legado inestimável para a música brasileira

Alexandre de Paula, Adriana Izel
postado em 15/03/2018 07:30

O rei do black brasileiro deixou legado inestimável para a música brasileira
Vou pedir pra você voltar
Vou pedir pra você ficar
Eu te amo
Eu te quero bem...;


Há exatos 20 anos, a voz rouca de Tim Maia se calava. O drama começou uma semana antes, quando o cantor, aos 55 anos, passou mal em uma apresentação no Teatro Municipal de Niterói que tinha como objetivo dar origem a um disco acústico.

Ele foi internado, mas não resistiu e morreu no Hospital Universitário Antônio Pedro, na mesma cidade. Esses dias foram tão complicados que um dos filhos do Síndico, como era chamado, o também cantor Léo Maia, conta que, desde então, o período que antecede o aniversário da morte do pai é sempre um momento difícil para a família. ;Eu faço aniversário em 11 de março. Nunca mais comemorei, toda a graça que eu poderia ver nesse dia, acabou. É um período em que fico na minha. Não tenho nenhum ritual, fico triste, choroso. Meu pai foi pai e amigo;, destaca em entrevista ao Correio.

A morte de Tim Maia não teve impacto apenas na família do carioca, mas também no mundo da música. Hitmaker e dono de uma voz incomparável, o legado de Tim Maia permanece até os dias de hoje, assim como o lugar deixado pelo cantor. Músicas como Primavera, Não quero dinheiro (Só quero amar) ; dos versos acima ;, e Descobridor dos sete mares ultrapassaram as barreiras do tempo e continuam no imaginário do público e também no repertório de outros músicos.

Até hoje Tim Maia continua aparecendo na lista de artistas mais executados do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Em 2016, Não quero dinheiro apareceu na 12; posição das músicas mais tocadas do ano. Nos últimos 20 carnavais, Tim Maia permaneceu entre os 10 artistas mais tocados da folia ; mesmo em tempo de sucessos virais.

;Surgir um cara como meu pai, jamais! É aquela missão impossível, a mesma coisa com nomes como Barry White, James Brown, Bob Marley... Os grandes mestres são, na verdade, como um rio, os que vêm depois são os afluentes. A música do meu pai foi algo que transcendeu tudo. Foi uma daquelas pessoas que nascem uma vez ou outra, algo muito peculiar;, afirma Léo Maia sobre o legado do pai. A música brasileira realmente nunca teve um sucessor à altura de Tim, apesar de o cantor ter sido uma influência para diversos outros artistas ao longo dos anos.

Nesses 20 anos, Tim Maia foi lembrado em livros, musicais e filmes. Em 2007, o amigo Nelson Motta escreveu a obra Vale tudo ; O som e a fúria de Tim Maia, que deu origem, anos depois, ao espetáculo teatral Vale tudo, protagonizado por Tiago Abravanel e Danilo de Moura (que entrou para substituir o neto de Silvio Santos).

O livro também inspirou a cinebiografia de Mauro Lima, que chegou aos cinemas em 2014, tendo Robson Nunes e Babu Santana retratando diferentes períodos de Tim. ;Eu acho legal (sobre a história do pai ter sido retratada), mas considero que não contaram a história da genialidade dele. Pegaram o lado pejorativo, as drogas... Todo mundo sabia que ele era maluco. Mas a história dele não foi contada;, afirma Léo Maia.

E o filho do músico justifica: ;Ele era um cara que tocava baixo, bateria, teclado, flauta, diversos instrumentos... Fazia os arranjos da cabeça dele. Era um cara que falava apenas uma vez, se o músico não acertasse, ele mesmo pegava o instrumento e tocava. Foi um dos maiores formadores de maestros do Brasil, trabalhou com Serginho Trombone e Paulinho Black. Um grande formador de músicos;.

Perfeccionista

;Gênio;, assim o produtor Manoel Barenbein, que mora atualmente em Israel, define Tim Maia. Nome por trás de obras clássicas da música brasileira, como o disco Tropicália ou Panis et Circencis, ele trabalhou com o cantor no início da carreira. ;Erasmo Carlos (amigo de infância do Síndico) me ligou dizendo que ele e Roberto queriam um favor, que eu contratasse o Tim para a gravadora Phonogram;, lembra.

Manoel hesitou, mas Erasmo insistiu e garantiu que ele e Roberto cuidariam de tudo com o trabalho de Tim. ;Qual não foi a surpresa quando, 15 ou 20 dias depois do contrato, ele começa a aparecer todo dia na gravadora e eu ligo para o Erasmo querendo saber em que pé estavam as coisas e descubro que Erasmo e Roberto estavam no Japão, gravando o filme Diamante cor-de-rosa.;

Então, Barenbein acabou responsável por gravar o compacto de Tim Maia com Primavera, que depois seria lançado pelo produtor Jairo Pires. No estúdio, Manoel e Tim tiveram alguns desentendimentos. Um deles foi pela data de lançamento do álbum, que Tim queria que saísse, de fato, durante a primavera. ;E era uma época muito ruim de lançar, porque todos os grandes artistas lançavam seus discos nesse momento. Eu resolvi que o disco sairia em março e o Tim ficou contrariado;, conta.

Para Manoel, no entanto, o ;atraso; foi fundamental. Nesse meio tempo, Nelson Motta ouviu o compacto e ficou apaixonado por Tim e o apresentou a Elis Regina, que gravou com ele These are the songs. ;Por isso, quando saiu Primavera, ele já era conhecido. Ou seja, se tivesse saído na época, estaria coberto pelos outros artistas e não teria essa chance.;

Apesar das brigas, Manoel tem boas lembranças do trabalho ao lado do cantor. ;Muitas das pessoas que trabalharam com o Tim reclamam dele. Eu, não. Acho que ele fazia o certo, exigia que se fizesse o melhor para ele. Era ele sozinho no palco, no estúdio, era sempre ele quem colocava a cara para bater. Então, nessa hora, estava totalmente certo de exigir que aqueles que trabalhavam com ele dessem o melhor de si para que o próprio Tim também pudesse dar o melhor;, afirma.

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