;Tudo bem?;, cumprimenta Kristen Wiig, logo no início da entrevista, em português, com a inflexão quase perfeita. ;É uma das poucas coisas que consigo pronunciar da língua de vocês. Aprendi com um namorado brasileiro;, conta a americana de 44 anos. Ela foi destaque no Festival de Veneza 2017, em que promoveu Pequena grande vida, do diretor Alexander Payne e que chega aos cinemas brasileiros hoje.
Essa é uma das novas investidas no drama da atriz que ganhou projeção mundial em comédias, como Maré de azar (2009) e Madrinha de casamento (2011). ;Minha entrada no programa Saturday Night Live, em 2005, me deixou ainda mais marcada como comediante. Mas isso não quer dizer que eu não me interesse por outros gêneros;, explica.
Em Pequena grande vida, Kristen interpreta Audrey, mulher de Paul (Matt Damon), terapeuta frustrado com as limitações da vida e entusiasta de um projeto científico que encolhe seres humanos, tornando-os menos dispendiosos e, portanto, mais ecológico e economicamente viáveis.
O novo longa-metragem do autor de Sideways ; Entre umas e outras (2004) é uma sátira ao consumismo moderno, que navega entre a ficção científica e a fantasia. ;Quando li o roteiro pela primeira vez, fiquei impressionada. Como assim? O que é isso? É uma história muito louca e divertida, mas difícil de categorizar;, lembra a atriz, que está por trás do projeto de refilmagem do sucesso alemão Toni Erdmann, de Mare Aden, indicado ao Oscar no ano passado.
Sente-se confortável nesse tipo de sátira, entre o cômico e o dramático?
Acho que as melhores comédias são aquelas que têm senso dramático; o outro lado também é verdadeiro, os melhores dramas são aqueles que têm alguma leveza neles. Mesmo O poderoso chefão, com todas aquelas mortes, tem seus momentos engraçados (risos). Adoro aquele filme... A gente é capaz de rir de algo que nos torna um pouco mais reflexivos. Da mesma forma, talvez consigamos apreciar um momento profundo depois de ver algo engraçado acontecer. Porque a vida é assim. A gente percebe isso quando se vai assistir a um filme no cinema, quando uma história te faz experimentar diferentes emoções. Acho que os personagens que me atraem são aqueles que têm algo de triste, mas que carregam um pouco de humor também, mesmo que acidental.
Você se vê mais como uma comediante ou como atriz dramática?
A comédia entrou primeiro na minha carreira; só depois fui buscar experiência dramática. Quando fiz meu primeiro papel dramático, tentei esquecer o meu lado cômico. Mas foi difícil, porque nunca havia feito algo parecido antes. Morri de medo da ideia de começar uma performance mais séria e acabar com uma esquete cômica (risos).
Na escola, você era a palhaça da sala de aula?
Olha, lembro de brincar muito com meus colegas de classe, de rir com eles... Mas, só anos depois, olhando para os anuários, aqueles livros do colégio em que os professores e estudantes deixam mensagens no final do ano, li muitas delas dizendo que eu era uma pessoa engraçada. Achei estranho. Talvez eu tivesse sido uma aluna engraçada e não lembro. Porque é estranho pensar em você mesma como alguém engraçado ou não.
De quem herdou o lado cômico?
Do meu pai. Ele é realmente engraçado, e de uma maneira perfeitamente paternal. As pessoas sempre me disseram que ele é um cara muito divertido.
Quem te descobriu como comediante?
Olha, eu comecei na trupe The G roundlings, um grupo de comédia e improvisação de humor de Los Angeles. Mas foi realmente o Saturday Night Live que me colocou nos holofotes, nesse sentido. Uma grande amiga minha viu uma fita cassete com uma performance minha e passou adiante para os produtores do programa. Até hoje, eu a agradeço pelo gesto, e pela confiança que ela depositou em mim.
Contente com o momento profissional, com mais ofertas para fazer drama?
Sim, com certeza. Terminei de fazer o novo filme de Richard Linklater, chamado A melhor escolha, no verão passado. É uma comédia dramática, então acho que ainda vale (risos). Mas espero conseguir mais papéis dramáticos em breve.
E a refilmagem americana de Toni Erdmann? Vai realmente acontecer?
Oh, sim! Ainda estamos nos trabalhos iniciais. Já temos um roteirista (Jennifer Konner), mas estamos atrás de um diretor. Estamos conversando com Jack Nicholson para o papel do pai da protagonista; eu, claro, vou fazer Inês, a filha dele. Mas não pretendemos apenas repetir o que já foi feito. Vamos tirar o que gostamos no filme da Maren Ade e fazer nossa própria interpretação. As performances do filme original são maravilhosas. É um filme muito simples, sequer há música nele. Espero que sejamos fiéis a esse conceito.