Zé Renato, intérprete de timbre e nuances inconfundíveis, gravou discos em que celebra a obra de Sílvio Caldas (Arranha-céu), Zé Keti (Natural do Rio de Janeiro), Noel Rosa e Chico Buarque (Filosofia). Em outros, que lançou ao longo dos 40 anos de carreira, incluiu músicas de sua autoria e de outros compositores.
Agora, pela primeira vez, o cantor capixaba fez um CD, Bebedouro, em que todas as canções têm sua assinatura; e para as quais convocou parceiros letristas. Trata-se de um trabalho diferenciado desse artista inquieto que surgiu no cenário musical do país como um dos fundadores do Boca Livre. O grupo, este ano, completa quatro décadas de bons serviços prestados à moderna MPB.
O álbum traz nove faixas, que se mostram atraentes desde a primeira audição. Fonte de rei, que Zé Renato fez com o poeta Paulo César Pinheiro, abre o repertório. É criação dos dois também Pedra do mar, que fecha a lista. Nas outras, ele divide a autoria com letristas de diferentes gerações: Joyce Moreno (Sacopenapan e Noite), João Cavalcanti (Samba e nada mais), Nei Lopes (Náufrago), Capinam (Agora e sempre), Moraes Moreira (Vamos curtir o amor) e Moacyr Luz (Agogô).
Chama a atenção também em Bebedouro a participação de vários convidados ; músicos e cantores, de diferentes gerações ; o que reforaça o lado agregador de Zé Renato. Entre eles, os veteranos Dori Caymmi e Dadi Carvalho, além dos novatos Marcelo Delamare e João Pedro Moschkovich (filho do cantor), que, pela primeira vez, participam de gravação com ele. Há, ainda, o auxílio luxuoso de Zé Nogueira, na produção; e de Cristovão Bastos, na direção musical.
Entrevista / Zé Renato
Esse é o primeiro disco em que todas as composições têm sua assinatura?
Sim. Nos discos autorais anteriores, eu sempre incluí canções de outros autores, mas esse gravei inteiramente composições (melodias) inéditas com parceiros, sendo que a maioria foi criada recentemente, num período de dois anos para cá.
Como se deu as parcerias com Joyce, Paulo César Pinheiro, Nei Lopes, Moacyr Luz?
Joyce tem sido uma parceira bastante frequente, temos várias canções que poderiam até virar, futuramente, um trabalho autoral nosso, já conversado, mas sem programação imediata. Caso semelhante ao de Paulinho Pinheiro, com quem também tenho feito bastante coisa. A parceria com Nei foi iniciada no disco Cabô (2000), e com Moacyr, além de Agogô, temos outra ainda inédita.
O que determinou a escolha dos convidados, que participam do disco?
Sempre que possível, eu gosto de trabalhar cercado de amigos e, nesse trabalho, tive o prazer de ter ao meu lado muitos deles. Com Kiko Freitas, Guto Virtti, Thiago da Serrinha, Dadi, Celso Fonseca, além do novo parceiro Moraes Moreira, com quem trabalhei pela primeira vez em estúdio. Tem ainda os meninos do grupo Subversos, Marcelo Delamare e meu filho João Pedro. Também, pela primeira vez num disco solo, tive a presença da voz de Dori Caymmi, um dos melhores cantores que conheço. A escolha foi de acordo com o que eu, Zé Nogueira (produtor) e Cristóvão Bastos (diretor musical) achamos compatível com a sonoridade que imaginamos.
A presença de músicos (cantores) da nova geração entre os convidados é o desejo de trazer frescor a Bebedouro?
A intenção foi misturar gerações, reafirmando a capacidade de mostrar que a linguagem musical se harmoniza independentemente da data de nascimento dos envolvidos.
Para o pai-coruja, o que representa a participação do João Pedro no disco?
É uma grande alegria tê-lo comigo em sua primeira participação num disco. Fico orgulhoso e com a certeza de que, apesar de ele estar no início da caminhada, já demonstra talento e personalidade.
O que busca sugerir com o título desse álbum?
A palavra faz parte de Fonte de rei, música que abre o disco e tem letra do Paulo César Pinheiro. Para mim, além dos significados existentes, diz respeito às minhas principais referências discográficas e autorais. Quando estávamos pré-produzindo o disco (Zé Nogueira, Cristovão Bastos e eu), conversamos muito a respeito disso. Sobre a importância de determinados discos e suas respectivas sonoridades, entre eles Limite das águas, do Edu Lobo; Minas, de Milton Nascimento; Água e Vinho, de Egberto, entre outros. Fontes nas quais bebi e continuo bebendo.
O que o Boca Livre, grupo que o tem como um dos fundadores, planeja para comemorar 40 anos?
Vamos gravar um disco novo, misturando canções inéditas e regravações, como a de Amor de Índio (Beto Guedes e Ronaldo Bastos), faremos alguns shows, e vamos reeditar discos que estão fora de catálogo físico e nas plataformas digitais.
Bebedouro
CD de Zé Renato, com nove faixas e a participação de convidados. Produção independente. Preço sugerido: R$ 29,90.