Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Movimento 'Dulcina vive' levou mais de mil artistas e 200 eventos ao Conic

Movimento ajudou a revitalizar o local, um centro da diversidade cultural da cidade

Localizado no coração da capital, entre a rodoviária de Brasília e um amplo fluxo de moradores, o Conic se fortalece para mostrar a vocação cultural da cidade. Criando uma ampla rede de cultura orgânica, o Setor de Diversões Sul se transforma em ponto de encontro da diversidade. Seja entre as cores do grafiti, o som do rock, as batidas do break, a elegância do artesanato ou o diálogo teatral, o espaço se destaca como um forte eixo de expressão artística e diálogo cultural.

No centro de toda essa efervescência está o movimento Dulcina Vive, responsável por grande parte das mudanças no local e importante agregador de artistas e moradores. O projeto conseguiu unir coletivos culturais, músicos, produtores e artistas de diferentes segmentos do Distrito Federal com o objetivo de revitalizar o complexo cultural do prédio. Hoje, o amplo espaço da Faculdade Dulcina é composto por dois teatros, galeria de arte e o famoso subsolo, que abriga festas alternativas da cidade.

Kaká Guimarães, um dos produtores do movimento, lembra que o esforço coletivo foi capaz de, em menos de dois anos (com início em março de 2016), criar palco para mais de mil artistas se apresentarem em cerca de 200 eventos realizados desde então. ;Foram feiras, festas, shows, apresentações teatrais, oficinas, workshops, gravações de clipes, ensaios fotográficos. Quando pensamos na cultura de Brasília, entende-se que o Dulcina é um espaço singular, de grande importância para o intercâmbio cultural da cidade;, destaca o artista e produtor.

O Conic, localizado ao lado da rodoviária, ganha ainda mais força por ser extremamente acessível a qualquer morador do DF. Para Kaká, as pessoas se encontram ali por afinidade cultural, não por classe social. ;É um ponto de união do movimento negro, do público LGBT, artistas, músicos, a juventude periférica, tribos urbanas, universitários. Há muita diversidade;, destaca.

Os projetos independentes e coletivos brasilienses ajudam a movimentar o espaço. Atualmente, o local recebe samba na segunda, forró na quarta, festas no antigo Espaço Galleria, cineclube na Sala Conchita na quinta e as edições da Mostra Dulcina, que apresenta espetáculos teatrais gratuitos de boa qualidade. O Conic se fortalece como um ponto de simbiose cultural, que reúne diferentes tribos do DF e Entorno para movimentar culturalmente a cidade e tornar seu centro ainda mais pulsante.

;E a sociedade tem que entender que Brasília precisa ter centro e identidade cultural, afinal, estamos falando do Setor de Diversões Sul. É preciso desmistificar o passado não muito convidativo que o local tem, temos que virar a página e construir novos olhares;, provoca o produtor.



Movimento pulsa

Enquanto isso, o Forró do B contribui com a trilha sonora do setor. O coletivo nasceu com o intuito de realizar um projeto para democratizar a cultura através da ocupação de espaços públicos, como o Conic. Desde junho de 2017, o grupo promove, toda quarta-feira, apresentações gratuitas na Praça Central, contribuindo para a vitalidade local com muita dança e diversidade de público. Em 2018, o coletivo planeja a segunda edição do evento Estopim do Forró, que esse ano celebrou os 105 anos do mestre Luiz Gonzaga em um evento que reuniu diversas bandas da cidade.

O grupo promete apresentar ainda mais a produção feminina no forró e gastar as chinelas com os encontros fixos. A produtora cultural Nathalia Pires, integrante do coletivo, acredita que o Conic, uma área tão importante geograficamente e, ao mesmo tempo, tão estigmatizada, merece essa movimentação e revitalização. ;A ocupação artística permite encontros, reconhecimentos, compreensões acerca das diferenças, das belezas e incongruências da nossa cidade;, destaca Nathalia.

No centro da cidade, a revitalização facilita o acesso cultural e cria um público mais crítico e consciente de sua própria produção. A Feira de Vinil é outra atração presente. João Marcondes coleciona discos com seu irmão, Gustavo Marcondes, desde a infância e é responsável pelas duas principais feiras de vinil de Brasília. Para ele, o Conic tem vocação para eventos e para abrigar a cultura livre, com muita street art em um ambiente mais descontraído. ;É Brasília com cara de cidade, perfeita para a cultura underground, tão necessária e desejada;, destaca João.

O produtor acredita que a movimentação central contribui para a expansão cultural e turística de Brasília, tornando a cidade ainda mais convidativa. Reunidas no mesmo espaço, as manifestações dialogam entre si, se retroalimentam e fazem o público de uma aumentar também o público da outra.

Vocação para a diversão


Athena Ilse organiza algumas das festas alternativas mais badaladas da cidade, no agitado SubDulcina. Em 2018, ela promete continuar a realizar as edições da festa METEoLoko, ao lado da sócia Patrícia Gontijo. O selo nasceu da vontade de misturar diferentes estilos musicais sem preconceito, com duas pistas, uma de música eletrônica e outra voltada para o pop e o funk. ;A festa agrada gregos e troianos! Enquanto isso, a movimentação cultural torna o prédio mais seguro, utiliza melhor todo o espaço que ele oferece e o tira do abandono e preconceito que ele enfrentou durante tantos anos;, destaca Athena.

Em uma época em que o acesso à cidade e à arte é negado ou dificultado de tantas maneiras, o Setor de Diversões Sul se fortalece como importante espaço de união, diálogo e expansão cultural. A diversidade no local contribui para um consumo mais amplo por parte do público e mostra que o centro brasiliense também pode pulsar movimento e criação.

;Talvez o Conic demore uns 10 anos para se tornar a Lapa ou a Rua Augusta de Brasília. É um projeto de longo prazo e nós vamos fazer a nossa parte;
Kaká Guimarães, produtor cultural e um dos líderes do movimento Dulcina Vive

;A movimentação artística em uma área no coração de Brasília é muito importante para democratizar o acesso à cidade e aos seus bens culturais;
Nathalia Pires, produtora