A repercussão do mais recente longa do diretor Guillermo del Toro, A forma da água (vencedor do Globo de Ouro de melhor direção), dá a medida do crescente interesse por tramas que fogem do campo da realidade plena, na representação em cinema. Nesse panorama, um festival de filmes com abordagens que incluem cachorros selvagens à solta, trânsito de espíritos noturnos, vícios frenéticos, confinamento forçado e caçada a humanos promete fazer sucesso, no cinema do CCBB, entre os dias 25 e 28 de janeiro, sempre com entrada franca.
Batizado de O Anjo Exterminador ; Festival Internacional de Cinema Fantástico de Brasília, o evento terá participação de quase 30 produções criadas em 15 países. Terror, fantasia e ficção científica dão as bases para os enredos contemplados até por sessões para crianças. De sexta a domingo, por exemplo, haverá exibição de Médico de monstro, um curta que trata dos medos de um menino com a estranha vocação profissional praticamente definida. Na sequência do curta, será apresentada a animação espanhola Bruxarias, longa centrado em Malva, menina intrigada com os componentes que fizeram da avó uma negociante de produtos medicinais alternativos.
Além de participar de oficinas ligadas ao mundo da animação, da literatura e da fotografia, o público do CCBB votará nas produções de maior agrado, alinhadas para premiação. Sob criação da produtora Josiane Osório, o festival tem leque amplo de produções que alcançam a Croácia, o Mali, proliferam no campo ibero-americano e chegam até mesmo à República Tcheca e ao Uzbequistão.
Com título emprestado de clássico assinado por Luis Buñuel, o festival agrupa temas relacionados a lendas, mitos e forças inconscientes, entre outros. Na mostra competitiva de longas-metragens, desponta o título mexicano A escuridão, de Daniel Castro Zimbrón. Com tempo em suspenso, o enredo mostra a vida passada dentro do porão de uma cabana, já que a Terra foi intoxicada por uma névoa permanente. Dirigido por Sabir Nazarmukhamedov, A lua leva almas cansadas mostra o poder ritualístico que cerca três amigos em busca de uma pedra enigmática.
Exibidos no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, os filmes Era uma vez Brasília (de Adirley Queirós), sobre uma viagem intergaláctica capaz de redefinir a presidência do Brasil, e O nó do diabo, produção da Paraíba, sobre um infindo ciclo de terror de fundo patriarcal, também estão no páreo. Jovens desaparecidos ou possuídos estão, pela ordem, nos filmes O segredo do parque, uma fita local de Maria Eduarda Senna, e Exorcismo, assinado pelo croata Dalibor Matanic. Afeitos ao terror, os argentinos Sebastian e Federico Rotstein exploram, em Terror 5, uma louca viagem noturna numa Buenos permeada por sexo e caos.
Duas perguntas // Ulysses de Freitas, curador
Filmes fantásticos estão atrelados necessariamente a caros efeitos especiais?
Toda e qualquer cultura tem suas tradições e elementos fantásticos. Quando ampliamos o conceito de fantástico, percebemos que o gênero não depende tanto assim de efeitos especiais. Às vezes, esses elementos podem ser apenas sugeridos, a exemplo dos filmes de Apichatpong Weerasethakul. Além disso, a tecnologia hoje em dia está tão acessível, que já é possível produzir filmes fantásticos com sofisticação técnica em quase todo o mundo, a exemplo da Argentina, do México.
Quais critérios nortearam a curadoria?
Nesta primeira edição, a seleção foi composta a partir de visitas e parcerias estabelecidas em festivais nacionais e internacionais. A linha curatorial foi pensada com a intenção de apresentar um panorama diverso do cinema fantástico no mundo contemporâneo. O público vai ver filmes de vários subgêneros fantásticos ; da ficção científica ao terror, passando pela fantasia, distopia, surrealismo.