Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Comediante Renato Aragão compartilha trajetória em biografia

Obra, lançada no ano passado, foi escrita por Rodrigo Fonseca


Um dos comediantes mais celebrados do país, Renato Aragão, 83 anos, se define como uma pessoa séria e tímida. Segundo o cearense de Sobral, é Didi, o personagem criado em 1960 para o programa Vídeo alegre, que é o engraçado da história. Ele se considera um otimista, um homem de fé e um sertanejo. ;Didi é a piada; Renato é o forno onde a piada é assada. Didi é a extroversão, a picardia, a anarquia; Renato é a disciplina, o estudo, o controle. Entre os dois, há algo em comum: o amor pelas crianças e a aposta na perseverança;, explica o jornalista Rodrigo Fonseca.

A conclusão do carioca vem após um período de mergulho profundo na história da vida pessoal e artística de Renato Aragão, um dos seus ídolos do audiovisual. Fonseca é o autor da biografia Renato Aragão ; Do Ceará para o coração do Brasil, lançada pela editora Sextante. ;Ele foi a pessoa certa na hora certa. Havia um desejo dele de saber sobre mim e um desejo meu de lembrar de mim... Assim firmamos nossa parceria. O Rodrigo me instigando para que eu revisitasse minhas memórias e eu me emocionando com as lembranças;, lembra Aragão, ao Correio.

Lançada no fim de 2017, a obra chegou às lojas no mesmo ano que representou um período de retomada para o ator à televisão e ao cinema, que ocorreu com os lançamentos da nova versão de Os Trapalhões e do filme Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood. Com 50 longas-metragens no currículo e alguns programas humorísticos, Renato não pensa em parar. ;Sonhos sempre! Parar nunca! Aguarde e confie;, declara, sem adiantar os planos e projetos futuros, mas deixando claro que os têm.

[FOTO1090804]

O livro aborda desde o nascimento do oitavo filho do casal Dinorá e Paulo Aragão, que foi batizado de Antonio Renato Aragão, em homenagem a Santo Antônio, passando pela infância em Sobral, depois a mudança para Fortaleza ; quando se encantou pela primeira vez pela televisão ; até a chegada no Rio de Janeiro. Da trajetória na televisão, a biografia perpassa, principalmente, Os Trapalhões, com as mudanças de emissora e até as crises nos anos 1980. Bastidores, histórias pessoais e depoimentos de amigos e admiradores também fazem parte da biografia. ;Busquei episódios divertidos que pudessem dar ao livro capítulos curtos, em formato de esquetes;, completa Rodrigo Fonseca sobre a escolha da escrita, que é conduzida por capítulos. São eles: Infância, juventude; Adeus, Ceará!; Os Trapalhões; O cinema; Paixões e curiosidades; Alguns grandes encontros; Legado; Depoimentos; e O amanhã.

Entrevista /Renato Aragão


Existe sempre uma cobrança em relação a grandes artistas para que seja feita uma biografia. O senhor se sentia assim? O que o motivou a fazer a própria biografia?
Não havia cobrança... Apenas o meu desejo de registrar a minha história e recordar meus momentos e minhas emoções.

Quais histórias o senhor queria contar no livro e como foi esse processo de olhar para trás?
Queria basicamente contar a história das emoções vividas na minha vida. Afinal, são as emoções que nos marcam... E revisitar muitos desses momentos foi como se eu os estivesse vivendo novamente, sentindo o calor e até o aroma do momento.

O que motivou o senhor a deixar a formação em direito de lado para apostar na vida de ator?
Na realidade, eu já nasci palhaço. O direito entrou na minha vida para aguçar a minha sede por conhecimento... Mas minha alma era de palhaço e a televisão me encantava. Eu assistia aos filmes do Oscarito e aquilo me iluminava por dentro. Amava aquela vida que aparecia na tela... Era o que eu queria pra mim.



O livro também aborda momentos dos Trapalhões. Como foi para o senhor viver esse tempo áureo na televisão ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias?
Nem sempre foram áureos... Houve muita luta para chegar onde chegamos, mas valeu a pena cada gota de suor! Uma história linda que ainda hoje comove e que agora faz parte da televisão brasileira. Eu tenho muito orgulho de tudo o que vivemos.

O senhor fez carreira como comediante. Percebe mudanças na linguagem da comédia ao longo dos anos? A sua forma de fazer comédia mudou?
Sempre digo que o humor acompanha as mudanças da sociedade. A sociedade hoje está mais exigente, então, a tendência é uma atualização natural... O riso é uma das formas de pensarmos e expurgarmos nossas mazelas. Na verdade, nós rimos de nós mesmos!

No ano passado, Os Trapalhões ganharam uma nova versão. Como foi retornar ao projeto depois de anos e com novos personagens?
Foi uma experiência gratificante. Os meninos são ótimos! E o humor dos Trapalhões ainda hoje faz brotar o riso e enche a sala e a telinha de alegria.

Duas perguntas / Rodrigo Fonseca


O que mais te surpreendeu durante o processo de escrita do livro em relação às histórias contadas por Renato Aragão?
A cultura enorme dele em relação à literatura (fã de Pasternak, de Dickens, LaFontaine) e ao cinema, sobretudo o de guerra, com uma predileção especial por Tarantino. Ficávamos horas falando de Bastardos inglórios.

Qual é a importância da figura de Renato Aragão para a história da televisão brasileira e também do cinema brasileiro?
Maior campeão de bilheteria da história de nosso cinema, com cerca de 130 milhões de ingressos vendidos, Renato construiu uma ponte entre a comédia e o realismo social, pelas vias de seu heroísmo pícaro. Levou para o público infantil um humor que refletia agruras sociais com toques de neorrealismo. Ele é o Totó brasileiro. Na tevê, ele estetizou um humor físico clownesco chapliniano, libertando o telespectador da égide talking head da palavrosa comédia radiofônica.

Renato Aragão ; Do Ceará para o coração do Brasil
Rodrigo Fonseca. Editora Sextante, 304 páginas. Preço médio: R$ 49,90.