São Paulo ; A mulher olhou para céu por cerca de 5 segundos e encolheu os ombros para se proteger do frio, tentando responder a pergunta ;O que você achou do show?;. Após mover os lábios e tentar articular uma frase, Deborah Stritzel resolveu ficar com apenas uma palavra para descrever o espetáculo Amaluna, do Cirque du Soleil, que tinha acabado de acompanhar por duas horas e meia: ;Maravilhoso;.
A paulista de 52 anos foi uma das cerca de 1.500 pessoas que foram acompanhar o espetáculo Amaluna no Parque Villa Lobos, em São Paulo, no último dia 13. O Correio conferiu os bastidores do Cirque du Soleil, o mais famoso do mundo, com sua nova história, que está rodando o mundo ; eles chegam ao Brasil após quatro anos da última apresentação, Corteo, em 2013. A turnê segue para o Rio de Janeiro no próximo dia 28 e é opção para os brasilienses que vão passar a virada do ano na Cidade Maravilhosa.
Se você tem dificuldade em entender como as apresentações do Cirque du Soleil conseguem ser tão ousadas, basta dar uma olhada no que existe por trás do picadeiro. O primeiro contato com o backstage de Amaluna surpreende pela grandiosidade. A estrutura física do espetáculo é composta por quase 100 contêineres (que viajam o mundo por mar, ar e terra) que carregam, sobre 90 caminhões, cerca de 2 mil toneladas de equipamentos, movimentando uma verdadeira cidade sobre rodas, que leva 3 dias para ser desmontada e 8, para ser montada.
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130 pessoas envolvidas
A equipe do espetáculo é composta por cerca de 130 pessoas, entre artistas e trabalhadores de produção, que passam a viver em hotéis a partir do momento em que a turnê começa. O circo emprega, em média, 150 pessoas por cidade visitada para dar suporte à realização do show. Em Amaluna, são 48 artistas no palco.
Amaluna estreou em 2012 em Montreal, no Canadá, e, desde então, vem rodando o mundo, totalizando mais de 4 milhões de espectadores. A apresentação conta a história de uma ilha comandada por mulheres, e de como Miranda, filha da rainha, se apaixona por Romeo, um marinheiro à deriva. Com elementos shakespearianos e de culturas indígenas, o enredo mistura humor e suspense com muita música e performances acrobáticas típicas da companhia.
O cronograma de ensaios é apertado, com cada cena tendo seu tempo de preparação na tenda de treinos. Sem o figurino e o cenário, os artistas se misturam praticando suas cenas por cerca de duas horas por dia, todo dia, sendo que em média uma hora é dedicada à maquiagem (que os próprios artistas fazem e mais duas horas e meia de show.
Dos 48 artistas em cena no espetáculo Amaluna, dois são brasileiros. Gabriel Christo, 30 anos, é um dos acrobatas que montam a cena Teeterboard. O mineiro conta que já se apresenta com a trupe há cerca de 10 anos. ;Minha casa é onde o circo está, onde o Amaluna estiver eu estarei;. Christo, que realizou o processo seletivo enquanto tentava alavancar a carreira de ginasta pelo Brasil, explica o que o faz estar há tanto tempo neste trabalho: ;Não foi o dinheiro que me trouxe aqui, o circo me dá a oportunidade de viajar o mundo e continuar na ginástica, que é o que amo;.
Gabriella Argento, 42, é a outra brasileira em Amaluna interpretando a palhaça que é ama da protagonista. A paulista conta que fez a audição em 1997 e esperou sete anos até ser chamada. ;No Brasil não existe muito a cultura de ir ao circo, aos circos pequenos pelo menos, mas existem artistas que persistem. As pessoas me perguntam ;você acha que o circo vai morrer?;, eu respondo ;não;;, conta.
Mais do que a presença brasileira, o Amaluna também conta com um pedacinho de Brasília. Mariana Motta, 38, ex-moradora da Octogonal saiu da capital aos 23 anos para estudar turismo no Rio de Janeiro. Após conhecer o marido holandês e chef de cozinha do Amaluna, a brasiliense começou, aos poucos, a conquistar o cargo logístico de tour service, sendo uma das responsáveis por legalizar os papéis de imigração da trupe que roda o mundo.
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader
** O repórter viajou a convite do Cirque Du Soleil