Mestre, Zangado, Feliz, Dengoso, Atchim, Dunga, Soneca e a Branca de Neve. O grupo foi responsável por um feito até então inédito: estrelar um longa-metragem completamente de animação em 1937. O filme, concluído com muito esforço, não foi nada comparado com as consequências da produção, que 80 anos depois abriu caminho para uma indústria do gênero de animação que consegue tirar grandes blockbusters do topo da bilheteria.
A história da inocente e submissa princesa começou em 1934, quando o ainda desconhecido Walt Disney anunciou sua ideia ao jornal The New York Times. Em uma época em que a maioria das animações não passavam de 10 minutos, fazer um longa-metragem do gênero logo marcou a ideia do empresário como ;Disney;s Fully; (ou, a ;maluquice de Disney;, em tradução literal). Mas o jovem sonhador não se deixou abater e penhorou sua própria casa para financiar a produção do filme, que, ao final, custou cerca de US$ 250 mil à época.
O começo
A ideia original sofreu bastante alterações, passando de um enredo que tangenciava o suspense, para uma história menos sombria e mais alegre, apostando também na música. Graças à Branca de Neve que sucessos como Let it go, de Fronzen, e outros hits de animações são tocados nas rádios e nos serviços de streamming. Disney fez da trilha sonora um produto independente e que dá lucro.
Mais do que uma ;maluquice;, A Branca de Neve e os sete anões levou Walt Disney ao topo do mundo. Além de ser ovacionado de pé na sua primeira exibição, em 21 de dezembro de 1937, o filme foi um verdadeiro sucesso de audiência, arrecadando ao final de sua exibição a bagatela de US$ 7,8 milhões.
E além do dinheiro, a empresa também conseguiu algo mais importante ainda: relevância na indústria do entretenimento. Sendo capa de revistas, Disney recebeu seu primeiro prêmio Oscar (em uma categoria especial, pois na época ainda não havia um prêmio para ;Melhor animação;, como atualmente).
Se a estreia de A Branca de Neve e os sete anões foi o primeiro passo para a chegada das princesas ao cinema, é seguro dizer que Branca de Neve divide o trono de princesa querida com outras celebridades criadas por Hollywood. Em um universo de mais de 30 princesas em 80 anos, as personagens estão se tornando muito mais do que meninas indefesas, e buscando suas próprias vitórias em aventuras que vão além de serem salvas por um príncipe encantado e do felizes para sempre.
As melhores versões dessa nova referência do que é ser uma princesa se encontra com as personagens Moana, Mulan, Elsa, Pocahontas e Merida. As jovens garotas vestem a camisa de lutar ; e vencer ; grandes vilões por elas mesmas, indo além do ideal de beleza feminina e a posição social construída para elas.
Opinião de fã
Para a estudante de turismo Liz Barbetta, 18 anos, uma grande fã de animações de princesas, a posição delas dentro das tramas cinematográficas faz parte de uma nova abordagem, que leva em consideração novos valores morais da sociedade. ;Os temas discutidos, as lições de moral, são, cada vez mais, reais. Reais no sentido de serem temas que são discutidos por nós, nos dias atuais, e que antes eram vistos como tabus ou impróprios. Temas que debatem o lugar da mulher na sociedade, colocando elas não mais como indefesas e frágeis, mas como protagonistas da própria história, desde Mulan até Merida e Moana;, defende.
Outra fã ardorosa, Nicolly Barreto, 17 anos, destaca que as mudanças no conteúdo das animações ao longo dos anos talvez não sejam tão relevantes, porém, a posição das protagonistas, sim. A estudante do 3; ano do ensino médio explica: ;A maneira de se portar das protagonistas mudou, hoje elas são mais autônomas;.
Mauricio Fonteles é professor do Departamento de Audiovisual da Faculdade de Comunicação (FAC) da Universidade de Brasília (UnB) e defende que três pontos principais foram fundamentais para a evolução das animações ao longo desses 80 anos: a maior complexidade dos roteiros, que expandiu o público-alvo dos filmes, e a maior facilidade técnica das produções.
Com relação ao primeiro ponto, o professor sustenta: ;As animações estão, cada vez mais, inteligentes. Você percebe no meio das animações como os storytelling (a linha narrativa) e o universo fantástico estão instigando mais a criatividade do público;.
Fonteles ressalta o quanto essa ;inteligência; das animações serviu para atrair um público além do infantil. ;Os roteiros têm várias camadas que agradam as crianças em um sentido e os adultos, em outro. Existem também maior liberdade criativa no contexto das animações. Não há preocupação com ângulo de câmera, por exemplo, o desenho pode alcançar muito mais;, afirma o professor.
E tudo isso foi conquistado graças à evolução tecnológica dos filmes de animação. ;A animação, no começo, era um processo quase artesanal, em que você tinha de desenhar cada cena manualmente, hoje em dia existem vários softwares que facilitam o trabalho;, explica Fonteles. ;Os softwares 3D (que se referem ao volume dos ambientes) entram nesse jogo trazendo toda aquela produção de um universo físico para os computadores;.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
[VIDEO1]