Um dos discos mais icônicos do rock nacional, Cabeça dinossauro celebra mais de três décadas de história e ganha releitura nos palcos com o espetáculo Cabeça (um documentário cênico). A peça, lançada em 2016, é fruto da criação de Felipe Vidal e o coletivo Complexo Duplo, que criaram uma potente estrutura a partir da conexão entre as músicas do disco e experiências reais dos próprios atores com o álbum e seu ano de lançamento.
O forte posicionamento político das canções e a relação das letras com temas como o Estado, a igreja, o capital e a ideia de família tradicional, transformam a obra em um importante espaço de pensamento e contestação. O disco marcou a trajetória da banda paulista Titãs e agora mostra seu legado.
Os temas são abordados pela perspectiva do Brasil de 1986, recém-saído da ditadura, e dos turbulentos tempos políticos atuais, mostrando a atualidade e pertinência das letras que movimentaram o rock na década de 1980. O guitarrista e compositor Tony Bellotto, integrante da banda desde a sua criação, lembra que a qualidade das músicas e o momento em que foram lançadas possibilitaram uma importante conjunção de fatores na época, contribuindo para a mística criada em torno do disco e a longevidade de seu alcance. Para ele, o Cabeça é um dos discos mais importantes feitos no Brasil. ;Ele é emblemático e marcou nossa história como o álbum em que encontramos uma identidade musical;, afirma.
O músico destaca que o espetáculo criado em forma de teatro documentário é surpreendente, não só por reproduzir o disco ao longo das cenas com muita competência, mas também por contextualizar sua importância e influência na vida de cada um dos atores que o vivenciaram e trouxeram para o palco.
Em cena, as canções do álbum são executadas ao vivo e na mesma sequência da obra original. O Lado A e Lado B do vinil se transformam em primeiro e segundo atos da peça. ;As músicas fazem do Cabeça um disco especial, muitos dos temas trabalhados ao longo das faixas, infelizmente, continuam atuais;.
Presente e passado
Para formar o mosaico de rock, história e teatro, vivências pessoais dos atores serviram como inspiração e para a dramaturgia, criada por Felipe Vidal. Os artistas mergulham na memória da década de efervescência do rock nacional e entram em cena com um talentoso elenco de oito atores, mesma quantidade da formação original dos Titãs. O grupo, que
vivenciou a época durante a adolescência, mostra como era descobrir o mundo pelas lentes da música e do rock.
;As histórias pessoais não têm a ver com as canções em si, mas com os temas delas, que já nos seus títulos demostram uma crítica direta às instituições. Polícia, Família, Estado Violência, são alguns desses títulos;, destaca o artista. Felipe conta que as várias histórias levadas pelos atores entram em diálogo com as músicas do disco e traçam um painel político-social dos últimos trinta anos. Os arranjos originais são mantidos e criam uma atmosfera de afeto e nostalgia entre os espectadores.
O ator Leonardo Corajo levou para o palco a perda de seu pai, que aconteceu no ano seguinte ao lançamento do álbum, além das impressões que ele, na época com 12 anos, teve ao escutar o LP. ;A relação foi instantânea. É um disco muito importante para a minha geração. O rock nacional é a música de
protesto dos anos 1980. E são letras pertinentes até hoje;, destaca. Para ele, o espetáculo se conecta com a autoridade afetiva de quem foi atravessado pela época, dançou aquelas músicas e fez delas seu próprio manifesto.
A multiplicidade de linguagens também é uma constante, com projeções e videografismos que enriquecem a montagem e trazem imagens marcantes da cena política, musical e social da década de 80 e a atual.
Emblemático
Cabeça Dinossauro é o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira de rock Titãs, lançado em 1 de junho de 1986. A obra marcou uma nova identidade para o grupo e garantiu seu primeiro álbum de ouro, consagrando-se como um de seus trabalhos mais icônicos. A capa foi baseada em um esboço do pintor italiano Leonardo da Vinci, intitulado A expressão de um homem urrando.
Cabeça (um documentário cênico)
No CCBB (Sces Tr. 2), de 20 a 30 de dezembro, de quarta a sábado, sempre às 20h. Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) e a classificação indicativa é de 16 anos. O espetáculo tem 1h50 de duração (com intervalo de 10 minutos).