Ricardo Daehn
postado em 30/11/2017 07:44
O elenco é monumental e inclui Penélope Cruz, Johnny Depp, Michelle Pfeiffer e até o bailarino Sergei Polunin. Mas, um nome é o que realmente impulsiona a versão para cinema do livro policial Assassinato no Expresso do Oriente: a autora britânica de mais de 60 livros Agatha Christie. Grosso modo, no alcance de sua obra, é como se quase um a cada três seres humanos estivesse de posse de um livro dela.
Mesmo em tempos de spoiler, não haveria descrição que estragasse a festa de quem não tivesse lido o livro de Agatha, originalmente publicado em 1933, dada a engenhosidade com a qual puxa o fio da meada da trama. A condecorada Dama do Império Britânico, com a trama já adaptada para a telona em 1974, cria um policial à la Treze homens e um antigo segredo (parafraseando o sucesso com George Clooney e Brad Pitt).
Um caso real de sequestro do filho do aviador Charles Lindberg, já nos anos de 1930, inspirou Agatha Christie para a produção do livro complementado pela originalidade da autora que ainda fabulou em torno de um acidente envolvendo trens do Expresso do Oriente (na vida real, com rota desativada em 1962).
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Na nova criação para cinema, é o talento múltiplo do irlandês Kenneth Branagh que traz relevância à produção orçada em US$ 55 milhões. Por enquanto, o lucro já foi revertido em mais de US$ 200 milhões. Despontado para o mundo, pela boa impressão deixada com a encenação e com a direção de Henrique V (1989), Branagh assume, com o novo filme, uma trama de convivência perturbadora entre 14 pessoas encerradas em vagões de trem.
Já separado da atriz Emma Thompson, que também se projetou nos anos de 1990, Branagh, para quem não se lembra, cristalizou uma filmografia interessante nutrida pelas adaptações de Shakespeare Othelo (1995) e Hamlet (1996).
Num repeteco da história, uma vez que o novo filme já puxou a certeza de nova atualização, em cinema, para outra obra da autora morta em 1976 (Morte sobre o Nilo), a exemplo dos anos de 1970, Assassinato no Expresso do Oriente conta com convincente recriação do protagonista, o vaidoso detetive Hercule Poirot (Kenneth Branagh), que ostenta monumental bigode.
Com seis indicações ao Oscar, em 1975, Assassinato no Expresso do Oriente, o original, trouxe alinhamento de estrelas como Albert Finney, Lauren Bacall e Sean Connery. Isso sem contar o brilho de Ingrid Bergman, que, na pele de uma missionária, levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante. No filme de Branagh quem chacoalha a viagem de todos é o empresário Ratchett (Johnny Depp), repentinamente morto. Doze punhaladas raivosas no abdômen lhe tiram a vida.
Antes, Ratchett se encontra com Poirot, se dizendo perseguido. Fotografia, figurino, roteiro, ator e trilha sonora ; todos requisitos ressaltados pelo Oscar setentista (apenas indicações, sem prêmios) ; novamente são dignos de menção, dado o esmero em cada um dos elementos. Ah! O mordomo da vez é interpretado pelo respeitadíssimo ator de teatro Derek Jacobi. Será que foi ele?
Filmes inéditos russos, de graça
Numa parceria entre o Cine Brasília (EQS 106/107) e a Embaixada da Rússia, sete filmes restaurados da ex-União Soviética, a maioria inédita na capital, estará reunida em ciclo de vanguarda em Brasília. A mostra Cinema Russo ; Um Percurso em Cinco Décadas, a partir de hoje, na capital, revelará caminhos e desdobramentos da abertura da Rússia, num movimento iniciado desde os meados dos anos 1980. Hoje (quinta, dia 30/11), às 20h, é o momento para a comédia Braço de diamante (1969), visto por 76 milhões de russos. Na trama, a polícia persegue um cidadão vindo do exterior, sem conhecimento das joias carregadas no gesso posto no braço. Amanhã (1;/12), às 20h30, será a vez de O conto do czar Saltan, de Aleksander Ptushko, que mostra uma rainha exilada, colocada em ambiente mágico. Solaris (1972), que trata da energia e desejo de realização dos seres humanos, é um clássico de Andrei Tarkovski integrado à mostra.
Outras estreias da semana
Patti Cake$
A aparência de Patti, a protagonista do filme de Geremy Jasper, é o que à primeira vista fragilizaria a atriz Danielle Macdonald para a sessão de bullying sofrida em cena. Acima do peso, ela reverte o quadro de coitadismo, elevando a bandeira do empoderamento, enquanto rapper branca. Os atores Siddharth Dhananjay e Cathy Moriarty (O touro indomável) também brilham como os colegas de jornada de Patti.
A estrela de Belém
Uma festa de casamento, acompanhada por um grupo de animais inteligentes, puxa o enredo da animação criada por Timothy Reckart. No evento, a presença da jovem Maria, mãe de Jesus, fará toda a diferença.
Os parças
Quatro trambiqueiros ; entre os quais os personagens de Whindersson Nunes e Tom Cavalcante ; são obrigados a se infiltrar no casamento de uma abonada herdeira de império, nesta comédia dirigida por Halder Gomes.
Jogos mortais: Jigsaw
Michael e Peter Spierig, irmãos e cineastas, dirigem este longa que coloca em cena os requintes sádicos de crimes cometidos por Jigsaw. A censura é de 18 anos.
Barreiras
A protagonista do filme é Catherine (Lolita Chammah), capaz de apelar para o sequestro da própria filha. Integrou o segmento Forum (do Festival de Berlim) este drama conduzido por Laura Schroeder, e que conta com a estrela francesa Isabelle Huppert na pele de uma avó.
Antes o tempo não acabava
Concorreu a prêmios Candango, em 2016, este drama assinado por Sergio Andrade e Fábio Baldo, e que encerra uma trama de conflitos e aculturação para o jovem indígena Anderson.
Com amor, van Gogh
O primeiro filme encenado e pintado completamente à mão (por uma centena de artistas) conta de forma muito inventiva o nascimento e mito que acompanhou o pintor holandês van Gogh.
Cromossomo 21
Dirigido por Alex Duarte, o filme coloca em foco a Síndrome de Down, presente no dia a dia da protagonista que, apaixonada, enfrentará a quebra de preconceitos, em busca de amor.
Thelma
Na fita candidata à vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro, pela Noruega, uma moça se dá conta de possuir poderes sobrenaturais enquanto cai de amores pela primeira vez.