Beatriz Queiroz*
postado em 15/11/2017 07:30
As histórias do dia a dia de um dos moradores de Penedo, cidade às margens do Velho Chico, em Alagoas, são hoje as mais vistas na internet. Carlinhos Maia produz vídeos há quase dois anos, mas o sucesso começou mesmo há apenas nove meses.
;Quando comecei fui muito criticado por pessoas da minha cidade. Muito criticado mesmo, faziam paródias me imitando, falando mal da minha casa, da minha família e de mim, então acabei desmotivando. Lembro que fazia os primeiros vídeos com câmera boa de uma amiga minha emprestada, em uma casa bonita, que era a casa dela, eu meio que não queria mostrar minha casa, a realidade. Eram vídeos meio que forçados, não estava sendo eu, estava fazendo vlogs e tentando ser um youtuber igual aos outros. Aí, nove meses atrás eu disse ;ah, quero mostrar minha realidade como realmente é;. Então, fiz o vídeo na minha casa, sem muita edição e postei, e foi esse sucesso que vocês estão acompanhando;, explica o humorista.
O alagoano tem 24 anos e mais de 4 milhões de seguidores no Facebook, onde posta os vídeos de humor sobre cotidiano e a vida das pessoas. O primeiro post de Carlinhos que estourou na internet foi sobre ;mulheres que usam touca;, no qual ele faz críticas sobre como a prática é feia. ;Para de fazer isso com você mesma, você tá atrasando o seu destino, você tá humilhando os seus filhos. Não usa mais touca! Se quiser usar touca, meu amor, não use nem em casa;, ele diz no vídeo.
Quando resolveu trabalhar com humor, Carlinhos tinha apenas um objetivo: despertar sorrisos nas pessoas. Ele acreditava que estava aqui sem utilidade e não queria ser mais uma pessoa comum com trabalho comum. ;Queria ter contato direto com as pessoas, mostrar minha realidade. Queria que elas rissem e fossem felizes, que a vida do Carlinhos fosse mais um ingrediente nessa correria de quem trabalha bastante. Então, toda vez que eles parassem pra me assistir, elas esquecem das dívidas, do trabalho e dessem risadas bobas com o cotidiano.;
Uma personagem importante para os vídeos do humorista é a mãe dele, Maria das Graças. Enquanto ele grava os vídeos, ela faz atividades domésticas e aparece no fundo com barulhos, comentários e até algumas broncas.
Da internet aos palcos
Carlinhos começou no humor em programas de rádio, mas resolveu seguir para as redes sociais por influência dos amigos. O sucesso na internet levou o artista aos palcos com shows de stand up nos quais a mãe também aparece e o público interage para ajudar a construir as narrativas.
;A gente nunca espera o sucesso. Eu esperava que ia ter um reconhecimento porque acho que minha vida é literalmente engraçada e que as pessoas iam gostar.; Para os shows ao vivo, o alagoano se inspirou no humorista Tirullipa. O cearense é filho de Tiririca e além do stand up faz sucesso com paródias de músicas conhecidas, como Corpo sensual e K.O., de Pabllo Vittar.
Mesmo com o sucesso na internet e a descontração para os vídeos, Carlinhos Maia não se sentia preparado para o palco e se considerava ;desengonçado e, às vezes, retraído;. ;Às vezes ainda fico sem acreditar que é para mim. Penso ;meu Deus, será que eu sou engraçado assim ou esse povo está só fingindo?;;, brinca. Hoje, ele alega que não vive mais sem essa sensação e sem o público.
A essência simples da cidade pequena em que cresceu também aparece na forma de fazer humor do artista. Ele ressalta que o mais importante no show de humor é que a piada tenha humanidade. ;Minha intenção é apenas fazer rir, jamais ofender. A piada só é bacana quando os dois riem.;
Outro caminho
Indo contra a maré de famosos no YouTube, Carlinhos Maia optou por veicular vídeos em outra rede social, o Facebook. A ideia era utilizar um meio menos saturado e que permitisse exclusividade. Além disso, o alagoano buscava um público mais adulto, diferente do que existe no YouTube.
O humorista utilizou também o Instagram, tanto para postar vídeos de humor quanto para promover o trabalho com stand up. As postagens do YouTube vêm dessas outras redes e também são um sucesso: hoje o canal de Carlinhos Maia acumula mais de 16,8 milhões de visualizações dos 463 mil inscritos.
*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco