Músicos que iniciaram a carreira em Brasília, como Jorge Helder, Lula Galvão, Nema Antunes e Marcos Brito, ao migrarem para o Rio de Janeiro optaram por tocar em bandas que acompanham nomes consagrados da MPB. Já os de geração posterior, que tomaram Hamilton de Holanda como referência, preferiram apostar em carreira solo, exibindo o talento em shows e discos ; embora alguns participem do trabalho de outros instrumentistas e de cantores nos estúdios de gravação.
Rogério Caetano, por exemplo, começou a ser conhecido ao tomar parte em DVDs de Zeca Pagodinho. Mas decidiu investir no próprio trabalho. O resultado são sete discos lançados, sendo quatro com parceiros; incontáveis apresentações no Brasil e turnês pelo exterior, chamando a atenção do público em países como a França, onde esteve no começo deste ano.
O violonista goiano que iniciou a carreira na capital, no âmbito do Clube do Choro, e viria depois a se tornar bacharel em composição pela UnB, é hoje um nome de destaque na cena musical carioca. Influenciado por Dino Sete Cordas e Raphael Rabello, desenvolveu uma linguagem para o instrumento, que é tida como inovadora.
Entre os vários projetos que tem desenvolvido, destaca-se o que, desde 2015, tem ocupado o Eco Som Studios, no bairro de Botafogo, com a participação de muitos convidados. Segundo Rogério, no início, a intenção era ensaiar um trabalho novo em trio. ;Os ensaios não aconteceram e, então, passei a convidar amigos músicos para dividirem o palco comigo, toda sexta-feira, com a presença de espectadores;, conta.
Encontros
Nesse formato, o projeto começou a fluir. ;A princípio tímida, a resposta do público foi num crescendo. Ao alcançar a lotação máxima, de 120 pessoas, passei para o segundo andar do estúdio, um espaço em que tínhamos uma condição profissional de registrar os encontros em áudio e vídeo. O resultado é o CD;, acrescenta.
A série de encontros resultou no Rogério Caetano Convida ; Ao Vivo no Rio, CD que está sendo lançado em parceria com a Biscoito Fino. ;Este trabalho me deixa feliz por mostrar a situação real dos momentos mágicos que vivi durante dois anos. O projeto me fez aprender, amadurecer, e me permite, agora, dividir com o público uma música feita na hora, à vera, de um jeito despojado, descontraído e improvisado;, diz o violonista;.
O álbum traz 14 faixas, nas quais Rogério divide a interpretação de temas diversos ; vários deles do próprio violonista e dos convidados ; com oito nomes consagrados da música instrumental brasileira. Na abertura do repertório, ele e Yamandu Costa tocam Choro Bagual e Frevinho. Ao lado de Hamilton de Holanda faz Capricho de Luperce e Criançada reunida. Os clássicos Ingênuo (Pixinguinha) e Nova ilusão (Claudionor Cruz) ganham nova leitura com o reforço do trombonista Zé da Velha e do trompetista Silvério Pontes.
Milonga gris (Carlos Aguirre) e Caminhando (Nelson Cavaquinho e Nourival Bahia) junta Rogério ao acordeonista gaúcho Bebê Kramer. Samba pro Marcão feita por Rogério para Marco Pereira. E Uma valsa para Rosa, composta por Marco Pereira para a filha de Rogério, volta a reunir os dois amigos no CD. Parceiro do violonista e outros projetos, o saxofonista Eduardo Neves marca presença em E vai que é gostoso e Valsa d;Yamandu. Por fim, há o reencontro de Rogério Caetano e Cristovão Bastos em Choro saudoso e Forró das palmas.
Bem que Rogério tentou vir a Brasília lançar o CD, mas por desencontro em relação às agendas dele e do Clube do Choro, o show ficou para março de 2018. ;Já conversei com o Reco do Bandolim e só falta definir a data. Passei por Brasília recentemente, quando fui participar do projeto Canto da Primavera, em Pirenópolis, ao lado de Marco Pereira e de Cristovão Bastos. Não vejo a hora de levar esse trabalho para os brasilienses;, frisa.
Crítica
Linguagem singular
; Paulo Pestana
O violão de sete cordas entrou na música brasileira pelas mãos de China, irmão de Pixinguinha e um dos Oito Batutas, que conheceu o instrumento quando saiu pelo mundo tocando sambas, maxixes e choros. Criado pelo francês Napoléon Coste em meados do século 19, encaixou-se tão perfeitamente à música popular brasileira que hoje é praticamente impossível encontrar um bom grupo que não tenha um sete cordas entre seus integrantes.
O primeiro grande mestre do instrumento foi Dino 7 Cordas, que fundou a linguagem brasileira do instrumento e abriu uma linhagem de grandes instrumentistas que não para de crescer. Rogério Caetano, nascido em Goiás e formado músico em Brasília, é um desses jovens mestres, e está lançando seu quarto disco.
Com uma linguagem singular no instrumento, ele aparece em seu melhor momento no projeto Convida, que começou como uma série de espetáculos e agora tem alguns de seus melhores momentos registrados em disco. E, como o nome sugere, com convidados mais do que especiais.
Em Rogério Caetano Convida, ele divide a cena com os veteranos Zé da Velha e Silvério Pontes, com o bandolinista Hamilton Holanda, o flautista Eduardo Neves e outros mestres do violão, como Yamandu Costa, Marcos Pereira e o pianista Cristovão Bastos. Impressiona a versatilidade do titular ao compor o disco com tantos estilos diferentes.
Com Yamandu Costa, em dois temas, ele se solta inteiramente, busca harmonias quebradas e mudanças bruscas de ritmo; com Hamilton Holanda, explora escalas alucinantes propostas pelo bandolim e cria linhas alternativas principalmente no choro Capricho de Luperce; com Zé da Velha e Silvério Pontes, escanhoa velhos temas ; Ingênuo e Nova Ilusão. E segue o baile.
A música instrumental brasileira poucas vezes esteve tão bem representada quanto nos 14 temas ; interpretados de maneira ousada e respeitosa ao mesmo tempo ; que compõem o disco. É o tal Brasil que dá certo.
Rogério Caetano Convida ; Ao Vivo no Rio
CD do violonista com a participação de convidados, com 14 faixas. Lançamento da gravadora Biscoito Fino. Preço sugerido: R$ 29,90