Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Show de Marisa Monte e Paulinho da Viola chega a Brasília na sexta

Marisa Monte e Paulinho da Viola sobem ao palco do Centro de Convenções em encontro histórico

Chamado de ;Príncipe do Samba;, Paulinho da Viola, ao longo de 50 anos de carreira, tem dado fundamental contribuição para a música popular brasileira, como autor de clássicos que se alinham com a tradição do nosso gênero mais representativo. Mas, sem amarras, e sempre em constante processo criativo, ele costuma afirmar: ;Meu tempo é hoje;.

Nome marcante da MPB contemporânea, Marisa Monte, além intérprete singular e compositora talentosa, abre espaço em seus discos para criadores das mais diversas vertentes sonoras e poéticas. Com frequência se deixa guiar pela memória afetiva ao resgatar do fundo do baú, por exemplo, pérolas do legado de históricos mestres do samba.

Representantes de diferentes gerações, desde o primeiro semestre os dois estão em turnê pelo país com o espetáculo Paulinho da Viola encontra Marisa Monte, que sexta-feira (20/10), às 21h, ocupa o palco do auditório master do Centro e de Convenções Ulysses Guimarães. O que os une mais é o amor pela Portela, a escola de samba campeoníssima do carnaval do Rio de Janeiro.

Paulinho, que foi da ala de compositores da agremiação situada entre os bairros de Madureita e Oswaldo Cruz, é o autor do hino Foi um rio que passou em minha vida, sempre cantado na concentração para o desfile da Azul e Branco na Marquês de Sapucaí. O compositor é ainda o produtor do LP Portela , passado de glória, lançado em 1970 ; hoje uma joia rara.

Marisa, filha de um ex-diretor da escola, produziu em 2000 o álbum Tudo azul, reunindo composições dos bambas da Velha Guarda portelense. Foi dela também a ideia do elogiado documentário O mistério do samba, dirigido por Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor, que traz saborosos relatos sobre compositores que entraram para a história da Portela.

O repertório do show de sexta-feira, obviamente, reúne alguns desses sambas, entre os quais Com lealdade (Alberto Lonato), Dizem que o amor (Argemiro Patrocínio e Francisco Santana), Quantas lágrimas (Manacéa) e Preciso te encontrar (Candeia). Nesse momento, não faltarão histórias, em falas de Paulinho e Marisa, sobre esses ricos personagens.

Essa é apenas uma parte do roteiro que se torna completo com a adição de músicas marcantes da obra dos dois. Coisas do mundo minha nega , Onde a dor não tem razão, Pecado capital e Tudo se transformou são cantadas por Paulinho. Marisa revisita os hits Carnavália, Comida e Universo ao meu redor. Em duo, eles fazem, entre outras, Dança da solidão, Para ver as meninas (gravadas pela cantora), Sinal fechado e Carinhoso ; esta incluída no Meu tempo é hoje, documentário sobre Paulinho, dirigido por Isabel Jaguaribe.


Paulinho da Viola encontra Marisa Monte
Show dos cantores, com a banda formada por João Faria (violão), Dininho (baixo), Adriano Souza (piano) e Mário Seve (sopros), sexta-feira, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 350 (poltrona vip), R$ 300 (poltrona vip lateral), R$ 250 (poltrona especial) e R$ 150 (poltrona superior) ; preços referentes à meia-entrada. Observação: Assinantes do Correio paga meia. Ponto de venda: G2 do Brasília Shopping. E www.eventim.com.br. Não recomendado para menores de 12 anos.




Entrevista/ Paulinho da Viola


Paulinho, vocês tiveram um primeiro encontro no palco em 1993, num show pelo projeto Heineken Concerts. Agora estão juntos nesse espetáculo. O fato de vocês serem portelenses ajudou a aproximá-los?
Certamente. Ela é ligada à Portela desde bem jovem, pois o pai dela, Carlos Monte, foi diretor da escola e uma figura presente na agremiação, embora sempre discreto. Como artista, Marisa bebeu nessa fonte límpida de inspiração.


Qual foi o critério para a escolha do repertório?
Fiz um roteiro e apresentei à Marisa e à produção. Houve poucas modificações e alguns acréscimos. Há composições minhas, outras de Marisa e várias de compositores que ajudaram a construir a história da Portela. Alguns deles estão presentes num LP que produzi em 1970, intitulado Portela passado de glória. A Marisa sugeriu outros sambas que já conhecia bem e que foram focalizados no documentário O mistério do samba, idealizado por ela.


Talismã é uma rara parceria sua com Marisa e Arnaldo Antunes. Ela também está no roteiro?
Sim. Está e música que gravei no DVD, Acústico MTV. Ela teria que estar no show.


Você volta a Brasília num momento de turbulência política. Qual sua visão sobre o Brasil de hoje?
É muito triste o que a gente assiste atualmente em vários setores da vida nacional, tendo que conviver com problemas na áreas social, econômica e política, com a baixa popularidade do governo. O país precisa de mudanças urgentes, mas até o que já foi conquistado, como a ausência da censura nas produções artísticas, corre perigo. O futuro é de muita incerteza.




Entrevista / Marisa Monte


Dividir o palco com Paulinho da Viola representa o que para você?
Cantar com o Paulinho da Viola, para mim, é como me encontrar com a alma do samba. Uma alegria, um privilégio e uma honra.


Dança da solidão e Pra ver as meninas são músicas do Paulinho gravadas por você. Quando foi que a obra dele despertou sua atenção?
Desde cedo. Na infância, em minha casa, ouvia sempre muita música brasileira e todos os mestres do samba, inclusive Paulinho.


Você produziu o documentário O mistério do samba, sobre a Velha Guarda da Portela. O fato de serem portelenses os aproximou ainda mais?
Claro! É uma paixão em comum que gerou uma cumplicidade em torno dos valores, das histórias, da beleza e sensibilidade da arte criada pelos bambas da escola.Uma arte pura, expontânea, sensível e comovente, maior expressão da cultura popular da nossa cidade. É maravilhoso poder compartilhar tanta beleza com o mundo, através da música.


Que avaliação faz da crescente onda de conservadorismo, que tem levado à censura e a ataques a exposições e outras manifestações artísticas?
Eu, particularmente, não levaria uma criança pequena para assistir a um filme de horror ou com cenas de guerra e violência. Também seria cuidadosa na escolha do conteúdo adequado, no que diz respeito a temáticas adultas. Penso que uma orientação aos responsáveis quanto à faixa etária, que ajude a tomada de decisão, é importante, porém, acredito que a sociedade amadurece quando pode exercer suas escolhas. Sou capaz de discernir, de fazer boas escolhas e não abro mão desse direito. Não gosto da ideia de o Estado fazer esse tipo de tutoria comportamental por mim. Um produto cultural que não agrade à sociedade tende a não se propagar, naturalmente.


O Brasil de hoje te inspira o que?
Vontade de distribuir muito amor, arte e alegria.