Diversão e Arte

Exposições em cartaz na cidade discutem o valor da vida

Ana Miguel e Milton Marques mostram instalações que discutem o tempo, a vida e a própria arte

Nahima Maciel
postado em 26/09/2017 06:30

Ana Miguel brinca com a memória em instalação na Alfinete Galeria

Ana Miguel e Milton Marques são arquitetos de miniaturas. A partir de engrenagens muito simples, mecânicas ou orgânicas, os dois artistas criam maquetes de experiências que vão do estímulo sensorial ao afetivo. Esse modus operandi está nas exposições que Ana e Marques apresentam na Alfinete Galeria.

"Eu sou uma árvore com raízes muito antigas" é uma frase que Ana Miguel escreveu um dia em um caderno e que acabou por dar frutos. As ideias de raiz e antiguidade remetem às memórias exploradas pela artista na obra de mesmo nome. São memórias da vida, portanto pessoais, mas também da arte, logo, universais. As referências de Ana nunca são exclusivamente pescadas na intimidade e vêm sempre combinadas com a própria história da arte, seja ela visual, literária, cinematográfica e até musical.

No teto da galeria, Ana Miguel pendurou objetos de formas alongadas, construídos com lã, cujas extremidades podem chegar ao chão. A artista quer evocar a forma das raízes e lembrar que, onde quer que estejamos, haverá sempre um território ao qual estaremos atados. Completam as raízes em lã uma série de pequenas instalações chamadas de Fleurs de rocaille, uma brincadeira com o nome de um antigo perfume lançado pela Caron nos anos 1930. Escondido em uma pequena torre construída com bloquinhos e minicamas de bonecas, o objeto está rodeado de canteiros e pedrinhas coloridas que substituem as flores.

Completam o conjunto cenas de filme sobre As mil e uma noites. "São coisas que quase poderíamos chamar de démodé. Espero que o conjunto desperte narrativas e imagens particulares no espectador", avisa Ana Miguel. Os detalhes delicados do trabalho da artista nem sempre são indicativos de coisas fofinhas. Uma das marcas da produção de Ana é usar esse universo delicado para falar de temas duros que podem ir da perversão ao questionamento de verdades impostas pela história.

As raízes em lã de Ana Miguel

No trabalho de Milton Marques, o tempo ganha destaque em uma engenhoca que combina um punhado de areia dentro de um vidro e gira constantemente graças a um pequeno motor. Uma câmera e um projetor se encarregam de registrar e projetar no vidro cenas captadas em tempo real. Ao girar, a areia lembra o movimento de uma ampulheta, com a diferença de que não há início, meio e fim naquele tempo proposto por Marques.

É do presente e de sua precariedade que o artista quer falar. ;Esse trabalho busca a questão da impermanência, mas dentro de um estado mais constante;, explica Marques. Misturado à areia o artista inseriu objetos como o crânio de um urubu. São pequenas referências à passagem do tempo, mas também uma tentativa de trazer um elemento orgânico para o trabalho. A instalação não tem nome e já foi apresentada em uma exposição em Berlim, em 2008, e no extinto Museu Vale, em 2010.

O trabalho de Milton Marques sempre foi marcado pela ação, pela presença de um sujeito que interfere no tempo presente. Nos últimos anos, o artista se aproximou da filosofia budista e, talvez por isso, ele mesmo especula, esteja mais atento para reflexões sobre a passagem do tempo. ;Não que o budismo seja o elemento para produzir, mas traz essa sensação de estar presente durante o processo, enquanto ele está acontecendo. Às vezes, a gente planeja demais e acaba esquecendo dessa questão do tempo;, avalia.

Experiências fotográficas

Foram seis meses de aulas e conversas cujas temáticas giravam em torno da fotografia para chegar aos 17 trabalhos expostos em Subir, nada a temer, em cartaz na Galeria Ponto. Durante 24 semanas, um grupo de 15 fotógrafos, integrantes do Núcleo de Produção em Fotografia Contemporânea #6, trabalhou sob orientação do curador e artista Ralph Gehre para criar ensaios baseados em temáticas ou ideias que variavam da paisagem à documentação.

A engenhoca com areia e projeções de Milton Marques fala do tempo

[SAIBAMAIS]Entre os participantes há fotógrafos de todos os perfis. Com idades entre 19 e 50 anos, eles saíam em busca das imagens após ter as aulas semanais com Gehre, encontros durante os quais aprendiam mais sobre questões práticas e filosóficas que envolvem a técnica. ;Para a exposição, tentei encontrar uma linguagem em comum entre eles;, explica Gehre. Uma frase de Denise Camargo, uma das integrantes do grupo, que comentava o sonho de outra participante, falava em ;golpe como dissolução;. ;A partir dessa frase e da palavra golpe, que é muito presente na nossa vida agora, organizei a exposição. São muitos temas em comum, e dos assuntos recorrentes é a escada, a rampa, a perspectiva de ascensão na cidade, esse olhar para o céu, para o alto;, conta Gehre.

SERVIÇO

Subir, nada a temer
Exposição com fotografias de 15 fotógrafos. Visitação até 19 de outubro, de segunda a sexta, das 9h30 às 19h, e sábados, das 9h às 13h, na Galeria Ponto (SCRN 710/11 Bloco D Loja 23)


Eu sou uma árvore com raízes muito antigas
Exposição de Ana Miguel


Exposição de Milton Marques
Visitação até 21 de outubro, de quinta a sexta, das 14h30 às 18h, e sábado, das 15h às 20h, na Alfinete Galeria (CLN 103 bloco B loja 66)

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