;Eu já passei mais da metade da minha vida tocando;. Essa é a constatação feita pelo DJ Bhaskar, 26 anos. Filho dos DJs Swarup e Ekanta, fundadores do festival Universo Paralello, o goiano radicado em Brasília nasceu e cresceu entre as picapes e as batidas da música eletrônica.
Aos 12 anos, ele e o irmão gêmeo, o DJ Alok, faziam os próprios remixes e já seguiam os passos dos pais. Inicialmente, a discotecagem era uma brincadeira. ;Em nenhum momento nossos pais falaram que queriam que nós fossemos DJs. Estávamos de férias depois do Universo Paralello, eles montaram os equipamentos e fomos brincar. Trocamos o videogame por aquilo. Acabou que com 14 anos a coisa realmente ficou profissional, tinha cachê, contrato, tudo certinho;, lembra.
[SAIBAMAIS]O início na discotecagem ao lado do irmão foi dedicada ao psytrance. Em 2010, aos 19 anos, os irmãos Petrillo encerraram a dupla e cada um decidiu seguir sua trajetória na house music. ;Somos muito unidos independentemente de cada um estar num momento da carreira. Sempre estamos colaborando juntos;, completa. Os irmãos, inclusive, são representantes da mesma vertente, o brazilian bass, e tem parcerias como This city e Fuego, além de prometerem uma dobradinha na nova edição do Universo Paralello, que será em 27 de dezembro de 2017 e 3 de janeiro de 2018 na praia de Pratigi, na Bahia.
Em 1; de setembro, Bhaskar bateu mais de milhão de reproduções no Spotify com o remix da faixa Infinito particular, música de Marisa Monte regravada pelo cantor Silva. ;Foi muito legal fazer esse remix. Eu recebi essa música de um amigo e me identifiquei muito. Vi que ela tinha o BPM, que é a velocidade que eu costumo trabalhar e quis fazer o remix;, lembra. O processo de criação da nova versão demorou quase quatro meses. Mas a demora compensou.
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Apesar de ter conquistado reconhecimento nacional e mundial e ter uma agenda lotada de shows, Bhaskar não abre mão de morar em Brasília. A chegada à capital federal aconteceu aos 11 anos, após morar em Goiânia, Amsterdã e Alto Paraíso (GO). No quadradinho, fincou raízes em Águas Claras: ;É o lugar que considero minha casa. Eu me mudei quando não tinha nada e o metrô só funcionava na semana. Não quero sair por nada. Eu até brinco que a maioria dos DJs quando começam a crescer vão para São Paulo, mas eu só vou sair de Brasília no dia que a vida me cobrar mesmo. Por enquanto, estou conseguindo administrar bem.;
Entrevista // Bhaskar
Você acha que existe uma pressão na sua carreira por ser de uma família de DJs?
Isso é um dos pontos que é meio que um carma da coisa, que é positivo e negativo. Positivo porque eu sei que isso abre portas. Sei que tem gente que me conhece pela história da minha família. Mas negativo também porque existe sempre uma comparação. No caso dos meus pais, quando a gente começou, todo mundo vivia falando que eles faziam as músicas para gente. Mas mal sabiam as pessoas que tudo era muito de igual para igual. Com o Alok tem mais o fato de sermos irmãos gêmeos. Isso que é o que mais pega, porque todo mundo acaba comparando. Mas eu acho que no começo foi mais difícil. Hoje em dia, eu consegui conquistar um pouco mais da minha identidade.
Como foi crescer em meio ao festival Universo Paralello?
Aquilo é uma escola e acho que foi capaz de nos fazer amadurecer. Primeiro pelo contato com o todo tipo de gente e artistas. Segundo porque acho que o Universo Paralello é um lugar que abre bastante a sua cabeça em relação ao mundo. Você para de ter certos preconceitos e algumas opiniões formadas que te limitam muito.
Você e o Alok costumavam tocar no festival?
Tocamos todo ano desde 2004. Esse ano promete e estamos superansiosos. Não tocamos juntos no festival desde 2013. Nesse ano, vamos conseguir estar juntos no festival e vamos tocar de novo. Vai ser uma apresentação especial. Vamos tocar o som antigo e algumas releituras, com muita coisa nova e atual.
Como você define a sua sonoridade e quais são as suas influências?
Hoje em dia, acho que a música eletrônica está bem abrangente. Existem segmentações, mas acho que o segredo é inovar, misturar gêneros e tentar sair da curva. Digo que eu aprendo muito quando vou para fora, ouvindo outros DJs tocarem e tudo, porque isso me dá novas referências do que está acontecendo no mundo. Mas no meu dia a dia eu gosto de escutar música eletrônica, mas que não seja o que eu toco. Quando você abre um pouco a cabeça, tem novas ideias.
Os DJs brasileiros têm começado a lançar também músicas em português. Como tem sido isso?
Pelo menos duas ou três músicas que eu toco no meu set são em português. Essa é uma questão que agora o pessoal está com a cabeça mais aberta. Lembro que há quatro ou cinco anos era muito difícil sair um remix em português. Esse tipo de música tem uma abrangência maior. Querendo ou não, quando a pessoa decora a letra e sabe o que está falando, ela se identifica mais. É engraçado que quando eu toco uma música com vocal em português fora do país, também dá certo, pelo fato dessa coisa latina estar saindo para o mundo. Você olha o top 5 do Spotify e tem três músicas em espanhol. Essa barreira está sendo quebrada.
Muitos artistas acabam saindo de Brasília após atingir o sucesso, mas você é um dos que permanecem na cidade. Você acha que hoje é possível morar em Brasília e administrar a carreira?
Brasília é um dos melhores lugares para morar pelo fato de ser uma ponte área, aqui tem voos para o Norte e Nordeste que são diretos. A minha logística não é complicada. Minha agência é de São Paulo, então, acaba que 10 dias do mês eu passo naturalmente lá. Mas eu gosto de estar em Brasília pelo fato de estar com a minha família. Como passei boa parte da minha vida viajando, quando estou em casa quero estar próximo deles e curtir o tempo. É mais por esse tipo de escolha.