Rodrigo Barreto*
postado em 30/08/2017 07:30
O olhar humanista de Sebastião Salgado é exposto mais uma vez em Brasília. A mostra Êxodos retrata a história de pessoas que, pressionadas por circunstâncias históricas, deixaram para trás a cidade natal. ;Sebastião traz uma reflexão humanitária e desperta no público um olhar de identificação com todos. Ele é um dos maiores por retratar o sentimento humano de forma autêntica;, comenta a diretora responsável pela exposição Elaine Hazin.
À época que Sebastião Salgado estreou a exposição Êxodos, em 2000, o fotógrafo chegou a manifestar ao Correio o desejo em expor a obra em Brasília. Segundo ele, seria importante que os políticos da capital vissem tamanha realidade. Passados 17 anos, o sonho não vem completo ; das 300 fotografias da série, apenas 60 farão parte da exposição.
A mostra apresenta a fuga de pessoas em diferentes partes do mundo. Em geral, são migrantes, refugiados ou exilados que tentam escapar da pobreza, da repressão ou da guerra. Premiado internacionalmente, Salgado é considerado um dos maiores fotógrafos em atividade pelo teor social que carrega nas imagens.
Para realização de Êxodos, o fotógrafo percorreu 40 países durante seis anos e registrou a parte da humanidade que fez do êxodo uma opção de vida. ;Êxodos leva à compreensão da humanidade em trânsito, pessoas que abandonam a terra natal por necessidade política, social ou econômica;, explica Elaine.
Salgado assume que a raça humana é somente uma, independentemente da diferença de cores, línguas, culturas. Ainda defende que os sentimentos e as reações das pessoas são semelhantes. A mostra é dividida em cinco principais temas: África; Luta pela Terra; Refugiados e migrados; Megacidades e Retratos de crianças. Elaine ressalta: ;As fotos mostram o nosso próprio movimento da vida. Aquilo que nos motiva e faz ir além;.
Em meio a tragédias no continente africano, êxodo rural, conflito de terras e urbanização caótica na América Latina, Salgado também se dedica às imagens daquelas que, mesmo envoltas no caos, não perdem a esperança: as crianças. A responsável pelo projeto expográfico, Rose Lima, não esconde: ;Diante de tanta dor, caos e sofrimento, Salgado mostra as crianças como forma de representar a esperança de que dias melhores virão;.
Rose Lima acrescenta à exposição um grande quadro negro com o mapa múndi desenhado. A proposta é fazer com que o público interaja com a obra. ;As pessoas escrevem aquilo que as fizeram refletir e pensar;, explica. O impacto frente às obras carrega um olhar de questionamento, como opina Elaine: ;Existe uma beleza agridoce nas fotos de Sebastião Salgado que nos leva à reflexão;.
A coleção com 60 pôsteres que compõem essa exposição foi doada por Lélia Wanick e Sebastião Salgado ao Instituto Terra, ONG ambiental que o casal fundou em 1998, em Aimorés (MG). A entidade atua na recuperação da Mata Atlântica, na proteção de nascentes, na educação ambiental e na pesquisa científica aplicada, bem como na promoção do desenvolvimento sustentável do Vale do Rio Doce.
* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Êxodos
Caixa Cultural Brasília (SBS Q. 4); 30 de agosto a 29 de outubro. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Séries que compõem a exposição
Refugiados e Migrados
Diferentemente de migrantes que deixam os lares cheios de esperança, refugiados costumam fazê-lo por medo. A jornada é longa e perigosa, entretanto, são amparados pelo sonho, talvez inalcançável, de uma vida melhor.
África
Traumatizada pelo sofrimento e pelo desespero, a África é marcada pela pobreza, fome, corrupção e guerra. Trinta anos após a primeira visita de Sebastião Salgado, a situação não melhorou. .
Luta pela terra
A América Latina também é palco de migração de dezenas de milhões de camponeses. Exposição revela os que resistiram a esse padrão, indígenas da Amazônia, rebeldes mexicanos zapatistas e integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) no Brasil.
Megacidades
A movimentação de fuga do meio rural concedeu à Ásia um novo modelo urbano. As cidades se transformaram em pólos populacionais. Mesmo diante de condições de vida precárias, os migrantes ainda hoje acreditam que optaram por uma direção de vida melhor.
Retratos de crianças
Consideradas maiores vítimas, as crianças nascem em cenários de miséria e desastre. Sempre são as primeiras a sucumbir à fome e às doenças. Vulneráveis também emocionalmente, não entendem o porquê de ter de deixar a própria casa. A parte mais sensível da obra de Salgado traz o olhar daqueles que não perdem a esperança.