Carina Ávila descobriu na escrita cotidiana o melhor termômetro para experimentar sua realidade de intercambista na Espanha. A jornalista viveu em Sevilla, capital da Andaluzia, região sul da Espanha, por pouco mais de um ano e, da viagem, trouxe a transformação interna necessária para publicar seu primeiro livro: Touros, ;tapas; e meias pretas. A escrita começou despretensiosa, com uma série de quatro fatos inusitados sobre a cidade que experimentava aos poucos, publicados em suas redes sociais. Com uma escrita leve, divertida e informativa na medida certa, a autora transitou entre o jornalismo e a literatura para encontrar o ritmo da obra.
O som de seus pés caminhando pelos paralelepípedos do bairro de Santa Cruz e a memória que despertam de seu lugar preferido no mundo encerram o livro. As crônicas de uma jovem brasileira em Sevilha falam de tudo aquilo que o imaginário popular nos faz construir ao pensarmos em Espanha: violeiros que embalam o ritmo das ruas, dançarinos de flamenco, prédios coloridos, carruagens, ciganas e touradas.
A narrativa de Carina desperta em qualquer leitor que tenha vontade conhecer um pouco do mundo uma súbita vontade de embarcar no avião mais próximo. Sevilha se mostra como uma cidade encantada sob os olhos da autora, que na época dos relatos, era uma curiosa estudante que desbravava festas, restaurantes, ruas e cada canto colorido da cidade espanhola.
Carina conta que o pontapé inicial para o livro veio de um pequeno relato sobre quatro fatos curiosos no seu novo endereço. O relato fez sucesso na internet e logo virou uma série semanal apelidada como Quatro fatos inusitados em Sevilha. Em tom informal e com tom de pequenas crônicas, os textos de Carina chamaram a atenção de sites de viagem, amigos, turistas e brasileiros com vontade de viajar. ;O intercâmbio foi em 2014 e era para durar um semestre. Eu o prorroguei por um ano e um mês, estava apaixonada pela cidade. Quando voltei para Brasília tinha reunido mais de 600 fatos de Sevilla. Veio então a ideia de escrever sobre a experiência no meu TCC;, lembra a jornalista.
A experiência que começou na faculdade ganhou inúmeros leitores e, logo, transformou-se em sua primeira publicação. A ideia é que o livro de crônicas seja o primeiro passo para novas narrativas mas, por enquanto, Carina desfruta a boa recepção das crônicas que retratam o lado poético da cidade que tanto a encantou.
;Eu gosto muito de pegar situações que as pessoas não reparariam normalmente, que não prestaram tanta atenção, mas na verdade, são incríveis e podem se transformar em histórias maravilhosas;, destaca. Os quatro fatos que eram semanalmente publicados no facebook foram reescritos em formato de crônica, com a possibilidade de reunir o texto informativo às narrativas pessoais e cheias de sensações.
O estilo leve e despretensioso faz o livro de Carina ganhar um ritmo leve e confortável, cheio de imagens, cores e cheiros. É possível, com os relatos divertidos e detalhados, enxergar os paralelepípedos rodeados por prédios coloridos em ruas ocupadas por pedestres e bicicletas, ou sentir um pouco do primeiro escaldante calor andaluz que a autora enfrentou no verão. As descobertas cotidianas despertaram em Carina a sensação de amadurecimento, aprendizado e transformação, seja na cozinha ou no entendimento interno. ;Foi um ano de autoconhecimento e de conhecimento de mundo. Eu me senti transformada e guardo todas as memórias de lá com muito carinho;.
Apesar da dificuldade em escrever sobre sua volta ao Brasil, Carina finaliza o livro com duas crônicas sobre a despedida e a chegada. Em tom mais pessoal, a autora se permitiu escrever ali as sensações que vieram à tona com os últimos dias de viagem e a readaptação em terras brasileiras, quando algumas palavras em português ainda lhe fugiam da boca. As crônicas se reúnem como um belo apanhado de Sevilha e sua força cultural. Carina narra com leveza as descobertas de quem se permite conhecer outros mundos e a poesia que se mostra no cotidiano das cidades quando caminhamos de olhos bem abertos, atentos ao que cada dia puder mostrar.
;Eu gosto de comparar minha experiência em Sevilha com o filme As vantagens de ser invisível. Há uma cena em que o protagonista, Charlie, fala sobre os raros momentos nos quais nos sentimos infinitos. Eu era infinita em Sevilha todos os dias;. (Trecho do livro de Carina Ávila)
Serviço
Touros, ;tapas; e meias pretas, de Carina Ávila, lançamento no La Castellana (210 sul), hoje, às 19h.
Touros, ;Tapas; e meias pretas
Autora: Carina Ávila
Editora: Outubro Edições
Páginas: 188
Ano: 2017
Preço: R$ 35