Do encontro entre França e Brasil nasceram os dois espetáculos que estreiam quinta (24/8) e sexta-feira (25) no Cena Contemporânea. Construídos com base na dança e na música Tremor and more e Mutações ; Dança e percussão reúnem bailarinos e músicos que se encontraram durante oficinas ou parcerias resultantes de intercâmbios entre os dois países.
Holandês radicado na França, Herman Diephuis ouviu falar de Jorge Ferreira durante uma oficina realizada em Belo Horizonte e uma turnê como parte da programação do Movimento Internacional de Dança (MID), em Brasília. Era outubro de 2016 e uma amiga coreógrafa disse a Diephuis para ficar de olho no bailarino brasileiro. Meses depois, o holandês convidou Jorge para participar de oficinas em Paris. Em pouco tempo, a dupla se reencontrou em Belo Horizonte, desta vez, para criar um trabalho em conjunto.
[SAIBAMAIS]O resultado é Tremor and more, um solo embalado pela música Nutbush city limits, de Tina Turner, e uma espécie de aventura em direção à autodescoberta. Quando conheceu Ferreira, Diephuis ficou impressionado com a capacidade de mutação do bailarino. ;É alguém que compreende muito rapidamente, apesar de eu ter um universo muito diferente. E ele não tem medo. É muito jovem e, em termos de identidade de bailarino, ainda está procurando a si mesmo. Ele pode ter várias faces, masculina, feminina, engraçada, sério. E tem algo como se fosse constituído de várias camadas, com essa capacidade de se transformar, de mudar constantemente;, explica o holandês.
Tremor and more tem várias referências. A música de Tina Turner, uma canção dos anos 1970 que fala da vida em uma pequena cidade do Tennesse é a primeira delas. Desde o início, Diephuis sabia que queria trabalhar com essa sonoridade, mas ela foi manipulada para abraçar todo o espetáculo. Na música, a cantora fala do lugar de onde veio e da comunidade negra à qual pertence. ;No nível simbólico, algo me agradava muito. E, sobretudo, é uma música com um ritmo que se repete o tempo todo e a emoção que ela coloca é grande. Há algo que muda o tempo inteiro na música;, diz o coreógrafo, que fez uma ligação entre a história narrada na letra e a própria trajetória de Jorge Ferreira. ;É como se tomássemos a música como matéria e procedêssemos do mesmo jeito com Jorge: a dança é como um ritual no qual ele entra em uma espécie de transe de tremores e vai se transformando.; A coreografia foi criada em conjunto à medida que Diephuis apresentava a Ferreira uma série de imagens nas quais se inspirar, coisas que vão desde fotografias de ícones do rock até pinturas de Caravaggio, uma forma de estimular a versatilidade do bailarino.
Mutações ; Dança e percussão também brotou de um encontro casual. A bailarina paulista Gicia Amorim acompanhava o músico Joaquim Abreu durante uma apresentação em Paris ao lado do percussionista francês Thierry Miroglio quando conheceu Sophie Jégou. Em comum, as duas bailarinas tinham o coreógrafo norte-americano Merce Cunningham, com quem Gicia estudou e de quem Sophie propaga a técnica. No espetáculo de hoje, as duas dançam solos e duos sempre acompanhadas da percussão. Em Noite do cateto, Gicia explora as conexões entre os movimentos e a música de Luiz Carlos Cseko. ;A música me conduziu um pouco. Não costumo fazer trabalho narrativo, penso muito mais no movimento, meu foco é o movimento;, avisa a bailarina. Cseko se inspirou na capoeira da Angola para criar os acordes e Gicia foi buscar nessa dança algumas referências para o solo. Como há muitos movimentos no chão, ela criou passos em que o corpo se desenvolve em movimentos horizontais. ;Mas não é uma coisa literal;, avisa. As sonoridades ajudam a desconstruir os movimentos. Com Sophie, ela faz Mutações, coreografia que mescla solos e duos acompanhada pela música de Paulo Chagas.
Tremor and more
Com Jorge Ferreira. Coreografia: Herman Diephuis. Quinta, às 19h, no Teatro Funarte Plínio Marcos
Mutações ; Dança e percussão
Com Gicia Amorim e Sophie Jégou. Percussão: Thierry Miroglio e Joaquim Abreu. Sexta, às 21h, na Caixa Cultural