Você participa do evento em Brasília às vésperas do Dia dos Pais. Seu pai teve alguma influência na sua gastronomia. De que forma?
A influência do meu pai na minha profissão é enorme porque cozinha é família. A minha mãe cozinhava todos os dias e fazia o que meu pai gostava: os clássicos franceses. O gosto do meu pai me influenciou bastante e ele gostava de produtos frescos, jamais se comprava produtos enlatados em casa. Só frescos.
Fale um pouco sobre as três receitas que você vai preparar no evento. Duas têm ingredientes bem brasileiros, não?
São pratos que minha mãe fazia. Tem essa torta de batata que, para mim, é extraordinária, inesquecível. Cada vez que eu faço para meus amigos, eles pedem para fazer de novo, minha esposa também adora. É simples de fazer e é muito gostoso. A batata é o arroz e feijão da França, aparece todo dia na mesa.
Em entrevista recente, a Izabel, campeã de uma das temporadas do MasterChef, disse que, a conselho seu, não abriria um restaurante porque ;restaurante não dá dinheiro;. Por quê? Que outros conselhos você daria para quem quer ser chef?
Ser chef e ser dono de restaurante são coisas completamente diferentes. Você pode ser chef de cozinha, apaixonado pela profissão sem ser dono. Agora, para ser dono de restaurante a pessoa precisa ser muito preparada. Não é só gastronomia, é administração. Já passei por isso. Mas também não pode esquecer que restaurante é uma fábrica de problemas, não é uma fábrica de dinheiro, não.
Por falar nisso, vocês costumam dar muitas dicas e conselhos para os participantes do reality show?
Sim. Com mais de 30 anos que tenho dentro da cozinha posso oferecer meu saber a quem está dentro da cozinha. Mas isso se as pessoas pedem. Ninguém tem a obrigação de me ouvir.
Na tevê, tanto no MasterChef como no Pesadelo na cozinha, você critica pratos e modelos de negócio. Como você lida com as críticas que recebe?
É muito fácil. Cada vez que sou criticado (e acontece e vai acontecer mais vezes; não posso pensar que não) eu me pergunto se é justificado. E se é justificado, eu faço tudo para me retificar porque as críticas construtivas são sempre bem-vindas. Não posso pensar que sou o melhor. Todo dia a gente tem que pensar que tem que aprender. Todo dia a gente aprende uma coisa nova e é isso que faz a vida extraordinária.
Você parece ser bem exigente e muito duro nos programas. Mas muitas vezes se emociona e chora. Afinal, o Jacquin é duro ou emotivo?
Eu não sei se choro tanto. Mas eu tenho muita emoção. Eu sou duro e exigente com eles, mas sou duro e exigente comigo mesmo. Mas é claro que tem emoção. A cozinha é um dos lugares onde tem mais emoção. A gente vende emoção e recebe emoção. Não sei se sou chorão ou se sou durão, eu sei que sou do jeito que sou, eu não faço papel de nada, não faço personagem. Eu sou desse jeito e não pretendo mudar.
Você nasceu na França e veio para cá. A gastronomia brasileira ainda perde de goleada da francesa? Em que pontos a nossa é melhor?
Eu nasci na França e tem 22 anos que estou no Brasil. Me naturalizei brasileiro e você está me perguntando qual é a melhor cozinha: a brasileira ou a francesa! Que pergunta é essa? Tem dois tipos de comida, eu sempre falo isso: a boa e a ruim. O mais importante é que seja boa e o Brasil tem muito futuro na gastronomia e tem uma história muito grande. Pode ser que um dia ela vem a ser a número um do mundo. Por que não?
Você chegou a trabalhar em um restaurante especializado em foie gras. Como vê a polêmica envolvendo o ingrediente?
Eu trabalhei num restaurante em Paris que fazia 2,5 toneladas de foie gras por ano. Na época não tinha polêmica de nada. A polêmica de hoje é para as pessoas que fazem (polêmica), não é para os outros. Eu não faço. O foie gras faz parte da minha cultura, faz parte da minha história. Mas hoje eu realmente como bem pouco foie gras, muito pouco.
De vez em quando um prato ;entra na moda;. Aconteceu com as creperias na década passada. Essas releituras de uma receita francesa te incomodam?
A moda vem e volta, vem e volta; Não só na gastronomia, mas na moda, na cultura, para carros. Tudo! A gastronomia faz parte da cultura das pessoas e do dia a dia. A moda não atrapalha em nada, ao contrário. É bom voltar atrás e poder adaptar ao dia de hoje. Eu sou a favor das releituras completamente.
Ainda este ano vocês vão comandar a segunda temporada do MasterChef profissionais. De qual formato (profissionais, kids e amadores) você mais gosta? Qual deles mais te surpreende?
Eu fiz os três tipos de MasterChef: amador, profissionais e kids. Os três têm vantagens muito grandes e são diferentes entre si. As crianças são uma coisa extraordinária porque elas são o futuro, elas é que vão pegar nosso lugar ali na frente. E é muito legal ver criança interessada, apaixonada pela cozinha, uma coisa que estava reservada para os velhos. Nos amadores, o extraordinário é que eles só querem agradar a família deles, as pessoas que eles amam. E os profissionais querem lutar para ser reconhecidos. Então cada um tem seu valor. Eu gosto dos três. Eu prefiro um dos três, mas não vou falar.
Com tantas temporadas, o programa fica quase o ano todo no ar. Como fazer para não cansar?
Essa pergunta não é para mim. É para as pessoas que assistem pela tevê. Como fazer para não cansar? Eu não canso porque eu gosto do que faço. Se não gostasse, não fazia. Eu gosto dessa vida nova, na tevê. E ninguém cansa porque a audiência é genial. E não cansa porque a equipe é genial, o diretor é cheio de surpresas, de novidade. Cada MasterChef é um MasterChef diferente e cada terça-feira é uma terça-feira que tem uma emoção e uma surpresa. Isso é criatividade.
O MasterChef é um sucesso nas redes sociais, sendo assunto mais comentado no twitter com frequência. Como é a sua relação com as redes sociais?
Não é só com o MasterChef. A gastronomia é uma das coisas que mais movimentam o Twitter e as redes sociais. Eu acompanho pelo Twitter e é muito interessante porque na hora você já sabe se as pessoas gostaram ou não. Antigamente precisava esperar acabar. Agora não. Isso é genial, não é?